Der Spiegel
A agência Moody's reduziu a alta classificação de crédito da França na segunda-feira (19), tornando-se apenas a instituição mais recente a lançar dúvidas sobre a capacidade de o país reformar seu mercado de trabalho inflexível e impulsionar o crescimento. O presidente francês François Hollande prometeu mudança, mas os mercados ainda precisam ser convencidos.
Ocorre que os eleitores franceses não são os únicos que começaram a duvidar do presidente François Hollande. Na noite de segunda-feira (19), a agência de classificação Moody's também expressou preocupação sobre o caminho no qual a França se encontra atualmente, à medida que tenta navegar através da intransigente crise do euro. A Moody's anunciou que estava rebaixando dívida francesa em um ponto, tornando-se a segunda agência de classificação depois da Standard & Poor a revogar a mais alta classificação do país, a AAA. Como a S&P, a perspectiva de longo prazo da Moody's sobre a dívida francesa é negativa.
A medida destaca a preocupação de que a França, em vez da Espanha ou da Itália, pode ser o verdadeiro perigo pairando sobre a zona do euro. E preocupações de que Hollande, que não mostrou muito entusiasmo em realizar reformas econômicas de amplo alcance, talvez não tenha o apoio político necessário para modernizar a economia do país. De fato, uma pesquisa divulgada pelo jornal “Le Journal du Dimanche” no domingo indicou que a popularidade de Hollande caiu por seis meses consecutivos e está em apenas 41%.
Em rebaixar a dívida francesa, a Moody enfatizou uma série de desafios que a economia do país enfrenta, concentrando-se especificamente no que a agência chama de "múltiplos desafios estruturais, incluindo a sua perda gradual e contínua de competitividade e a já antiga rigidez dos mercados de trabalho, bens e serviços.”
Além disso, a Moody's apontou para o lento crescimento econômico da França. A economia registrou uma aumento surpreendente de 0,2% no terceiro trimestre de 2012, mas o panorama continua sombrio, e o Fundo Monetário Internacional prevê um crescimento mínimo no próximo ano, quase insuficiente para aliviar o país de seu persistente déficit orçamentário. Hollande se comprometeu a reduzir o déficit de seu nível atual de 4,5% para 3% no próximo ano e neste outono aprovou o que foi descrito como o orçamento mais austero da França em 30 anos. Mas seu governo também estimou um crescimento de 0,8% em 2013, muito acima do que a maioria dos especialistas esperam, fazendo parecer improvável que ele consiga atingir suas metas orçamentárias.
“Otimista demais”
Os analistas da Moody's também duvidam das expectativas de crescimento do governo francês. "A agência de classificação considera o crescimento de 0,8% do PIB em 2013 e de 2,0% a partir de 2014 excessivamente otimistas", escreveu a agência em seu relatório.
Mais relevantes, no entanto, são os problemas estruturais que o país enfrenta. Num relatório especial de sua edição atual, a revista “The Economist” destacou muitos deles. Em particular, a revista observou que o setor público do país está inflado, consumindo cerca de 57% do produto interno bruto nacional da França, e a dívida subiu rapidamente nas últimas décadas de 22% do PIB em 1981 para mais de 90% hoje.
A Moody's ecoou a revista, destacando vários fatores de rigidez do mercado de trabalho francês para justificar seu rebaixamento. Ele é "caracterizado por um alto grau de segmentação, como resultado de uma significativa legislação de proteção do emprego", escreveu a agência classificação. Combinado a outros fatores, o resultado é a falta de inovação e competitividade e um desemprego persistentemente alto.
Hollande observou a necessidade de impulsionar o crescimento e de fato tem sido um dos principais críticos do foco na austeridade defendido pela chanceler alemã Angela Merkel como forma de combater a crise do euro. Mas o presidente francês não fez da reforma do mercado de trabalho uma prioridade. Embora tenha prometido fazer avançar medidas para melhorar a flexibilidade, também aprovou uma série de novas leis que parecem contrariar essa promessa. Além de aumentar os impostos dos maiores salários do país e das empresas, ele também empurrou um aumento do salário mínimo e reverteu uma proposta para aumentar a idade de aposentadoria.
Histórico ruim
Até mesmo o Fundo Monetário Internacional está preocupado. Num relatório divulgado no início deste mês, o FMI observou que “a perda de competitividade da França é anterior à crise, mas os riscos se tornam ainda mais graves se a economia francesa não se adaptar junto com seus principais parceiros comerciais na Europa, sobretudo na Itália e Espanha que, seguindo a Alemanha, estão agora empenhados em reformas profundas de seus mercados de trabalho e de serviços.”
Em resposta ao rebaixamento da Moody's, o governo de Hollande pareceu culpar o ex-presidente Nicolas Sarkozy. O ministro das Finanças francês Pierre Moscovici disse na segunda-feira à noite que o rebaixamento reflete a falta de ação por parte do governo anterior do país. Na terça-feira, ele foi ainda mais longe. "A mudança de classificação não coloca em dúvida os fundamentos econômicos do nosso país, os esforços empreendidos pelo governo ou a nossa credibilidade", disse.
É uma negação radical e serve para ocultar o fato de que, na verdade, a Moody's parece ter pouca fé de que a França mude rapidamente de direção. "A Moody's reconhece que o governo anunciou recentemente medidas destinadas a resolver alguns dos desafios estruturais (que o país enfrenta)", escreveu agência de classificação. "No entanto, é pouco provável que só essas medidas tenham alcance suficiente para restaurar a competitividade. E a Moody's observa que o histórico de sucessivos governos franceses foi bem ruim em termos de efetivar essas medidas nas duas últimas décadas.”
Tradutor: Eloise De Vylder
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