domingo, 25 de novembro de 2012

Planalto manda exonerar todos os indiciados pela PF
Chefe de gabinete da Presidência em SP, Rosemary Noronha perde o cargo
Weber Holanda, da AGU, também deixa a função; eles são suspeitos de envolvimento com organização criminosa
VALDO CRUZ/MATHEUS LEITÃO/LEANDRO COLON - FSP
O Palácio do Planalto anunciou ontem punições para todos os servidores indiciados na Operação Porto Seguro da Polícia Federal (PF), inclusive a chefe de gabinete da Presidência da República em São Paulo, Rosemary Novoa de Noronha, conhecida como Rose.
Todos que ocupam cargo de confiança serão exonerados. Os funcionários de carreira são afastados, responderão sindicância e poderão ser demitidos. Os demais saem imediatamente.
Indiciada por suspeita de envolvimento numa organização criminosa infiltrada no governo para obtenção de pareceres técnicos fraudulentos, Rose será exonerada do cargo de confiança que ocupava e deixará automaticamente o governo. Ela não foi encontrada para comentar.
A decisão foi divulgada por meio de nota, após reunião no Palácio do Alvorada realizada na manhã de ontem pela presidente Dilma Rousseff com assessores próximos.
Outro que deixará o cargo é José Weber Holanda, braço direito do ministro Luís Inácio Adams na AGU (Advocacia-Geral da União). Ele também não foi encontrado ontem para comentar.
Segundo a Folha apurou, Dilma avaliou com sua equipe ontem pela manhã que o caso era "grave" e exigia resposta rápida. Os atingidos estavam sendo comunicados no início da tarde das demissões.
Após o governo tomar sua decisão, Rose decidiu também encaminhar à Presidência seu pedido de demissão.
Ao todo, foram indiciadas 18 pessoas na operação da PF, sendo que pelo menos oito são servidores públicos.
O Palácio do Planalto informou ainda que todos os órgãos atingidos terão de abrir processo de sindicância.
Auxiliares presidenciais disseram à Folha que a permanência de Rose no governo, onde chegou por indicação do ex-presidente Lula, ficou "insustentável".
Segundo a PF, a funcionária pública é suspeita de corrupção, tráfico de influência e falsidade ideológica.
Na sexta-feira, a PF apreendeu documentos e copiou arquivos eletrônicos do escritório da Presidência em São Paulo, onde ela trabalha.
A servidora teria exigido vantagens financeiras, inclusive o pagamento de uma cirurgia plástica, em troca de favorecer o esquema dentro do governo (leia na pág. A6).
Os pedidos eram feitos a empresários pelos dois irmãos envolvidos no esquema, Paulo e Rubens Vieira, indicados por Rose para cargos no governo. O primeiro é diretor da ANA (Agência Nacional de Águas) e o segundo, da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil).
A Polícia Federal também apreendeu documentos no gabinete dos dois, que foram presos na operação deflagrada anteontem.
HISTÓRICO
O esquema foi descoberto após um ex-funcionário do TCU (Tribunal de Contas da União) revelar à PF que recebeu R$ 100 mil para favorecer uma empresa com um parecer técnico favorável. (leia detalhes ao lado). O processo corre sob segredo de Justiça na 5ª Vara Federal de São Paulo.
Rose chefiava o gabinete da Presidência em São Paulo desde o governo Lula. Costumava acompanhá-lo em viagens internacionais. Ela também foi assessora do ex-ministro José Dirceu por 12 anos.
O indiciamento de Rose, que conheceu Lula nos anos 1990, preocupa o governo pois o gabinete da Presidência em São Paulo é conhecido como uma central de pedidos de toda ordem da parte de empresários e políticos.
A indicação de Paulo Vieira para o governo, articulada por Rose, chegou a ser rejeitada pelo plenário do Senado em 2009 em meio a uma crise entre o PT e o PMDB.
No ano seguinte, porém, uma manobra coordenada pelo senador José Sarney (PMDB-AP) fez com que o nome dele fosse aprovado.

Nenhum comentário: