domingo, 6 de julho de 2014

Colecionadores do norueguês Munch exibem vida do pintor após internação
Geraldine Fabrikant - NYT
AFP PHOTO / KATRINE
"O Grito", do pintor norueguês Edvard Munch (1863-1944), é um de seus trabalhos mais conhecidos "O Grito", do pintor norueguês Edvard Munch (1863-1944), é um de seus trabalhos mais conhecidos
Quase desde o início, minha ida a Oslo no verão passado se tornou uma viagem de descoberta sobre a vida e as aflições do maior pintor norueguês do século 20, Edvard Munch.
"O Grito" e outras obras sobre almas isoladas e torturadas que Munch criou em sua juventude são as mais conhecidas pelos admiradores. Mas, em 1908, as emoções fortes que essas obras refletem haviam pesado sobre o artista. Evard Munch estava sofrendo de alcoolismo severo e depressão, e o pintor de 45 anos, cuja visão artística tinha capturado a angústia e a alienação de uma geração, deu entrada em uma clínica para os nervos em Copenhague, na Dinamarca.
Munch se submeteu a oito meses de tratamento, que incluiu uma leve terapia de eletrochoque, sono e massagens. Sua mente de fato ficou limpa. Depois do tratamento, ele passou a pintar paisagens, cenas de banhos, retratos e obras monumentais, incluindo a série para a Universidade de Oslo usando uma paleta de cores bem mais viva do que a que caracterizava seus trabalhos anteriores.
Acontecimentos recentes ofereceram novos 'insights' sobre o período na vida de Munch que se seguiu ao tempo que ele passou na clínica em Copenhague. No ano passado, pela primeira vez, o Museu Munch em Oslo passou a oferecer aos visitantes a possibilidade de saber como o artista viveu nos anos em que se distanciou da vida intelectual agitada e intensa de Oslo.
Embora a casa de Edvard Munch em Ekely, a propriedade a cerca de meia hora a nordeste de Oslo que o artista comprou em 1916, tenha sido destruída há muito tempo, o estúdio em que ele trabalhava está aberto agora.
E no verão passado, Petter Olsen, colecionador norueguês que vendeu "O Grito" na Sotheby's por US$ 120 milhões, abriu informalmente a Nedre Ramme, a propriedade que o artista comprou em 1910 pouco depois de deixar a clínica em Copenhague. Olsen espera abrir um museu, que ficará próximo à casa, no ano que vem. Na época de Munch, Nedre Ramme ficava a duas horas de trem de Oslo até Hvitsten, uma área de frente para o fiorde Oslo. Lá, o vizinho mais próximo de Munch era o pai de Petter Olsen, Thomas Olsen, um abastado dono de embarcações que ficou amigo do artista e se tornou um de seus colecionadores mais entusiasmados.
O local ressalta o quanto Munch buscou se retirar física e psicologicamente de Oslo. 
Kyrre Lien/The New York Times
Estúdio do pintor norueguês Edvard Munch pode ser visitado em Ekely (Noruega)
Embora não tivesse o glamour da localização de Nedre Ramme, Ekely provavelmente atraía Munch porque era mais próxima de Oslo. À medida que se fortaleceu psicologicamente, ele foi perdendo o medo da cidade, na opinião de Ina Johannesen, coautora de "Edvard Munch: 50 Imagens da Coleção Gunderson".
Tanto Ramme e Ekely representam um estilo de vida totalmente contrastante com a infância pobre de Munch, bem como seus primeiros anos de profissão, quando se mudou de casa em casa, saltando de Oslo para Berlim e Paris. Suas primeiras obras tinham a intenção de "tentar dissecar almas", como ele escreveu em seu diário. Naquela época, em sua juventude, ele parecia indiferente à beleza que, para ele, exemplificava os impressionistas. Para ele, as imagens deles podiam parecer muito preocupadas com a carapaça externa da natureza, enquanto ignoravam a alma.
Depois da cura em Copenhague, o artista, com uma mente mais calma, encantou-se com as vistas e paisagens tanto de Ekely quanto de Ramme. Ele nunca deixou de criar algumas das imagens que assombram tanto os expectadores de hoje, porque os demônios nunca desapareceram completamente. "Sem ansiedade e demônios, sou um barco sem leme", escreveu para um amigo. "Meus sofrimentos são parte de mim e de minha arte".
Mas esses sofrimentos de certa forma diminuíram, e os anos após a clínica trouxeram a ele novas perspectivas e foco, que resultaram em uma abundância de novas peças. Elas também se mostraram uma bênção para a Noruega.
Durante seus anos em Ekely, Munch havia escondido mais de mil pinturas, quase 4.500 desenhos e milhares de gravuras. Ele as doou para a cidade de Oslo, onde as obras se tornaram a coleção do Museu Munch. Separadamente, o Museu Nacional de Arte, Arquitetura e Design, também em Oslo, há muito tempo compra as obras dele. Petter Olsen planeja mostrar partes de sua coleção, bem como emprestar outras obras de Munch, para exibi-las em Ramme.
Para os entusiastas de Munch, as oportunidades de deleitar-se com a obra do artista são de fato riquíssimas.
Tradutor: Eloise De Vylder

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