sábado, 26 de julho de 2014

Comparar o que faz Israel hoje com o Holocausto é simplesmente absurdo!
Rodrigo Constantino - VEJA

“Viajamos até aqui nos vagões chumbados; vimos partir rumo ao nada nossas mulheres e nossas crianças; nós, feito escravos, marchamos cem vezes, ida e volta, para a nossa fadiga, apagados na alma antes que pela morte anônima. Não voltaremos. Ninguém deve sair daqui; poderia levar ao mundo, junto com a marca gravada na carne, a má nova daquilo que, em Auschwitz, o homem chegou a fazer do homem.” (Primo Levi, “É isto um homem?”)
As palavras importam. Devemos ter cuidado ao usá-las. Por exemplo: quando alguém chama de “escravo” um trabalhador rural que recebe salário acima do mínimo, que pode ir embora quando quiser pois ninguém o força a permanecer ali, que jamais levou uma chibatada de um capataz qualquer, só porque um dos mais de 200 itens da legislação trabalhista não é atendido – talvez a espessura do seu colchão – isso não parece ofensivo com os verdadeiros escravos do passado?
Pois bem: quando acusam Israel de praticar hoje aquilo de que os próprios judeus foram vítimas nos tempos do nazismo, isso é uma grave ofensa a todas as vítimas do Holocausto e aos judeus em geral. É fruto ou de muita ignorância ou pura má-fé, parida pelo ódio antissemita. As duas coisas são completamente diferentes; simplesmente não há como sequer colocá-las em categorias próximas.
Para começo de conversa, havia a intenção: os nazistas deliberadamente pretendiam aniquilar os judeus, apenas por serem judeus. Quem fala em genocídio ou “higienização” na Faixa de Gaza não sabe do que está falando. Os soldados israelenses jamais demonstraram qualquer desejo de eliminar palestinos apenas por serem palestinos.
Pelo contrário: há toda a evidência de que fazem o máximo possível para evitar a morte de civis inocentes, chegando inclusive a avisar com antecedência dos ataques que visam à destruição dos armamentos em posse dos terroristas do Hamas, que cavaram dezenas de túneis na região e instalaram armas perto de escolas e hospitais. Como disse o professor Jacob Dolinger em artigo publicado hoje no GLOBO:
Gostaria que nosso chanceler explicasse como ele mede “proporcionalidade” no campo bélico. Saberia ele que se Israel enviasse o mesmo número de mísseis que o Hamas lançou sobre Israel nos últimos anos, Gaza estaria totalmente destruída?
Sabe ele os cuidados que Israel tomou na semana passada avisando centenas de milhares de palestinos para abandonarem suas residências, possibilitando com isso que o Hamas soubesse exatamente onde o Exército israelense se preparava para atacar e causando assim quedas que não ocorreriam se os ataques fossem realizados de surpresa? Ou seja, Israel colocou em perigo seus soldados, sacrificando alguns deles, no esforço de minorar ao máximo as vítimas civis do inimigo.
Têm Sua Excelência e a presidente que ele serve a menor noção da barbárie dos dirigentes de Hamas forçando seu povo a permanecer em casa, enviando mísseis de hospitais e de áreas residenciais, para conseguir que a reação defensiva israelense cause vítimas civis entre o povo palestino?
Aliás, conhece o ministro alguma guerra que não causou vítimas civis? E que sempre houve desproporcionalidade entre o número de vítimas das partes envolvidas no conflito?
Não compreende o chefe do Itamaraty que em Israel praticamente não caem vítimas civis porque o Estado protege seus cidadãos, com o mais sofisticado sistema de alarme e refúgio?
Não está evidente aos olhos do governo brasileiro que esta, como as anteriores guerras entre Israel e Hamas, foi provocada pelos terroristas fanáticos que governam a Faixa de Gaza como déspotas medievais?
Como ignorar esses fatos? Alguém tem alguma dúvida de que se Israel realmente quisesse exterminar palestinos a esmo o país seria capaz disso amanhã? E alguém acha que o Hamas, se tivesse o mesmo poder, deixaria de utilizá-lo? Por que Israel sempre entra em guerra para se defender?
Se há alguma coisa semelhante ao nazismo na região é justamente o desejo patológico que muitos palestinos alimentam de eliminar os judeus do mapa. Não por acaso Hitler encontrou em muitos grupos islâmicos aliados importantes para a sua “solução final”: ambos, nazistas e radicais islâmicos, tinham o mesmo objetivo, que era exterminar os judeus. Estes, por sua vez, jamais demonstraram interesse algum em exterminar palestinos ou muçulmanos.
Claro que em uma guerra será inevitável a perda de civis inocentes. É uma droga que seja assim. É uma lástima. Muitos têm inclusive o direito legítimo de criticar e condenar o governo de Israel, julgando que a reação é inadequada e que coloca em risco vidas demais.
Esses deveriam, ao menos, tentar oferecer alguma alternativa realista de como Israel pode se defender do terrorismo do Hamas, que lança mísseis o tempo todo em sua população. Mas acusar Israel de deliberadamente almejar a morte dessas pessoas por questões étnicas é uma infâmia, uma mentira grotesca, que expõe o antissemitismo de quem a profere.
Os judeus sob o nazismo foram transformados em cães desalmados, em animais sem honra e dignidade. Quem quiser um bom relato do dia a dia dos campos de concentração, sem sensacionalismo, recomendo a leitura de É isto um homem?, do italiano Primo Levi. É impossível acabar a leitura e ainda insistir em uma comparação com a Faixa de Gaza hoje, acusando Israel de praticar aquilo que sofreu antes. Esdrúxulo demais!
Israel permite inclusive que palestinos vivam e trabalhem em seu território, tentando garantir sua segurança. O maior inimigo dos palestinos de bem não são os israelenses, mas os palestinos terroristas, os islâmicos radicais. Como pode alguém em sã consciência e conhecedor de um mínimo de história falar que os judeus é que pretendem um Holocausto invertido hoje? Como não sentem vergonha de uma acusação tão vil dessas?
Agora mesmo Israel aceitou a trégua temporária proposta, mas o Hamas continuou lançando ataques sobre israelenses. Como negociar com um grupo terrorista que não quer nada além de sua destruição completa, que não mede esforços para isso, que usa as próprias crianças como escudo? Como alguém pode ter a cara de pau de inverter tudo e acusar os judeus de desejarem o extermínio de outro povo, quando são justamente eles que não têm a permissão de simplesmente existir ali?
Que grupos radicais de esquerda, encantados com a “causa palestina” e alimentados pelo antissemitismo disfarçado de anti-sionismo, adotem esse discurso odioso, tudo bem; estamos acostumados e já vimos até deputados do PSOL queimando a bandeira de Israel. Mas que o próprio governo brasileiro acabe, na figura asquerosa do “chanceler de fato” Marco Aurélio Garcia, fazendo a mesma coisa, acusando Israel de genocídio deliberado, isso é abjeto.
Nosso governo foi elogiado por ninguém menos do que o próprio Hamas, grupo terrorista da pior espécie. Só isso deveria ser sinal de alerta, um aviso de que a postura não está adequada, que o Itamaraty errou feio o alvo. Mas o que esperar de um governo que se alinhou à escória da humanidade, que sempre afagou os piores tiranos do mundo?

Nenhum comentário: