Rodrigo Constantino - VEJA
“Viajamos até aqui nos vagões
chumbados; vimos partir rumo ao nada nossas mulheres e nossas crianças;
nós, feito escravos, marchamos cem vezes, ida e volta, para a nossa
fadiga, apagados na alma antes que pela morte anônima. Não voltaremos.
Ninguém deve sair daqui; poderia levar ao mundo, junto com a marca
gravada na carne, a má nova daquilo que, em Auschwitz, o homem chegou a
fazer do homem.” (Primo Levi, “É isto um homem?”)
As palavras importam. Devemos ter cuidado
ao usá-las. Por exemplo: quando alguém chama de “escravo” um
trabalhador rural que recebe salário acima do mínimo, que pode ir embora
quando quiser pois ninguém o força a permanecer ali, que jamais levou
uma chibatada de um capataz qualquer, só porque um dos mais de 200 itens
da legislação trabalhista não é atendido – talvez a espessura do seu
colchão – isso não parece ofensivo com os verdadeiros escravos do passado?
Pois bem: quando acusam Israel de
praticar hoje aquilo de que os próprios judeus foram vítimas nos tempos
do nazismo, isso é uma grave ofensa a todas as vítimas do Holocausto e
aos judeus em geral. É fruto ou de muita ignorância ou pura má-fé,
parida pelo ódio antissemita. As duas coisas são completamente
diferentes; simplesmente não há como sequer colocá-las em categorias
próximas.
Para começo de conversa, havia a intenção: os nazistas deliberadamente pretendiam aniquilar os judeus, apenas por serem judeus.
Quem fala em genocídio ou “higienização” na Faixa de Gaza não sabe do
que está falando. Os soldados israelenses jamais demonstraram qualquer
desejo de eliminar palestinos apenas por serem palestinos.
Pelo contrário: há toda a evidência de
que fazem o máximo possível para evitar a morte de civis inocentes,
chegando inclusive a avisar com antecedência dos ataques que visam à
destruição dos armamentos em posse dos terroristas do Hamas, que cavaram
dezenas de túneis na região e instalaram armas perto de escolas e
hospitais. Como disse o professor Jacob Dolinger em artigo publicado hoje no GLOBO:
Gostaria que nosso chanceler explicasse
como ele mede “proporcionalidade” no campo bélico. Saberia ele que se
Israel enviasse o mesmo número de mísseis que o Hamas lançou sobre
Israel nos últimos anos, Gaza estaria totalmente destruída?Sabe ele os cuidados que Israel tomou na semana passada avisando centenas de milhares de palestinos para abandonarem suas residências, possibilitando com isso que o Hamas soubesse exatamente onde o Exército israelense se preparava para atacar e causando assim quedas que não ocorreriam se os ataques fossem realizados de surpresa? Ou seja, Israel colocou em perigo seus soldados, sacrificando alguns deles, no esforço de minorar ao máximo as vítimas civis do inimigo.
Têm Sua
Excelência e a presidente que ele serve a menor noção da barbárie dos
dirigentes de Hamas forçando seu povo a permanecer em casa, enviando
mísseis de hospitais e de áreas residenciais, para conseguir que a
reação defensiva israelense cause vítimas civis entre o povo palestino?
Aliás,
conhece o ministro alguma guerra que não causou vítimas civis? E que
sempre houve desproporcionalidade entre o número de vítimas das partes
envolvidas no conflito?
Não
compreende o chefe do Itamaraty que em Israel praticamente não caem
vítimas civis porque o Estado protege seus cidadãos, com o mais
sofisticado sistema de alarme e refúgio?
Não está
evidente aos olhos do governo brasileiro que esta, como as anteriores
guerras entre Israel e Hamas, foi provocada pelos terroristas fanáticos
que governam a Faixa de Gaza como déspotas medievais?
Como ignorar esses fatos? Alguém tem
alguma dúvida de que se Israel realmente quisesse exterminar palestinos a
esmo o país seria capaz disso amanhã? E alguém acha que o Hamas, se
tivesse o mesmo poder, deixaria de utilizá-lo? Por que Israel sempre
entra em guerra para se defender?
Se há alguma coisa semelhante ao nazismo
na região é justamente o desejo patológico que muitos palestinos
alimentam de eliminar os judeus do mapa. Não por acaso Hitler encontrou
em muitos grupos islâmicos aliados importantes para a sua “solução
final”: ambos, nazistas e radicais islâmicos, tinham o mesmo objetivo,
que era exterminar os judeus. Estes, por sua vez, jamais demonstraram
interesse algum em exterminar palestinos ou muçulmanos.
Claro que em uma guerra será inevitável a
perda de civis inocentes. É uma droga que seja assim. É uma lástima.
Muitos têm inclusive o direito legítimo de criticar e condenar o governo
de Israel, julgando que a reação é inadequada e que coloca em risco
vidas demais.
Esses deveriam, ao menos, tentar oferecer
alguma alternativa realista de como Israel pode se defender do
terrorismo do Hamas, que lança mísseis o tempo todo em sua população.
Mas acusar Israel de deliberadamente almejar a morte dessas pessoas por
questões étnicas é uma infâmia, uma mentira grotesca, que expõe o
antissemitismo de quem a profere.
Os judeus sob o nazismo foram
transformados em cães desalmados, em animais sem honra e dignidade. Quem
quiser um bom relato do dia a dia dos campos de concentração, sem
sensacionalismo, recomendo a leitura de É isto um homem?, do
italiano Primo Levi. É impossível acabar a leitura e ainda insistir em
uma comparação com a Faixa de Gaza hoje, acusando Israel de praticar
aquilo que sofreu antes. Esdrúxulo demais!
Israel permite inclusive que palestinos
vivam e trabalhem em seu território, tentando garantir sua segurança. O
maior inimigo dos palestinos de bem não são os israelenses, mas os
palestinos terroristas, os islâmicos radicais. Como pode alguém em sã
consciência e conhecedor de um mínimo de história falar que os judeus é
que pretendem um Holocausto invertido hoje? Como não sentem vergonha de
uma acusação tão vil dessas?
Agora mesmo Israel aceitou
a trégua temporária proposta, mas o Hamas continuou lançando ataques
sobre israelenses. Como negociar com um grupo terrorista que não quer
nada além de sua destruição completa, que não mede esforços para isso,
que usa as próprias crianças como escudo? Como alguém pode ter a cara de
pau de inverter tudo e acusar os judeus de desejarem o extermínio de
outro povo, quando são justamente eles que não têm a permissão de
simplesmente existir ali?
Que grupos radicais de esquerda,
encantados com a “causa palestina” e alimentados pelo antissemitismo
disfarçado de anti-sionismo, adotem esse discurso odioso, tudo bem;
estamos acostumados e já vimos até deputados do PSOL queimando a bandeira de Israel.
Mas que o próprio governo brasileiro acabe, na figura asquerosa do
“chanceler de fato” Marco Aurélio Garcia, fazendo a mesma coisa,
acusando Israel de genocídio deliberado, isso é abjeto.
Nosso governo foi elogiado
por ninguém menos do que o próprio Hamas, grupo terrorista da pior
espécie. Só isso deveria ser sinal de alerta, um aviso de que a postura
não está adequada, que o Itamaraty errou feio o alvo. Mas o que esperar
de um governo que se alinhou à escória da humanidade, que sempre afagou
os piores tiranos do mundo?
Nenhum comentário:
Postar um comentário