Depois da Copa
João Bosco Rabello - O Estado de S.Paulo
No momento em que a mais recente pesquisa eleitoral registra
uma espécie de hiato futebolístico, com os índices relativamente
estabilizados, uma outra aferição mantém a economia como alto risco
eleitoral para o governo.
Enquanto a presidente
Dilma permanece em patamar de aprovação que confirma a realização de um
segundo turno, pesquisa da Fundação Getúlio Vargas mostra que o
consumidor estima uma inflação de 7,5%, acima do teto da meta, maior que
a previsão do próprio mercado, que é de 6%.
O dado
inflacionário puxa outras percepções que constam das consultas feitas
pelos partidos políticos para consumo interno, igualmente negativas para
o governo e indicativas do grau de dificuldade da campanha da candidata
oficial em criar expectativas que revertam sua estagnação nas
pesquisas.
Inserem-se nesse quadro a falta de expectativa
de aumento de renda, conjugada ao fim do poder de consumo, a baixa
remuneração de empregos, a insatisfação com as políticas públicas nas
áreas essenciais de saúde, infraestrutura e segurança, além da sensação
de aumento da corrupção.
Os índices de intenção de voto
registrados pela presidente Dilma são desfavoráveis no sudeste, que
concentra 40% do eleitorado nacional, no qual ela empata com o candidato
Aécio Neves, do PSDB, ambos na casa dos 28%. A soma nas outras regiões
não autoriza uma votação compensatória.
Na conta global, a
pesquisa sugere que a presidente não cai mais por ter atingido seu piso
de queda, apesar da superexposição a que foi submetida.
É
nesse ponto que reside o otimismo da oposição. Os levantamentos feitos
até aqui ainda ocorrem com os candidatos Aécio Neves e Eduardo Campos
desconhecidos por parcela expressiva da população, o que certamente será
reduzido com a exposição no horário eleitoral gratuito na televisão.
Se
é verdade que a oposição ainda não se mostrou competente para
capitalizar politicamente o revés do governo, na proporção que ele
permite, é igualmente real que o repertório oficial esgotou sua
capacidade de produzir novidades.
Nada mais demonstrativo
dessa constatação do que o relançamento de programas como o PAC, em
versões renumeradas, antes mesmo que as primeiras se tenham completado.
Além
disso, com a disputa política orientada pela meta de ampliação de
bancadas federais dos partidos, a dissidência na base aliada do governo
foi maior do que era permitido estimar com base na disputa por espaço na
estrutura de governo, protagonizada por PT e PMDB.
A fragmentação da militância desfavorece o governo nas campanhas estaduais e eleva seu risco eleitoral.
Nada
indica que o êxito na organização da Copa, com ou sem vitória da
seleção nacional, perdure para afetar essa realidade que a antecede.
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