Indefinições no gás de xisto
CELSO MING - OESP
Graças
à produção de petróleo e gás a custos muito baixos, a partir do
fraturamento hidráulico do xisto, os Estados Unidos passam por uma
revolução energética
Após 40 anos, os Estados Unidos começam a reabrir as exportações de petróleo bruto.
No
dia 24, o Departamento do Comércio dos Estados Unidos autorizou as
primeiras operações de embarque, proibidas desde o embargo imposto pelos
árabes pelo apoio dos Estados Unidos a Israel na Guerra do Yom Kippur,
em 1973. As exportações ainda são insignificantes, mas devem ser vistas
como parte de um processo de flexibilização. Se confirmada, essa decisão
terá grande impacto econômico e geopolítico, com consequências também
sobre o Brasil.
Graças
à produção de petróleo e gás a custos muito baixos, a partir do
fraturamento hidráulico (fracking) do xisto, os Estados Unidos passam
por uma revolução energética. Estão à beira da autossuficiência de
petróleo e de gás. Com esse horizonte, empresas de petróleo pressionam o
Congresso americano para autorizar a reabertura das exportações de óleo
bruto para, assim, viabilizar investimentos e garantir mercado externo
para aumentos de produção.
Essas novas condições muito próximas
de dispensar o suprimento externo de petróleo podem ajudar a explicar o
relativo desengajamento dos Estados Unidos nos conflitos do Oriente
Médio, mais especialmente nesta crise que ameaça implodir o Iraque. Ou
seja, a revolução do xisto nos Estados Unidos começa a ter impacto
geopolítico.
A provável reabertura das exportações de óleo cru
nos Estados Unidos deverá produzir duas consequências para o Brasil. A
primeira será o relativo desinteresse das empresas globais de petróleo
pela produção brasileira. Nos Estados Unidos, contam com mais
estabilidade nas regras do jogo, abundante infraestrutura a custos mais
baixos e enorme cadeia de fornecedores de equipamentos de exploração. A
segunda consequência tende a ser a manutenção (ou até a redução dos
preços) do gás natural nos Estados Unidos. É fator que tenderá a atrair
mais investimentos industriais, especialmente de unidades
eletrointensivas como química básica, metalurgia dos não ferrosos, vidro
e cerâmica.
Ou seja, um dos riscos para o Brasil é a perda de
investimentos não só para os Estados Unidos, mas, também, para o Canadá e
o México, que fazem parte do mesmo bloco comercial, o Nafta.
Por
enquanto, o governo brasileiro concentra suas fichas no aumento da
produção de gás do pré-sal. Mas aí os custos (e os preços) tendem a
continuar elevados. O primeiro leilão de concessões de exploração de gás
de xisto foi realizado em novembro de 2013. Mas os investimentos estão
ameaçados porque enfrentam indefinições das regras. No início de junho, a
Justiça Federal acolheu pedido do Ministério Público de suspensão da
12.ª Rodada de Licitações. O argumento é de que faltam informações sobre
a magnitude dos riscos ambientais associados à técnica de fraturamento
hidráulico, o que poderia comprometer “em caráter irreversível” o
Aquífero Guarani, um dos maiores do mundo. Recurso da Agência Nacional
do Petróleo (ANP) foi rejeitado em caráter liminar. A ação tramita na
1.ª Vara Federal de Cascavel.
Enquanto essas dúvidas não forem dirimidas de vez, é difícil de prever avanço da exploração de gás de xisto no Brasil.
CONFIRA:
Pressões na Alemanha
A
Alemanha também enfrenta o dilema de incrementar ou não a exploração do
gás de xisto. A técnica de fraturamento hidráulico (bombardeio do xisto
por uma mistura de água, areia e produtos químicos a alta pressão) vem
sendo usada no país há mais de 50 anos, mas com pouca intensidade. A
forte concorrência energética dos Estados Unidos e as dúvidas sobre a
garantia de suprimento de gás da Ucrânia vêm levando as companhias
energéticas a pressionar o governo alemão para dinamizar a exploração.
O outro lado
Na
outra ponta, estão os organismos ambientalistas e as cervejarias que
vêm fazendo forte campanha contra, porque temem a contaminação dos
lençóis freáticos.
Vai parar?
O governo alemão parece mais
propenso a suspender as perfurações até que estudos mais aprofundados
verifiquem os riscos do processo ou que novas tecnologias mais seguras
substituam a atual.
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