sábado, 5 de julho de 2014

Líderes europeus buscam um 'cessar-fogo' na Ucrânia
Frédéric Lemaître e Yves Michel Riols - Le Monde
Os combates se intensificaram na quarta-feira (2) no leste da Ucrânia entre o exército e os separatistas, ao passo que a diplomacia está tentando se reafirmar. Três dias após a conversa telefônica de duas horas entre os presidentes da França, da Rússia, da Ucrânia e a chanceler da Alemanha, no dia 29 de junho, seus quatro ministros das Relações Exteriores se encontraram na quarta-feira (2) em Berlim.
Mas o contexto mudou. Na segunda-feira (30), o presidente ucraniano, Petro Poroshenko, rompeu unilateralmente o cessar-fogo que não era respeitado pelos separatistas.
Após aproximadamente duas horas de conversas sem conselheiros, os quatro ministros publicaram uma "declaração conjunta", algo que não foi fácil no começo. Eles fazem um apelo para que "o grupo de contato retome seus trabalhos antes do dia 5 de julho com o intuito de conseguir um cessar-fogo duradouro, incondicional e de consentimento mútuo".
Esse grupo é constituído pela Rússia, pela Ucrânia e pela Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), aos quais estão associados os separatistas ucranianos. "Estamos cientes de que essa não é a solução para todos os problemas. mas acredito que seja um passo importante na direção de um cessar-fogo", declarou Frank-Walter Steinmeier, o ministro alemão. O acordo, no entanto, não diz onde o grupo de contato deve se reunir, o que não é somente uma formalidade.
Após esse encontro, é difícil não constatar que a Rússia se saiu bem da situação. Três meses depois que Moscou anexou a Crimeia, a declaração explica que "os ministros estão comemorando a disposição da Rússia de permitir que os guardas das fronteiras ucranianas tenham acesso ao território russo para participar do controle da travessia da fronteira nos pontos de passagem de Gukovo e de Donetsk enquanto o cessar-fogo mutuamente consentido estiver valendo."

Poroshenko "sob fortíssima pressão" de sua opinião pública

Outro motivo de satisfação para o ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Lavrov, é o fato de que seu jovem colega ucraniano, Pavlo Klimkine, não parou de repetir que "o objetivo era um cessar-fogo bilateral, incondicional, controlado a qualquer momento pela OSCE". "O termo bilateral equivale a colocar os separatistas no mesmo nível que o governo", observa um diplomata europeu.
No entanto, no dia 27 de junho, durante o último Conselho Europeu, os dirigentes da União Europeia (UE), haviam dado um ultimato a Vladimir Putin: iniciar uma "desescalada" até segunda-feira à noite, do contrário os europeus poderiam infligir novas sanções individuais contra os dirigentes do Kremlin e seus aliados separatistas na Ucrânia.
Mas a decisão do presidente Poroshenko de romper, na segunda-feira (30), o cessar-fogo, reduziu a margem de manobra dos europeus em relação a Putin.
Este último soube aproveitar a brecha e a ocasião para afirmar, na terça-feira (1º), que o presidente ucraniano "agora endossava a responsabilidade" do prosseguimento das operações militares.
Tanto Paris quanto Berlim reconhecem, em off, entender a situação de Poroshenko, que "estava sob fortíssima pressão" de sua opinião pública. Aliás, a hipótese de terminar o cessar-fogo já havia sido mencionada durante o último encontro de Poroshenko com Hollande e Merkel, paralelamente ao Conselho Europeu do dia 27 de junho.
"Ele nos informou claramente que se não houvesse nada em troca, ele não poderia prorrogar o cessar-fogo, o que era uma maneira de nos pedir para aplicar novas sanções contra a Rússia", conta uma fonte francesa.

"Estamos nos encaminhando para um conflito em impasse de longa duração"

Essa perspectiva está sendo ainda menos cogitada agora. "Mesmo quando a situação era cristalina, era complicado e demorado agir com os 28 Estados-membros, e hoje é ainda mais", afirma um influente diplomata.
Ele diz que Putin sempre consegue desativar as pressões ocidentais "fazendo concessões a conta-gotas no momento oportuno". Como no final de junho, por exemplo, quando se coincidiu com o prazo de "três a quatro semanas" concedido pelo presidente Obama no início de junho, durante sua viagem à Europa.
Paris vê um sinal de que as sanções já em vigor estão dando seus frutos. Em outras palavras, a Rússia tem dosado suas pressões militares e econômicas o suficiente para desestabilizar a Ucrânia, mas sem suscitar um violento contragolpe ocidental.
Essa análise é compartilhada por Berlim. Embora Angela Merkel, sob influência de sua opinião pública, pareça muito reticente em reforçar as sanções, a Alemanha acredita que é preciso continuar isolando Vladimir Putin. "Foi preciso convidá-lo para a Normandia no dia 6 de junho, pois não se mexem em comemorações, mas não se deve recebê-lo em um contexto tradicional", explica um diplomata alemão. Essa posição não é unanimidade, como mostrou a visita do presidente russo à Áustria em 24 de junho.
Ninguém está esperando por uma resolução rápida do conflito, "o processo será necessariamente caótico e estamos nos encaminhando para um conflito em impasse de longa duração", dizem em Paris. Assim como a situação em outros países da região, como Moldova e a Geórgia, onde a Rússia se apoia em separatistas locais para impor uma soberania sob alta vigilância a seus vizinhos próximos. 

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