sexta-feira, 4 de julho de 2014

"Morte aos árabes": ódio sem pudor surge na internet israelense
Hélène Sallon - Le Monde
A morte de três jovens israelenses, sequestrados no dia 12 de junho perto de um assentamento israelense na Cisjordânia, suscitou em Israel uma expressão de ódio anti-árabes que hoje alimenta o círculo de represálias.
Esses temores foram reforçados pelo sequestro e posterior anúncio da morte de um jovem palestino de Jerusalém Oriental, na quarta-feira (2), que pode ter sido um ato de vingança perpetrado por colonos israelenses. Outros atos de represália contra propriedades palestinas foram assinalados em diversas cidades da Cisjordânia. Na véspera, quase 200 pessoas haviam participado de uma manifestação anti-árabes em Jerusalém que descambou para uma "caça aos árabes", segundo testemunhas.
As autoridades israelenses agora estão com dificuldades para reprimir esses sentimentos de ódio, em parte alimentados pelos discursos belicistas de certos políticos que cercaram a operação militar "Guardião de nossos irmãos" na Cisjordânia e pelo hype midiático em torno da campanha "Bring back our boys" (Tragam de volta nossos meninos, em inglês). Esses sentimentos também repercutiram dentro da sociedade israelense, como prova o surgimento, desde o dia 30 de junho, de grupos no Facebook com a palavra de ordem "O povo de Israel exige vingança".
Nas páginas da rede social, jovens israelenses, entre os quais vários adolescentes e soldados, publicaram seus "selfies" (autorretratos) acompanhados de comentários racistas e incitações à vingança. Na quarta-feira (2), uma dessas páginas do Facebook que reunia mais de 35 mil seguidores foi fechada, segundo o jornal israelense "Haaretz". Outras páginas com o mesmo tema foram criadas desde então.
Preocupado com o fenômeno, o exército israelense publicou na quarta-feira um aviso destinado aos soldados.
"Se soldados se envolverem no envio de fotografias racistas e em incitações à punição de inocentes, isso será considerado um incidente grave que não corresponde ao comportamento esperado dos soldados das Forças Armadas israelenses. Cada um dos casos que forem assinalados aos comandantes será tratado com a maior severidade."

"Assassinato é assassinato"

A ministra da Justiça, Tzipi Livni, condenou essas incitações à vingança e afirmou que iria avaliar junto com o procurador-geral quais meios legais aplicar para processar os autores desses apelos.
"Devemos atacar a campanha de incitação que está acontecendo nas redes sociais. Se algo assim leva soldados a postarem fotos com suas armas ou adolescentes segurando cartazes incitando à morte de árabes, isso é terrível e eles precisam pagar por isso."
O primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, por sua vez, fez um apelo na quarta-feira para que sejam processados os autores do assassinato de Mohammed Khudair, o palestino de 16 anos sequestrado em Jerusalém Oriental e morto. Ele também pediu para que os dois lados resistam à tentação de fazer justiça com as próprias mãos.
A família de um dos três jovens israelenses também se pronunciou contra esse assassinato durante uma cerimônia nacional na presença de dezenas de milhares de pessoas. "O sangue só tem uma cor. Um assassinato é um assassinato, independentemente da nacionalidade ou da idade, e não se justifica em nenhum caso", afirmou a família em um comunicado.
No entanto, alguns comentaristas apontam para a responsabilidade do chefe do governo israelense na promoção de um discurso de ódio. Em um comunicado publicado na segunda-feira, o próprio gabinete israelense havia feito um apelo por "vingança". Os três israelenses "foram sequestrados e mortos a sangue frio por animais. Em nome do povo judeu, eu queria dizer às famílias --as mães, os pais, as avós e avôs--, que estamos profundamente entristecidos. A nação inteira chora junto com vocês. Satã ainda não criou a vingança pelo sangue de uma criança…", comentou assim, pelo Twitter do governo, o primeiro-ministro, Binyamin Netanyahu, no dia 30 de junho, citando um poema do israelense Haim Nahman Bialik, escrito em 1903, acrescentando ainda: "O Hamas vai pagar."

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