sábado, 5 de julho de 2014

Não ofenda nossa inteligência
Fabrício Carpinejar - O Globo
Acertar uma joelhada nas costas nunca será um lance normal.
Esquecer a bola e agredir nunca será um lance normal.
Subir dois andares para impor uma voadeira nunca será um lance normal.
É maldade, inveja criminosa, vontade de machucar.
É desespero de perdedor, atentado ao drible, à habilidade, ao virtuosismo, à felicidade.
Neymar nem de frente estava durante a dividida. Indefeso, vulnerável, preocupado em jogar, em garantir a vitória, em proteger a bola. Não tinha como se defender, como se esquivar.
Zuñiga traiu a Copa do Mundo, traiu o bom futebol, apunhalou o dom e a vocação.
Foi um pontapé violento na lealdade, fincou o joelho como se fosse uma facada.
Não contou com esportividade, hesitação, compaixão.
Usou a perna como uma pá, feriu a vértebra de Neymar, enterrou o sonho do craque de erguer a taça.
Tirou Neymar das próximas partidas, da competição, do encontro emocionado e tão esperado do atacante com o torcedor nas finais.
Desde quando marcar é lesionar? Imagine se Marcelo fizesse isso com James, o 10 da Colômbia. Imagine o protesto dos adversários.
Não me diga que foi um lance normal, natural do jogo.
Não me diga que não houve a intenção.
A jogada não tem nada de involuntária, nada de acidental.
Foi premeditada, consciente, planejada, truculenta, com requintes de crueldade.
Sabia o que fazia, viu o que poderia acontecer e não recuou.
É o equivalente a lesionar Messi e desfalcar a Argentina, é o equivalente a lesionar Robben e desfalcar a Holanda.
Foi muito pior do que uma mordida, o lateral-direito colombiano arrancou todos os dentes do nosso sorriso.

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