quarta-feira, 29 de outubro de 2014

'Amor' na Coreia do Sul não inclui os gays
Le Monde
Na Coreia do Sul, o amor só pode ser heterossexual. Enfim, pelo menos de acordo com o Instituto da Língua Coreana. No dia 31 de março, o órgão alterou uma das definições da palavra "amor" em seu Grande Dicionário online. O amor ("sarang") é definido ali como um afeto por sua família, seu país, seus amigos. Ele também é apresentado como "sentimento de afeição entre um homem e uma mulher".
Antes, era definido como um "sentimento de afeição entre duas pessoas". Essa neutralidade de gênero decidida em 2012 não agradou às poderosíssimas e influentes igrejas protestantes coreanas. Para elas, a definição do amor baseado em um laço entre duas pessoas sem especificar seu sexo é similar à defesa da homossexualidade.
Então, elas pressionaram para que fosse acrescentada a especificação "um homem e uma mulher". Para isso, elas parecem ter contado com o apoio do presidente da Academia Nacional de Língua Coreana, Min Hyun-sik. Esse professor da prestigiosa Universidade de Seul é conhecido por suas fortes convicções religiosas e sobretudo por seus posicionamentos homofóbicos.
Ele esteve entre os signatários de uma petição dirigida contra um projeto de lei apresentado em fevereiro de 2013 pelo governo contra as discriminações. O longo texto, ainda não aprovado, visa proibir as discriminações baseadas sobretudo na origem, na religião e na orientação sexual, e prevê multas que podem chegar a 30 milhões de wons (quase R$ 65 mil).
Isso provocou protestos exaltados das igrejas coreanas. "A homossexualidade vai contra a ordem da criação", disse então o reverendo Hong Jae-chul, presidente do conselho cristão da Coreia. Milhares de pessoas saíram às ruas.
A petição assinada por Min Hyun-sik taxa a homossexualidade de "mal social contrário à ética". O texto acusa a lei de transformá-la em uma "relação normal", de proibir de fato "qualquer atividade que vise combater sua difusão". Seus autores consideram que os homossexuais "não querem fazer um esforço para se tornarem pessoas normais" e veem na "difusão da homossexualidade" o risco de "desenvolver patologias sociais".
25.out.2014 - Participantes marcham com enfeites de balões durante a Parada Gay pelas ruas de Taipé, na ilha de Taiwan, neste sábado (25). Milhares de pessoas se reuniram na ilha na maior parada do orgulho gay da Ásia, de acordo com os organizadores. Por ocasião do evento, o Parlamento local se comprometeu a rever as leis sobre casamentos de pessoas do sexo Sam Yeh/ AFP 
A sociedade sul-coreana, predominantemente conservadora e marcada pela moral confuciana, tem evoluído muito lentamente nessa questão. Além da falta de proteção contra as discriminações, não existe nenhum reconhecimento dessa orientação. Em 2000, Hong Suk-chon foi banido da televisão durante três anos depois de ter se assumido homossexual.
Hoje, programas de TV, filmes e novelas trazem personalidades ou personagens abertamente gays ou transsexuais. O filme "A frozen flower" (2008) teve enorme sucesso apesar de seu tema delicado: o amor do rei Gongmin (1330-1374) pelo chefe de sua guarda pessoal. Em setembro de 2013, o cineasta Kim Jho Gwangsoo e seu parceiro Dave Kim organizaram uma cerimônia de casamento no centro de Seul, com grande cobertura da mídia. Hoje há dezenas de bares gays abertos, sobretudo perto do agitado bairro de Itaewon, em Seul.
Apesar disso, uma pesquisa de 2013 revelou que somente 39% dos coreanos, principalmente jovens, apoiavam a ideia do casamento homossexual.

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