segunda-feira, 30 de março de 2015

Com ações da Petrobras, BNDES registra perdas de R$ 2,6 bilhões
PEDRO SOARES - FSP
A crise da Petrobras e queda de valor de mercado da companhia contaminou o balanço do BNDES, que detém 17% do capital total da petroleira também estatal. O banco teve uma perda de R$ 2,6 bilhões, ao reavaliar o valor de sua participação na companhia em razão "do declínio prolongado e significativo no valor de mercado das ações" da empresa.
O BNDES estimou esse valor com uma perda "passível de não recuperação", seguindo recomendações do Banco Central. Dessa cifra, R$ 1 bilhão foi lançada no balanço do ano passado e reconhecida como perda. O restante –que o banco ainda espera recuperar– permanece no patrimônio do banco, como um ajuste de avaliação patrimonial.
Segundo o BNDES, o tamanho da perda de valor da participação na Petrobras levou em conta uma nova em avaliação econômico-financeira da companhia –que sofre com a depreciação de seus ativos diante da queda do petróleo e das perdas com corrupção. O banco diz que a empresa não gerou baixas decorrentes de inadimplência em empréstimos.
Ao assumir essa baixa em suas contas (principal fator negativo em seu balanço), o BNDES viu seu lucro limitado em 2014 a R$ 8,594 bilhões. O desempenho, porém, supera em 5,4% os R$ 8,150 bilhões obtidos em 2013.
De acordo com o BNDES, o desempenho foi influenciado positivamente pelo retorno de financiamentos concedidos, que passou de R$ 11,7 bilhões em 2013 para R$ 13,4 bilhões em 2014.
Apesar da perda com a Petrobras, o banco ressalta que "outro importante fator que contribuiu para o lucro de 2014 foi o resultado com participações societárias", cujo resultado avançou de R$ 2,5 bilhões em 2013 para R$ 2,9 bilhões em 2014. "Cabe destacar que tal crescimento foi realizado num cenário de intensa volatilidade no mercado de capitais."
O ambiente de maior incerteza fez o banco fazer provisões maiores (reservas de recursos) para eventuais perdas em investimentos -o número saltou de de R$ 2 bilhões em 2013 para R$ 2,8 bilhões em 2014.
COM RESSALVAS
O balanço do BNDES foi aprovado com ressalvas do auditor independente, a KPMG. A empresa de auditoria ressalvou que desvalorização correspondente à diferença entre o valor de mercado baseado em cotação em bolsa de valores e o custo de aquisição das ações da carteira da BNDESPar (braço de participações do banco) é de aproximadamente R$ 5,2 bilhões –cifra a ser descontada do balanço da empresa de participações; considerado o banco como um todo a baixa é diluída para R$ 2,6 bilhões.
A administração do BNDES, porém, concluiu que essa desvalorização não deveria ser registrada como perda em 2014, pois "não foram atingidos os parâmetros de declínio prolongado ou significativo" estabelecidos nas suas políticas contábeis e porque a estatal não apresentou ainda o balanço auditado de 2014.
Para a KPMG, o BNDES deveria lançar já em seu balanço os R$ 2,6 bilhões –e não os R$ 1 bilhão assumidos agora. O banco argumenta que uma resolução do Conselho Monetário Nacional que ações de estatais aportadas pelo Tesouro para capitalizar o banco não "tem horizonte de venda", segundo Carlos Frederico de Carvalho Silva, chefe do departamento de Contabilidade da instituição. Ou seja, só haveria perda a ser lançada em caso de venda dessas ações. "Mas são ativos que estão há décadas na carteira do banco e tem um papel estratégico. A BNDESpar tem essa característica, diferentemente de outras empresas de participações."
O técnico ressaltou ainda que o banco usou a mesma metodologia para avaliar as ações da estatal nos trimestres anteriores e não constatou perdas –que só ocorreram no último trimestre de 2014.
Para Silva, o maior problema é do auditor independente não ter como confrontar as informações e avaliações do banco, pois a Petrobras não apresentou seu balanço auditado.
PATRIMÔNIO
Apesar de limitar a R$ 1 bilhão a perda registrada no balanço, os outros R$ 1,6 bilhões pesaram negativamente no patrimônio do banco estatal e piorou seu indicador que serve de referência para conceder empréstimos –o chamado índice de Basiléia caiu de 18,7% para 15,9%, acima do limite do Banco Central de 11%. O patrimônio líquido do BNDES somou R$ 66,3 bilhões ao final de 2014.

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