terça-feira, 31 de março de 2015

Queda de avião da Germanwings deixa cidade natal do copiloto aturdida
Jack Ewing - NYT
Reprodução/Facebook
O alemão Andreas Lubitz, 28, era o copiloto do voo 4U9525, da Germanwings, que caiu nos Alpes Franceses, matando 150 pessoas O alemão Andreas Lubitz, 28, era o copiloto do voo 4U9525, da Germanwings, que caiu nos Alpes Franceses, matando 150 pessoas
Quando funcionários de um Burger King nesta cidade entre Frankfurt e Colônia souberam que um ex-colega de trabalho estava a bordo do voo da Germanwings que caiu nos Alpes franceses na semana passada, eles prepararam um cartão de condolências para a família.
Mas então os funcionários souberam que Andreas Lubitz, o copiloto do avião, que já tinha trabalhado meio expediente como cozinheiro no restaurante, teria conduzido deliberadamente as outras 149 pessoas a bordo do Airbus A320 à morte.
Detlef Adolf, o gerente do restaurante, decidiu que era melhor não enviar o cartão.
O dilema enfrentado pelos funcionários do Burger King foi um pequeno indício das emoções conflitantes que tomaram conta desta cidade de cerca de 15 mil habitantes desde que soube que um morador da cidade, que conheciam como reservado e educado – se é que o conheciam – pode ter sido um assassino em massa.
Enquanto outras comunidades, incluindo algumas próximas, lamentam os parentes e vizinhos que faleceram, Montabaur está experimentando uma mistura desconcertante de pesar, vergonha e fúria com sua notoriedade repentina e indesejada.
Há compaixão pelos pais de Lubitz, que vivem em um sobrado arrumado com jardim cuidadosamente cuidado em um bairro próspero. Há ressentimento diante do que muitos aqui dizem ser uma pressa em julgar Lubitz antes de todos os fatos serem conhecidos.
E há revolta com a investida da mídia que, por vários dias, torna quase impossível caminhar pelas ruas do velho bairro pitoresco da cidade sem ser assediado por uma equipe de filmagem buscando a reação local.
O pastor Michael Dietrich de uma igreja luterana às margens da cidade, onde a mãe de Lubitz às vezes toca órgão, tentou tratar do dilema espiritual durante seu sermão regular na manhã de domingo (29).
"Para onde devemos ir?" ele disse. "Para onde devemos ir?"
A questão serve para as famílias das vítimas, disse Dietrich, "e também para a família do copiloto Lubitz, que muitos de nós conheciam pessoalmente".
Notando que já tinha sido cercado por jornalistas nos últimos dias, à procura de informação sobre as famílias, Dietrich disse não sabia o que dizer a eles. "Há muitas perguntas sem resposta", ele disse. "Acima de tudo, por quê?"
Em outras partes da cidade, a irritação com a invasão de repórteres e equipes de filmagem, muitas das quais partiram no domingo, às vezes se transformou em fúria.
No sábado (28), enquanto uma equipe gravava um vídeo no campo de aviação onde Lubitz aprendeu a voar em planadores na adolescência, um homem em uma perua freou em uma rua adjacente e gritou, "Sumam!" O clube de aviação recebeu ameaças de morte por ter ensinado Lubitz a voar, disse o presidente do clube, Klaus Radke, no sábado.
A culpa é sempre uma questão carregada na Alemanha, onde memoriais aos crimes nazistas estão presentes em toda parte. Em frente à prefeitura de Montabaur, há um pequeno memorial aos judeus locais que morreram no Holocausto. À beira da cidade há um pequeno cemitério para os mortos na guerra. Em vez de lápides, os túmulos estão marcados por pedras quadradas afundadas no solo, com os nomes dos mortos ou simplesmente a inscrição, "Um Soldado Alemão".
Muitas pessoas em Montabaur se ressentem da implicação de que de alguma forma compartilham a culpa pelo acidente, e de que a cidade daqui em diante será conhecida como local de nascimento de Andreas Lubitz.
Alguns aqui culpam a Lufthansa, a dona da Germanwings, ou as autoridades de segurança aérea, que não contariam com salvaguardas suficientes para impedir alguém aparentemente sofrendo de depressão de pilotar um avião de passageiros. Um auditor fiscal aposentado que deu apenas seu primeiro nome, Alfred, disse que teria sido afastado da escola contábil caso tivesse os problemas que Lubitz supostamente tinha.
"Se eu estivesse doente durante meu treinamento, a repartição fiscal não teria me contratado", ele disse na manhã de sábado, em um mercado em Montabaur.
As emoções são intensificadas pelo fato de três das vítimas da queda serem da área próxima.
Duas delas, identificadas apenas como Christopher e Sebastian, eram do vilarejo de Rothenbach, a 19 quilômetros seguindo a estrada. Outra passageira, identificada como Larissa, era de Westerburg, a 21 quilômetros. Todos tinham na faixa de 20 anos e visitariam Barcelona, Espanha, segundo os relatos da imprensa local.
Na noite de sexta-feira, as pessoas lotaram uma igreja católica em Rothenbach para uma missa em memória das vítimas. As pessoas vazavam pela entrada e lotavam a calçada por várias centenas de metros, de modo que a igreja montou alto-falantes para que as pessoas do lado de fora ouvissem. Além dos hinos e orações, era possível ouvir o choro dos familiares.
O serviço fúnebre em Montabaur no domingo contou com público mais modesto. A igreja luterana, uma estrutura simples de concreto, não conta com bancos permanentes, apenas fileiras de cadeiras de madeira que estavam parcialmente ocupadas.
Diferente da correspondência de ódio recebida pelo clube de aviação de Montabaur, Dietrich disse que recebeu centenas de expressões de compaixão e ofertas de ajuda de todo o mundo.
A igreja pela qual é responsável, conhecida como Evangelisch em alemão, alterna cultos dominicais com uma igreja mais velha próxima do centro da cidade. Dietriche e o pastor Johannes Seemann da igreja irmã, disseram estar tentando chegar a uma resposta apropriada ao desastre e ao papel de Montabaur nele.
Seemann disse que planeja erguer uma espécie de muro da lamentação em sua igreja, com os nomes de todas as vítimas inscritos nele.
"Encontrar o equilíbrio é muito difícil", ele disse.
Ele disse que conversou brevemente com os pais de Lubitz após a notícia da queda do avião, mas não mais depois. Eles não estiveram presentes no culto dominical e aparentemente não voltaram para a casa deles em Montabaur. Seeman disse que não conhecia Lubitz.
Na outra igreja, Dietrich pregou uma cruz de madeira simples na parte de baixo da torre do sino e convidou as pessoas a pregarem bilhetes de papel com seus pensamentos.
"Família L., não há palavras", dizia um bilhete na manhã de domingo.
Tradutor: George El Khouri Andolfato 

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