sexta-feira, 29 de maio de 2015

Para sobreviver, livrarias cruzam caminhos analógico e digital
Winston Manrique Sabogal - El País
Shutterstock
Regra número 1 de sobrevivência das livrarias: ser crentes cibernícolas do livro. Como são nas Ruas Feria, 110, de Sevilha, e Tutor, 57, de Madri. Ali, o futuro é hoje com um âmbito duplo, analógico e digital, incorporado em seu DNA, e os estabelecimentos se transformaram em agentes culturais de referência nos dois mundos: ciberespaço e Terra.
Se no minuto 1 da era da internet as livrarias viam esse mundo com receio, quase como inimigo, hoje, no minuto 2, buscam torná-lo seu melhor aliado. Aprenderam que qualquer ação física se potencializa na rede e vice-versa. Livreiros e leitores em papel e de obras eletrônicas estão aumentando (26% da oferta são em formato digital), o que faz que a média de leitura anual na Espanha seja de dez volumes por pessoa.
A livraria El Gusanito Lector, em Sevilha, explora essa vida dupla há cerca de dez anos. Depois da criação de um clube de leitura para crianças e adolescentes, deu um salto para sua versão na rede. Depois os pais pediram um clube para eles mesmos. Há pouco tempo surgiu outro onde se unem os dois anteriores.
Mais que uma livraria, foi um ponto de fomento da leitura, diz Esperanza Alcaide Rico, que a fundou em 1995. Sempre esteve na Rua Feria, com o espírito de "uma cidade que desde o século 13 acolhe pessoas de diferentes partes do mundo, de diversas culturas e religiões, criando uma mestiçagem em todos os âmbitos. E isso é o que se vê nos clubes de leitura". As crianças, conta esta profissional, além de comentar o livro e trocar ideias, "aprendem a levantar a cabeça, a interagir e a viver". "É preciso atender à livraria com verdadeira convicção e gosto, e buscar oferecer algo diferente", reflete Alcaide.
O ciberespaço dá fé desse vigor e explosão de iniciativas. Lá está também na Rua Tutor, 57, em Madri, a Librería Rafael Alberti, cuja tradição e prestígio de quatro décadas não é só como vendedores de livros e assessores de leitores, senão como ponto de referência literária e cultural.
Criada em novembro de 1975, o mês em que morreu Franco, depois de 36 anos de ditadura, a Alberti nasce com a nova era democrática e é testemunha da transição intelectual. Não foi fácil. Nos dois primeiros anos, sofreu seis atentados. "Trabalhar no analógico e no digital é importante. Tudo foi muito rápido", reconhece Lola Larumbe, sua proprietária. "Tudo é mais fácil. A internet é a mudança, e as redes sociais são um grande meio de comunicação e divulgação", acrescenta.
Ainda mais para eles, que têm atividades tradicionais como apresentações de livros, recitais e ateliês infantis, até seus clássicos Encontros da Alberti, que na última segunda-feira reuniu Rafael Chirbes, Marta Sanz e o editor Jorge Herralde, da Anagrama, para conversar com Sara Mesa sobre seu romance "Cicatriz".
Tudo muda. Inclusive a relação entre os diferentes agentes da cadeia de valor do livro melhorou desde 2008, início da crise, afirma Larumbe: "Antes, editores e distribuidores concentravam a atenção nas grandes superfícies e livrarias de rede, e hoje pagamos esse tratamento diferente. Aprenderam que as livrarias pequenas e médias são chaves para este ecossistema". A mudança ocorre "quando coincide a renovação do mapa editorial com editoras pequenas e boas que sabem a importância de chegar aos leitores através de nós", acrescenta Larumbe.
Uma tarefa pendente para ajudar os livreiros é a da política de descontos. A maioria é para as grandes superfícies, e o manejo de prazos de pagamento, embora haja acordos pontuais. Ninguém quer ceder na porcentagem de lucros. O preço do livro é uma das queixas dos leitores: 14,60 euros em média (há dez anos, em plena bonança econômica, se situava em 12,72 euros). A distribuição dos lucros, aproximadamente, é: o autor recebe 10%; a editora, de 25 a 35%; a distribuidora, de 30 a 35% e a livraria, entre 30 e 35%.
Tudo isso em meio à irrupção dos livros eletrônicos e das livrarias virtuais, que modificaram o ecossistema. Os estabelecimentos tradicionais e independentes como El Gusanito Lector ou Alberti realizam só 5% de suas vendas pela internet; 95% o fazem com os operadores virtuais como Amazon, Google e Apple e as grandes superfícies e livrarias em rede. Por isso, as 3.650 livrarias médias e pequenas associadas ao Cegal têm a plataforma Todostuslibros.com, embora entre livrarias globais e virtuais, grandes e pequenas, o faturamento do e-book represente 3,7% do total (80 milhões de euros).
Para eles, está claro que o futuro reclama a volta do livreiro de proximidade, que sabe do que fala e aconselha seus leitores em seu espaço físico e digital. Redemoinho de mudanças com raízes na terra e no ciberespaço, onde cresce uma geração de livrarias virtuais. São a salvação para os 7.310 municípios da Espanha que não têm esses espaços culturais, enquanto nos 807 que os têm dois são fechados por dia.
Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves 

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