domingo, 31 de maio de 2015

Sucesso da próxima conferência do clima está na ajuda entre países
Kevin Rudd - NYT
Terry W. Virts/NasaÍndia será um dos estados mais atingidos pelas mudanças climáticas, com aumento das inundações costeiras e derretimento das geleiras do Himalaia Índia será um dos estados mais atingidos pelas mudanças climáticas, com aumento das inundações costeiras e derretimento das geleiras do Himalaia
Como ex-primeiro ministro da Austrália, eu entendo alguma coisa dos custos políticos que os líderes devem assumir se quiserem conciliar os interesses de longo prazo do planeta com os interesses nacionais de curto prazo.
Depois de participar da cúpula de Copenhague sobre as mudanças climáticas em 2009, fui acusado em meu país tanto por fazer demais quanto muito pouco para chegar a um acordo global.
Todos nós fracassamos em Copenhague, embora não por falta de esforço de muitos de nós. A conferência da ONU em Paris em dezembro será a próxima oportunidade para que os líderes das maiores economias do mundo mostrem uma liderança verdadeira no drama em câmera lenta que é a mudança climática antropogênica.
Os Estados Unidos e a China, os maiores poluidores do mundo, começaram a combater as mudanças climáticas juntos quando anunciaram um acordo, em novembro passado, para reduzir as emissões de carbono. Os Estados Unidos prometeram dobrar a velocidade na qual reduzirão as emissões de carbono, com uma meta de redução de 26% a 28% até 2025 a partir dos níveis de 2005, enquanto a China se comprometeu a atingir o pico de emissões por volta de 2030.
Enquanto isso, a Índia e a China lançaram uma declaração conjunta sobre as mudanças climáticas no início deste mês, que incluiu a promessa de apresentar planos sobre suas próprias metas de carbono antes da conferência de Paris.
Cinco anos atrás, essas declarações conjuntas dos Estados Unidos, China e Índia eram vistas como inconcebíveis. Agora, a ciência do clima as torna inevitáveis.
A realidade matemática é que esses três países –- Estados Unidos, China e Índia –- junto com a União Europeia, irão, em grande parte, moldar o futuro do planeta.
Entre 1850 e 2012, os Estados Unidos e a Europa produziram 45% dos gases de efeito estufa que estão atualmente na atmosfera, em comparação com 18% da China e da Índia, de acordo com a organização sem fins lucrativos Climate Analytics. Com base nas práticas atuais, a previsão é de que em 2020 só a China produzirá 24% das emissões globais de gases de efeito estufa; a Índia, 7%; os Estados Unidos, 13%; e a União Europeia, 8%. A ação da China e da Índia em relação às mudanças climáticas é crítica neste momento.
Mas a China e a Índia temem que uma ação radical em relação às emissões de gases de efeito estufa reduza significativamente o crescimento econômico num momento em que a diminuição da pobreza continua sendo prioridade nacional. Nós, no Ocidente, não podemos simplesmente ignorar esse problema como se não fosse nosso também.
A Índia será um dos estados mais atingidos pelas mudanças climáticas, com aumento das inundações costeiras e derretimento das geleiras do Himalaia. O aumento das temperaturas globais tornará a segurança hídrica um problema ainda maior nas relações entre Índia e Paquistão. William Cline, membro sênior do Instituto Peterson para a Economia Internacional, estimou que um aumento modesto na temperatura média global reduzirá a produção agrícola na Índia em 38%.
A China também tem muito a perder. No início deste ano, o chefe do Serviço Nacional de Meteorologia da China alertou que a mudança climática terá "impactos imensos" sobre o país, entre eles redução das safras, danos ecológicos e fluxos instáveis dos rios. Um relatório de 2011 do governo previu uma queda de 5% a 20% na produção de grãos por conta das mudanças climáticas até 2050. Independentemente da crise, a liderança chinesa já enfrenta níveis insustentáveis de poluição do ar nas grandes cidades do país.
Embora as emissões totais dos Estados Unidos sejam agora consideravelmente menores do que as da China, as emissões norte-americanas per capita são três vezes maiores do que as da China e dez vezes as da Índia. Se os Estados Unidos quiserem convencer a China e a Índia a adotar um caminho de desenvolvimento de baixo carbono, devem se esforçar com determinação para reduzir as emissões de carbono de sua própria economia, tornando-se mais eficientes energeticamente e adotando fontes de energia de baixo carbono. O gás de xisto faz parte desta equação. O sucesso em dezembro em Paris exigirá uma abordagem em três partes.
Em primeiro lugar, os Estados Unidos e a China precisam aumentar rapidamente a colaboração quanto às mudanças climáticas, tanto dentro como fora do âmbito da conferência de Paris. Isto significa uma ação conjunta dos órgãos reguladores ambientais e energéticos, e o estabelecimento eficaz de preços para a compra de créditos de carbono por parte dos grandes poluidores e para o valor da energia pago pelos consumidores. Os investimentos de larga escala necessários em energia renovável, energias de baixo carbono, eficiência energética e inovação tecnológica só acontecerão se houver sinais de regulação e preços significativos sustentados pelo governo, juntamente com inovações no mercado. A crise de poluição do ar na China deve ser o foco central do esforço político, regulatório e tecnológico bilateral –- inclusive porque afeta a todos nós.
Em segundo lugar, uma colaboração trilateral eficaz entre os Estados Unidos, China e Índia é fundamental. Embora a Índia tenha emitido menos em termos relativos até agora, ela passará a população da China na próxima década, e mal começou sua própria revolução industrial. Déli já tem níveis de poluição atmosférica comparáveis a Pequim. O mesmo tipo de colaboração em mudança climática na regulação, preços, tecnologia e investimento é necessário nesta relação triangular. Neste contexto, não podemos ignorar o fato de que o carvão, na ausência de uma mudança tecnológica significativa, provavelmente continuará sendo o principal combustível para geração de energia na China e na Índia até meados do século. O investimento deve continuar focado em tecnologias de carvão limpo e de conversão para o gás de xisto.
Em terceiro lugar, qualquer acordo de mudança climática em Paris deve garantir que os países realmente implementem os cortes de emissões a que se comprometerem. O acordo final deve estabelecer um mecanismo regular de revisão, a transparência total das informações e a possibilidade de acrescentar novas medidas de ação contra as mudanças climáticas ao acordo de Paris conforme for necessário. Grande parte do mundo parece ignorar a lei internacional do tratado, mas responde às ações ambientais concretas baseadas nessa lei.
Chegar a um acordo em Paris exigirá uma liderança corajosa. A população mundial, especialmente os jovens, espera cada vez mais que os líderes dessas grandes potências protejam o planeta antes que seja tarde demais para todos nós.
Tradutor: Eloise De Vylder 

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