Um terço dos políticos na lista de Fachin dobrou o patrimônio nos últimos 15 anos
Acusados de receber propina ou caixa dois da Odebrecht, 36 políticos compraram apartamentos, carros, empresas e fazendas
Sérgio Roxo / Tiago Dantas - O Globo
Um terço dos 108 citados na lista do ministro do Supremo
Tribunal Federal (STF) Edson Fachin, divulgada terça-feira, pelo menos
dobrou o patrimônio declarado oficialmente nos últimos 15 anos. Acusados
de receber propina ou dinheiro via caixa dois da Odebrecht, 36
políticos adicionaram a seus bens apartamentos, carros, empresas e
fazendas. Em alguns casos, o enriquecimento entre as eleições passou de
1.000%. Aparecem na lista de quem mais ganhou dinheiro três ministros do
presidente Michel Temer, oito senadores e 18 deputados, incluindo os
presidentes das duas Casas legislativas.
O
GLOBO avaliou as declarações de bens de 91 dos 108 alvos de pedido de
abertura de inquérito no STF que disputaram mais de uma eleição a partir
de 2002 e apresentaram para a Justiça Eleitoral estimativa de
patrimônio. Dentro desse período, foram comparadas as declarações feitas
na primeira e na última campanha de cada um deles. Antes de serem
confrontados, todos os valores foram atualizados pelo IPCA, índice
oficial de inflação, até julho de 2016, data de registro de candidatura
na última eleição. Os outros 17 citados não concorreram a nenhum cargo
nesse período ou participaram de só um pleito.
Para justificar a evolução patrimonial acima de 100%, os
políticos argumentam que receberam heranças, doações de familiares e
tiveram sucesso em suas atividades profissionais ou na comercialização
de imóveis.
O ministro das Cidades, Bruno Araújo (PSDB-PE), teve um
aumento de 329,9% de seus bens entre os anos de 2006 e 2014, já
descontada a inflação. O patrimônio dele era de R$ 873,8 mil em 2006, na
sua primeira eleição para deputado federal. Passou para R$ 1 milhão
quatro anos depois ao disputar a reeleição. Mas a grande explosão
aconteceu na eleição seguinte, em 2014, quando Araújo declarou ter bens
que, em valores atualizados, somam R$ 3,8 milhões. Em quatro anos (de
2010 a 2014), ele conseguiu fazer seu patrimônio crescer 256% em valores
reais. Nesse período, adquiriu um apartamento de frente para o mar em
Recife, por R$ 1,5 milhão. Declarou também que fez benfeitorias de R$
304 mil no imóvel, além de ter R$ 900 mil no banco e R$ 80 mil em
espécie. O ministro disse que a variação é “compatível com as
informações prestadas à Receita Federal”.
O ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha (PMDB-RS), teve um
aumento de 150% em seu patrimônio entre 2006 e 2010, anos em que
disputou eleição para deputado. A soma dos bens do titular da Casa Civil
passou de R$ 1,6 milhão para R$ 4 milhões em quatro anos. Antes, em
2002, Padilha havia declarado bens de R$ 4,7 milhões. Em 2010, os
principais bens de Padilha eram 50% de um apartamento em Porto Alegre e
os R$ 877 mil de crédito que tinha a receber de uma de suas empresas. O
ministro afirmou que “todos os acréscimos patrimoniais tiveram as fontes
correspondentes também declaradas à Receita Federal”.
BLAIRO É O MAIS RICO
Mais
rico entre todos os políticos citados na lista de Fachin, o ministro da
Agricultura, Blairo Maggi (PP-MT), também aumentou seu patrimônio no
período. Entre 2002, quando foi eleito governador do Mato Grosso pela
primeira vez, e 2010, quando se elegeu senador, Blairo viu os seus bens
crescerem 355%. Sua principal propriedade na última eleição que disputou
eram cotas em uma empresa de participação e administração, avaliadas em
R$ 109 milhões. O ministro disse que a evolução patrimonial “é
facilmente comprovada pelo recebimento dos dividendos da empresa Amaggi,
a 39ª maior do país, e pelo recebimento de herança em razão da morte de
seu pai”.O ministro da Agricultura Blairo Maggi
- Evaristo SA / AFP
O
maior crescimento patrimonial de toda a lista foi do deputado federal
Vander Loubet (PT-MS), 22.000%. Em 2002, quando concorreu pela primeira
vez, ele declarou uma poupança e um título de capitalização que somavam
R$ 2,3 mil. Em 2014, seus bens incluíam chácara, lancha, dois carros e
R$ 182 mil, o que elevou seu patrimônio para R$ 1,1 milhão em valores
atualizados. Segundo o deputado, os dados não refletem sua real situação
financeira, “pois não levam em consideração ônus e dívidas informados à
Receita Federal”. Ele diz que os ganhos são “totalmente compatíveis”
com sua renda.
O deputado Fábio Faria (PSD-RN) viu seu patrimônio crescer
1.222% entre 2006 e 2014. A primeira cifra milionária apareceu na
declaração de 2010, quando o político afirmou ter um apartamento de R$
1,2 milhão na Areia Preta, em Natal, além da participação em seis
empresas de segmentos distintos, como comunicação, academia, e
restaurante. Em 2014, manteve o apartamento, fixou sua atuação em duas
empresas e declarou guardar R$ 85 mil em espécie. O principal
investimento, uma rede de academias, foi incorporado por uma gigante do
setor, segundo Faria. Ainda de acordo com o deputado, parte do dinheiro
vem da herança recebida após a morte de sua avó e das doações de seu
pai, o governador do Rio Grande do Norte, Robinson Faria (PSD). “Tudo
foi devidamente tributado e pago conforme a lei”, disse, por nota.
Também citado na lista de Fachin, o pai do deputado teve um
crescimento patrimonial de 296% entre 2002, quando concorreu a deputado
estadual, e 2014, ao se eleger para comandar o estado. Os bens de
Robinson Faria valiam R$ 2,5 milhões e passaram para R$ 9,9 milhões em
valores atualizados. O incremento foi motivado pelos 31 apartamentos que
adquiriu em Parnamirim (RN), avaliados em R$ 4 milhões. O governador
também informou que o seu patrimônio é oriundo de herança de seus pais e
avós. Segundo ele, a variação patrimonial se explica ainda pela venda
de parte dos bens herdados.
COLLOR DECLARA 14 CARROS
Já o
senador e ex-presidente Fernando Collor (PTC-AL) aumentou o seu
patrimônio ao adquirir carros. Tinha quatro em 2006 e declarou ter 14 em
2014, entre eles uma Ferrari Scaglietti preta avaliada em R$ 556 mil.
No geral, a soma dos seus bens passou, em valores atualizados, de R$ 8,7
milhões em 2006 para R$ 24,2 milhões em 2014. Além dos carros, comprou
uma casa de R$ 4 milhões em Campos do Jordão (SP). Collor disse que a
evolução tem origem principalmente em recursos das suas empresas,
herança, transações comerciais e imobiliárias.
Quando concorreu à Câmara em 2002, o hoje presidente da
Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), declarou apenas um bem: um VW Golf. Já em
2014, afirmou possuir um Toyota Corolla 2010 e três imóveis: dois
apartamentos no Rio e uma sala comercial que, segundo ele, haviam sido
doados pela família em 2005. Seus bens cresceram 873% (de R$ 90 mil para
R$ 876 mil). O presidente da Câmara informou que todas as transações
foram declaradas à Receita.
Collor: 24,2 milhões de patrimônio e 14 carros declarados
- Ailton de Freitas/11-04-2017 / Agência O Globo
Chefe
da outra Casa legislativa, o presidente do Senado, Eunício de Oliveira
(PMDB-CE), também teve um crescimento substancial de patrimônio, apesar
de ter partido de outro patamar. Eunício enriqueceu 139% entre 2002 e
2014, com seus bens passando de R$ 49,2 milhões para R$ 117, 8 milhões.
Na disputa de 2014, o presidente do Senado declarou, entre outras
coisas, ser dono de fazendas, apartamentos, uma casa de R$ 6 milhões em
Brasília, além de possuir R$ 158,5 mil em espécie. Eunício afirmou que a
evolução é “decorrente da venda de participações acionárias em duas
empresas das quais era sócio”.
Outro caso em que a compra de imóveis influenciou o
crescimento patrimonial é o do filho do ex-governador de Goiás Maguito
Vilela, Daniel Vilela. Ele viu seus bens aumentarem 862% entre 2010 e
2014. Passou a ter uma casa em um condomínio fechado e dois terrenos em
loteamentos em vez de só um apartamento. Já o deputado Dimas Fabiano
(PP-MG), filho do ex-presidente de Furnas Dimas Toledo, comprou dois
apartamentos e seis terrenos nos últimos 16 anos, desde que entrou para a
política.
Nem sempre o incremento de mais de 100% no patrimônio se
reflete em bens milionários. Embora tenha tido uma variação de 133%
entre 2006 e 2014, o deputado federal Carlos Zarattini (PT-SP) argumenta
que mantém praticamente a mesma quantidade de bens: um imóvel, um carro
e aplicações financeiras. Segundo ele, os valores são diferentes porque
vendeu uma casa e adquiriu outro imóvel financiado. A casa antiga,
segundo Zarattini, foi declarada até 2006 com o valor da compra, que já
estava defasado. Como o mercado imobiliário se aqueceu, o novo imóvel
tem um valor inicial mais alto.
Nenhum comentário:
Postar um comentário