segunda-feira, 23 de outubro de 2017

Análise: Temer faz política
A frase pode parecer óbvia, mas está escondida nas `indecisões‘ do presidente
Flávio Tabak - O Globo
Michel Temer cria portaria que dificulta combate ao trabalho escravo. Temer afirma em entrevista que mudou de ideia e vai criar regras novas do trabalho escravo, com sugestões da procuradora-geral da República, figura máxima do órgão que o acusa de corrupção passiva, organização criminosa e obstrução à Justiça. O presidente extinguiu reserva mineral na Amazônia do tamanho da Dinamarca. A Gisele Bündchen chora, o senador grita, o Facebook berra. Para tudo. Muda-se de ideia, a reserva continua extinta agora com regras mais, digamos, palatáveis.
O aparente morde e assopra é típico de um político experiente como Temer, que foi constituinte, três vezes presidente da Câmara dos Deputados e, não menos importante para suas habilidades, presidente do PMDB. Segurou feras como Renan, Jucá, Eunício, Jader Barbalho e outros tantos.
Temer é o político que pode assumir o provérbio daquela raposa esperta, que consegue tirar a meia sem tirar o sapato. Afora as acusações da Lava-Jato, a conta que lhe espera do lado de fora do Planalto, além dos amigos e ex-amigos presos, Temer é um vencedor de curto prazo. Caminha para derrubar a segunda denúncia da Procuradoria-Geral da República. Uma proeza mesmo sendo o presidente mais rejeitado de todos, com raquíticos 3% de aprovação. O que lhe confere curiosa estabilidade, “daqui eu não passo”. Por que será que, hoje, um impeachment de Temer é improvável?
Precisa dos ruralistas? Os surpreenda com decisões inéditas, portarias, regras. Repercussão negativa, histeria? Volta atrás, mas não 100%. Talvez 20%, 40%, 80%, depende do que topar freguês. Já é alguma coisa, um passo.
De grão em grão, rumo à cerimônia de posse de seu sucessor, em janeiro de 2019.
Quem sabe um aliado?

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