Análise: Temer faz política
A frase pode parecer óbvia, mas está escondida nas `indecisões‘ do presidente
Flávio Tabak - O Globo
Michel Temer cria portaria que dificulta combate ao trabalho escravo.
Temer afirma em entrevista que mudou de ideia e vai criar regras novas
do trabalho escravo, com sugestões da procuradora-geral da República,
figura máxima do órgão que o acusa de corrupção passiva, organização
criminosa e obstrução à Justiça. O presidente extinguiu reserva mineral
na Amazônia do tamanho da Dinamarca. A Gisele Bündchen chora, o senador
grita, o Facebook berra. Para tudo. Muda-se de ideia, a reserva continua
extinta agora com regras mais, digamos, palatáveis.
O aparente morde e assopra é típico de um político experiente como
Temer, que foi constituinte, três vezes presidente da Câmara dos
Deputados e, não menos importante para suas habilidades, presidente do
PMDB. Segurou feras como Renan, Jucá, Eunício, Jader Barbalho e outros
tantos.
Temer é o político que pode assumir o provérbio daquela raposa
esperta, que consegue tirar a meia sem tirar o sapato. Afora as
acusações da Lava-Jato, a conta que lhe espera do lado de fora do
Planalto, além dos amigos e ex-amigos presos, Temer é um vencedor de
curto prazo. Caminha para derrubar a segunda denúncia da
Procuradoria-Geral da República. Uma proeza mesmo sendo o presidente
mais rejeitado de todos, com raquíticos 3% de aprovação. O que lhe
confere curiosa estabilidade, “daqui eu não passo”. Por que será que,
hoje, um impeachment de Temer é improvável?
Precisa dos ruralistas? Os surpreenda com decisões inéditas,
portarias, regras. Repercussão negativa, histeria? Volta atrás, mas não
100%. Talvez 20%, 40%, 80%, depende do que topar freguês. Já é alguma
coisa, um passo.
De grão em grão, rumo à cerimônia de posse de seu sucessor, em janeiro de 2019.
Quem sabe um aliado?
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