Lava-Jato diz que recibos de aluguel de apartamento apresentados por Lula são falsos
Força-tarefa quer que documentos sejam periciados para verificar se houve 'montagem'
Gustavo Schmitt - O Globo
A força-tarefa da Lava-Jato afirmou que são falsos os recibos de aluguel apresentados pela defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como provas de pagamento de aluguel do apartamento vizinho ao que o petista mora em São Bernardo do Campo. O Ministério Público Federal (MPF)
protocolou na noite da última quinta-feira ao juiz Sergio Moro o
chamado "incidente de falsidade" para apurar a autenticidade dos
documentos.
Em nota, o MPF disse que as provas demonstram que o contrato de
aluguel do apartamento e os recibos são “papéis criados para disfarçar a
real titularidade do imóvel usado pelo ex-presidente, que foi
comprovadamente comprado com recursos oriundos da Odebrecht.”
Na semana passada, O
GLOBO revelou que o empresário Glaucos da Costamarques diz ter assinado
de uma vez só todos os recibos de aluguel referentes ao ano de 2015.
Dono do apartamento alugado ao ex-presidente — que, para a força-tarefa
da Lava-Jato, foi comprado com propina da Odebrecht — Costamarques
sustenta que não recebeu qualquer aluguel de fevereiro de 2011 até
novembro de 2015, quando seu primo José Carlos Bumlai foi preso.
Um dia depois da prisão, internado num hospital em São Paulo,
Costamarques teria recebido a visita do advogado Roberto Teixeira,
compadre de Lula, dizendo que os aluguéis passariam a ser pagos. Pouco
depois, foi procurado pelo contador, João Leite, que a pedido de
Teixeira, levou a remessa de recibos para serem assinados.
Os procuradores pediram a Moro que os recibos fossem periciados, além
da produção de novas provas que possam contribuir para evidenciar a
falsidade e “identificar o momento em que foram apostas as assinaturas
em cada qual, deslindando quando os recibos foram confeccionados, e
verificar se houve adulterações e/ou montagens desses documentos”.
Os recibos, referentes ao período entre agosto de 2011 e novembro de
2015, foram apresentados pelos advogados de Lula no último dia 26. O
material chamou a atenção dos investigadores por apresentar incorreções:
dois deles trazem datas que não existem — 31 de junho de 2014 e 31 de
novembro de 2015. Outros seis recibos trazem erros de digitação. O nome
da cidade onde fica o apartamento foi escrito como “São Bernanrdo”.
Lula comprou o apartamento 122 do Edifício Green Hill, em São
Bernardo do Campo, em 2000. Durante seus dois mandatos, o governo
federal alugou o imóvel vizinho, de número 121 por questões de segurança
e o contrato expirou em janeiro de 2011. No fim de 2010, o apartamento
foi colocado à venda e o comprador foi Glaucos Costamarques, primo do
pecuarista José Carlos Bumlai, amigo de Lula.
O ex-presidente nega as acusações.
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