terça-feira, 3 de outubro de 2017

Lula personifica tolerância à corrupção diante de ações sociais 
MAURO PAULINO/ALESSANDRO JANONI - FSP
Pesquisa Datafolha divulgada nos últimos dias trouxe uma aparente contradição: como pode a maioria dos brasileiros defender a prisão do ex-presidente Lula, em função da Operação Lava Jato, mas mesmo assim escolher novamente o petista para ocupar o cargo nas eleições do próximo ano?
Uma observação mais atenta dos resultados e da frequência de suas ocorrências já esclarece bastante a questão. A posição sobre a pena de Lula está longe de ser unânime –com base no total da amostra, 54% acham que ele deve ser preso, mas 66% duvidam que isso aconteça de fato.
A reprovação de sua prisão chega a 81% entre seus eleitores, mas mesmo entre os que apoiam determinados candidatos, como Marina Silva, por exemplo, um quarto do estrato é contra.
Nas simulações eleitorais, seu melhor desempenho soma 48% numa hipótese de confronto contra João Doria (PSDB) no segundo turno. Com base em sua taxa de rejeição (42%), é possível afirmar que seu potencial máximo, hoje, chega a 58% das intenções de voto.
O conjunto destes dados, com percentuais muito próximos a 50%, mostra, na verdade, a opinião pública dividida em relação à figura do ex-presidente.
A conclusão, no entanto, nos remete a outro paradoxo: como Lula consegue manter esse capital eleitoral, em meio a denúncias da Lava Jato, mesmo com 87% dos entrevistados dizendo que valorizam muito um candidato a presidente que nunca tenha se envolvido em casos de corrupção?
A resposta está no grau de concordância dos brasileiros com algumas frases aplicadas pelo Datafolha para medir a tolerância da população com a corrupção na política.
FINS
Da análise conjunta de uma matriz com seis frases, quatro de correlação direta com o tema, percebe-se que essa taxa elevada de eleitores que condenam tal crime cai praticamente pela metade quando ele é associado a determinados fins.
No total, apenas 40% dos entrevistados mantêm-se firmes na posição de condenar a corrupção sob qualquer aspecto. A maioria (60%) a admite, mesmo que em parte, em algum momento, dependendo da finalidade a que é associada.
Entre os que pretendem votar em Lula, eleitorado de menor renda e baixa escolaridade, esse percentual chega a 77%. Também é elevado entre os mais jovens.
Com tal perfil, fica fácil compreender, dentre as frases testadas, o motivo da afirmação "a corrupção é até aceitável se ela servir para manter um governo que combata a pobreza" ser a que mais divide opiniões.
Entre os que querem votar no ex-presidente, 38% discordam totalmente do ponto, enquanto 50% concordam pelo menos em parte. Entre os eleitores de Bolsonaro, essas taxas correspondem a 72% e 21%, respectivamente.
Outras frases que relativizam junto ao eleitorado a criminalização da corrupção são: "A corrupção é até aceitável no país se servir para gerar empregos e fazer a economia crescer" e "Se um governante administra bem um país não importa se ele é corrupto ou não".
A explicação para a tolerância com a corrupção diante de ações sociais está justamente no peso quantitativo do eleitorado mais carente –em um universo onde 47% têm renda familiar mensal de até dois salários mínimos, taxa que cresce para 66% quando se inclui até três salários, a demanda por políticas públicas para a diminuição da desigualdade sempre gera apelo eleitoral.
Em tempo: a maioria dos entrevistados concorda, mesmo que em parte, com a frase: "Tanto as qualidades quanto os defeitos dos políticos brasileiros são um retrato da população do país".

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