Um momento oportuno para sanear o esporte
É hora de remontar federações e confederações
que têm papel central no desenvolvimento dos atletas, para que esporte
brasileiro não frequente as páginas policiais
O Globo
As prisões de Carlos Arthur Nuzman — presidente afastado do Comitê
Olímpico do Brasil (COB) e ex-presidente da Confederação Brasileira de
Vôlei (CBV) — e de seu braço-direito Leonardo Gryner, na última
quinta-feira, pela Polícia Federal, sacudiram o mundo do esporte. Eles
são acusados de participar de um esquema de compra de votos de membros
do Comitê Olímpico Internacional (COI) para escolha do Rio como sede dos
Jogos Olímpicos de 2016. De acordo com as investigações da Operação
Unfairplay, o esquema criminoso era comandado pelo ex-governador Sérgio
Cabral, que está preso, e envolvia ainda o empresário Arthur Soares, o
“Rei Arthur", o presidente da Federação Internacional de Atletismo, o
senegalês Lamine Diack, e seu filho Papa Massata Diack. O Ministério
Público Federal investiga se, em troca de propina, Lamine teria
conduzido uma votação em bloco para que o Rio sediasse a primeira
Olimpíada da América do Sul.
O
escândalo olímpico amplia ainda mais a folha corrida do esporte
brasileiro. Os antecedentes são numerosos. Ex-presidente da poderosa
Confederação Brasileira de Futebol (CBF), José Maria Marin cumpre prisão
domiciliar em seu apartamento na Trump Tower da Quinta Avenida, em Nova
York. Ele é acusado de participar de esquema de propina envolvendo
direitos de transmissão em competições como Copa do Brasil, Libertadores
e Copa América, um dos mais rumorosos casos de corrupção do futebol
mundial. O atual presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, e o
ex-presidente Ricardo Teixeira também são réus no processo.
Já o ex-presidente da Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos
(CBDA) Coaracy Nunes Filho foi preso em abril deste ano, durante a
Operação Águas Claras, do Ministério público de São Paulo, acusado de
desviar R$ 40 milhões em recursos públicos repassados à entidade.
Coaracy é um exemplo das distorções que regem o esporte brasileiro.
Ele dirigiu a CBDA por 29 anos, tornando-se um dos cartolas mais
longevos do país. O próprio Nuzman também se perpetuou no poder. No fim
do ano passado, foi reeleito para o cargo no COB pela sexta vez
consecutiva. Somado o tempo em que esteve à frente da CBV, são 42 anos
como dirigente.
Este momento em que treme o chão das arenas do país pode ser oportuno
para sanear o esporte brasileiro. É hora de remontar essas entidades,
que têm papel central no desenvolvimento do esporte no Brasil.
Reportagem do GLOBO publicada sexta-feira mostrou que a Lei 12.868, de
outubro de 2013, que estabelece no máximo dois mandatos de quatro anos
para dirigentes de federações e confederações, tem sido jogada para
escanteio. Enquanto isso, cartolas se perpetuam no poder em gestões
pouco transparentes. Ora, quem não cumpre a lei não pode continuar a
receber verba pública, como vem acontecendo. É preciso urgentemente
resgatar o esporte nacional das páginas policiais.
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