Washington se prepara para a corrida presidencial brasileira
Matias Spektor - FSP
Quem lida com o Brasil em Washington faz parte de um círculo pequeno,
mas com grande impacto sobre o nosso ciclo eleitoral: a simpatia do
establishment americano facilita ou dificulta as chances de qualquer
candidatura presidencial. Isso ocorre porque o tom utilizado naquela
capital a respeito dos candidatos à Presidência da República molda as
expectativas do mercado e este, por sua vez, afeta as preferências do
eleitor. Não à toa, todos os presidentes do ciclo democrático buscaram
operar em Washington durante os longos meses de campanha.
Agora, pela primeira vez em mais de um ano, a leitura daquela cidade sobre a crise brasileira ganha contorno claro.
Temer, por exemplo, virou tóxico. A imagem das malas de Geddel
e as pesquisas de opinião contaminaram de vez a conversa sobre o Brasil
no Executivo e no Legislativo. Ninguém acha que o presidente vá cair e,
no Tesouro e em Wall Street, há otimismo a respeito das reformas
econômicas. Mas corre solta a fofoca segundo a qual investidores
estrangeiros interessados nas novas privatizações continuam sendo
acossados por membros da classe política brasileira em busca de
vantagens indevidas.
O PSDB já perdeu a reputação amealhada. Aécio é motivo de chacota e, na
semana passada, quando FHC esteve na cidade para repetir que as
instituições brasileiras "estão funcionando", a mensagem foi recebida
com doses volumosas de sarcasmo, pois a tese não para em pé. Geraldo
Alckmin continua desconhecido, apesar da relevância de São Paulo nos
bancos de fomento sediados naquela capital. E todos querem saber se ele
está envolvido na Lava Jato.
Menções a Lula sempre vêm acompanhadas de perguntas sobre suas chances
de prisão. Também cresce a analogia entre ele e Lopez Obrador, candidato
mexicano à Presidência que selou reputação em Washington como
desvairado e irresponsável.
Quem mais gera curiosidade neste momento é Doria. Numa cidade sedenta
por identificar uma liderança com a qual o establishment americano possa
fazer negócio, o prefeito nada de braçada. Isso poderá acabar de
súbito, caso apareça outra personalidade capaz de se comunicar bem
naquele ambiente.
A incógnita é Bolsonaro. Prestes a embarcar em sua primeira missão a Washington,
o deputado é novidade exótica no mapa eleitoral. Em que pesem suas
condenações na Justiça por apologia ao estupro e declarações racistas e
homofóbicas, ele encontrará uma cidade aberta ao jogo. Mesmo que sua
retórica destoe da realidade, ele poderá emplacar uma imagem de
conservador cordato, com política econômica ortodoxa e foco em segurança
pública. É o tipo de pacote que o establishment gosta de comprar.
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