quinta-feira, 22 de novembro de 2012

"AMÉLIAS" DO ISLÃO II

Uso do véu é obrigação como ir à missa, diz líder islâmica da Espanha
Jaime Prats - El Pais
K.M. Chaudary/AP
Mulheres realizam protesto a favor do uso do véu, em Lahore, no Paquistão
A história pessoal de Amparo Sánchez, 59 anos, é no mínimo atípica. E ela é a primeira a admitir: "Sempre fui um pouco bicho raro". Seu pai foi sacristão na Basílica da Virgem dos Desamparados de Valência, ela foi irmã de Maria - membro de uma entidade católica que ajuda os pobres - na adolescência, passou por uma crise de fé, por uma etapa de militância na esquerda e de desengano da política, até que, com os anos, se aproximasse e finalmente se convertesse ao islamismo em 1996. "Minha mãe fez o mesmo alguns anos depois, antes de morrer", acrescenta ao relato de seu percurso de vida.
No sábado passado (17) esta valenciana foi eleita vice-presidente da Comissão Islâmica da Espanha (CIE), órgão religioso que representa os muçulmanos no país. "Foi uma verdadeira surpresa", explica, sentada em uma das mesas do restaurante Balensiya, que dirige com seu marido, Rachid, um marroquino nacionalizado espanhol. "Eu comentava aos que me propuseram que não queria, mas afinal não pude negar." Sánchez se refere à nova etapa que a CIE pretende inaugurar. Até agora a comissão, que também é o interlocutor da comunidade muçulmana com o Estado e as administrações públicas, havia sido controlada por duas grandes federações durante 20 anos.
Ainda no sábado, a CIE iniciou uma nova etapa na qual pretende integrar todas as sensibilidades. "O mais positivo é que todos estávamos na mesma sala, sem faltar ninguém", afirma. "Nosso objetivo agora consiste em que o Ministério da Justiça registre os novos estatutos que aprovamos, que nos permitirão abrir a entidade, normalizar seu funcionamento a partir de dentro e lhe dar operacionalidade."
Um dos acordos adotados implica a implementação de uma assembleia permanente de 36 membros que representarão as 1.200 mesquitas que há na Espanha. "Assumi o cargo para fazer parte de uma junta diretora provisória que convocará eleições da qual participaremos todos; então o deixarei." Sánchez chega à CIE depois de ser durante anos a presidente e o rosto público do Centro Cultural Islâmico de Valência, onde conseguiu cultivar uma imagem amável da comunidade islâmica. "Agora a entidade está nas mãos de uma geração mais jovem. A nova junta diretora é paritária. E sem recorrer a cotas", afirma.
A hora da refeição se aproxima e começam a chegar os clientes. "Desculpe, volto logo." Sánchez se levanta, acompanha os comensais a suas mesas e volta para continuar a conversa, amenizada por "xarab andalusí", uma limonada muito doce.
"O uso do véu é uma obrigação religiosa, como a que o católico tem de ir à missa", prossegue. "O que não tem sentido é querer impô-lo à força." Sánchez torce o rosto quando surgem na conversa os imames [autoridade religiosa do islamismo] que defendem o mau tratamento da mulher. E aproveita para censurar a "ingerência política" dos países islâmicos que tentam influir nas comunidades muçulmanas enviando pessoas para dirigir a oração nas mesquitas. "Há muito trabalho para fazer", reflete. "Deveria haver um filtro ou uma entidade que avaliasse a capacidade de uma pessoa para ser imame, e creio que a CIE deve cuidar disso."
Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves

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