Apagão da Eletrobrás
Miriam Leitão - O Globo
As ações da Eletrobras estão sofrendo apagão nas bolsas. Caíram 12% na sexta-feira e 15% ontem. No mês, a queda é de 40% e no ano chega a 60%. O banco inglês Barclay reduziu o preço-alvo da ação para R$ 1. Os analistas dizem que a empresa terá problemas de solvência, caso não seja capitalizada. As perdas com a mudança nas regras do setor elétrico podem passar de R$ 35 bilhões.
As ações da Eletrobras fecharam ontem em R$ 9,8. Ninguém acredita que chegarão a R$ 1, como projetou o Barclay, mas a queda do preço-alvo ilustra o humor dos investidores com o principal grupo de energia do país, responsável por quase 40% da geração e 56% das linhas de transmissão. Alguns estão jogando a toalha.
No início do ano, o valor de mercado da Eletrobras era de R$ 26 bilhões. Ontem, fechou em R$ 11,3 bilhões. A empresa já não vinha tendo bons resultados operacionais, mas o que realmente azedou a relação com os investidores foi a MP 579 que, para reduzir o valor da conta de luz de consumidores e empresas, mexe com a rentabilidade das companhias do setor elétrico.
A Eletrobras é controlada pela União, por isso, deve aceitar as novas regras, apesar das perdas de receita que terá e do prejuízo para os minoritários. A importância da empresa para o setor é enorme: controla 12 subsidiárias e detém 50% de Itaipu.
São duas as frentes de perdas. A primeira, via indenizações, chega a R$ 17 bilhões. A segunda, via receitas, pode passar de R$ 20 bilhões até 2017.
A Eletrobras contabilizava em seu balanço R$ 31 bilhões em indenizações a receber por investimentos já feitos e ainda não amortizados. Com a MP 579, a União disse que pagará R$ 14 bilhões. A empresa, então, terá que dar baixa dessa diferença.
Segundo o presidente do Instituto Acende Brasil, Claudio Sales, se a Eletrobras aceitar a proposta de antecipar a renovação das concessões, o grupo deixará de arrecadar mais de R$ 20 bi até 2017.
— Analisamos usina a usina, com o vencimento de contrato de cada uma, até 2017. Chegamos a uma perda acumulada de R$ 20 bilhões. Tanto para geração quanto para transmissão. É totalmente antieconômico, a Eletrobras estará praticamente quebrada — disse Sales.
A receita operacional da empresa cairá a zero no ano que vem. Ou seja, o que entrar de caixa não será suficiente para pagar a operação dela própria.
Para a analista Karina Freitas, não haverá outra alternativa a não ser a capitalização do grupo:
— A Eletrobras terá que ser capitalizada, seja por meio do Tesouro ou por oferta de ações. O problema é que o mercado está fechado para ela. O próprio grupo já adiou uma emissão de debêntures que estava programada para este mês, no valor de R$ 2 bilhões, para o ano que vem.
Elétricas para segurar a inflação
A inflação alta é o pano de fundo da MP 579, que antecipa a renovação de contratos do setor elétrico. Da mesma forma como vem segurando o preço da gasolina nas bombas, causando prejuízo à Petrobras, o governo vai usar a conta de luz para ajudar o Banco Central no combate à alta dos preços. Por isso, contratos de geração, distribuição e transmissão de energia que venceriam entre 2015 e 2017 serão antecipados para janeiro de 2013. As empresas não esperavam por essa mudança — a MP é de 11 de setembro, tem pouco mais de 60 dias — e trabalhavam com os prazos originais. Esse calendário apertado tem gerado insegurança e provocado volatilidade nas bolsas.
MAU SINAL. A projeção para o PIB brasileiro de 2013 caiu abaixo de 4% pela primeira vez na pesquisa Focus, feita pelo BC. Foi a 3,96%. Já a estimativa para a produção industrial parece otimista demais: alta de 4,15%. Se a indústria decepcionar novamente, no ano que vem, o PIB cairá junto.
Dever de casa feito. A troica conferiu as contas de Portugal e o país vai, sim, receber mais uma parcela do resgate, no valor de € 2,5 bilhões. Não foram poucos os esforços feitos pelos portugueses.
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