sexta-feira, 23 de novembro de 2012

PF indicia chefe do gabinete da Presidência em São Paulo
Policiais vasculharam escritório onde Dilma despacha na capital paulista
Nomeada por Lula em 2003, Rosemary é suspeita de tráfico de influência; número 2 da AGU também é alvo
NATUZA NERY - ANDREZA MATAIS - JOSÉ ERNESTO CREDENDIO
A Polícia Federal apreendeu ontem documentos no escritório da Presidência da República em São Paulo e indiciou a chefe de gabinete regional Rosemary Novoa de Noronha, 57.
Conhecida como Rose, ela é investigada na Operação Porto Seguro, como revelou a Folha ontem em seu site.
A apuração se refere a grupo formado por funcionários públicos e advogados suspeitos de tráfico de influência e pagamento de propina em órgãos federais.
Rose foi nomeada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e mantida no cargo por Dilma Rousseff. Antes disso, trabalhou no PT por quase quase 12 anos com o ex-ministro José Dirceu.
A função de seu atual cargo é prestar "apoio administrativo e operacional ao presidente da República, ministros de Estado, secretários especiais e membros do gabinete pessoal do presidente da República" em São Paulo.
A presidente Dilma foi informada da operação e, oficialmente, não irá fazer comentários sobre o caso.
A operação Porto Seguro prendeu dois apadrinhados de Rosemary na administração federal: os irmãos Paulo Vieira, diretor da ANA (Agência Nacional de Águas), e Rubens Vieira, diretor da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), ambos nomeados por Lula, sob indicação de Rose. Uma de suas filhas trabalha como assessora de Rubens Vieira na Anac.
Os policiais federais também recolheram documentos e copiaram arquivos eletrônicos nas salas dos irmãos nas duas agências. Os escritórios foram lacrados após a visita da PF para evitar interferência sobre eventuais provas.
A suspeita contra Rose é de corrupção, tráfico de influência e falsidade ideológica.
Ela teria exigido e recebido vantagens financeiras por parte dos dois irmãos, inclusive pagamento por cirurgia plástica, para prestação de um apartamento e viagem de cruzeiro.
A PF queria apreender computadores, mas Rose teria reagido energicamente e ameaçado informar a Presidência. A apreensão foi tumultuada.
Segundo a Folha apurou, ela chegou a ir à delegacia, mas não teria prestado depoimento, o que deve fazer nos próximos dias. Rose, que chorava muito, teve de ser consolada por seu advogado.
A PF também realizou o mesmo procedimento na residência da funcionária em São Paulo por volta das 6h da manhã de ontem.
Ela conheceu o ex-presidente nos anos 1990. Começou a trabalhar no governo federal em fevereiro de 2003, como assessora especial do gabinete regional. Passou a chefe da unidade em 2005.
AGU
Também houve apreensão de documentos na Advocacia-Geral da União. O alvo é José Weber Holanda, braço direito de Luís Inácio Adams, que comanda a pasta.
Segundo o superintendente da PF em São Paulo, delegado Roberto Troncon Filho, a suposta quadrilha exercia tráfico de influência em órgãos como ANA, AGU, Tribunal de Contas da União, Secretaria de Patrimônio da União, Anac e Antaq (portos) e Ministério da Educação.
O esquema foi informado à PF por um ex-funcionário do TCU, que alegou ter sido procurado por um advogado para emitir pareceres técnicos favoráveis a uma empresa em troca de R$ 300 mil.
Após receber R$ 100 mil, o delator teria se arrependido e prestou depoimento à PF em São Paulo, em março de 2011, quando começaram as apurações. O processo, na 5ª Vara Federal de São Paulo, corre sob segredo de Justiça.
Ao divulgar a operação, Troncon reiterou a todo momento que não há participação do primeiro escalação de nenhum dos órgãos.
Além dos dois diretores de agências, foram presos dois advogados e um empresário em São Paulo.
Os investigados foram indiciados por corrupção ativa e passiva e formação de quadrilha.
"Não se tratava de um caso isolado, o grupo contava com servidores das agências e prestava serviços a empresas. Elaboraram pareceres sob medida, comprados", disse Troncon.

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