Sem medo de mistificar
OESP - Editorial
É inacreditável a capacidade que o PT tem de mistificar quando a situação lhe
é adversa, e de jogar abertamente com dois pesos e duas medidas quando se trata
de defender seus próprios interesses. Nos últimos dias, os companheiros de Lula
deram pelo menos dois magníficos exemplos de como não se encabulam de subestimar
a inteligência do distinto público e fazer pouco do senso comum. O primeiro, ao
avaliar o resultado das eleições municipais paulistanas. O segundo, ao afrontar
mais uma vez a Suprema Corte a propósito do mensalão.
A executiva estadual do PT, reunida para fazer uma avaliação do pleito,
emitiu nota oficial em que afirma: "A sociedade falou em alto e bom tom que o PT
não está e nunca esteve no banco dos réus", porque o resultado das urnas "abafou
as vozes daqueles que tentaram fazer do julgamento do Supremo Tribunal Federal -
STF - (mensalão) um instrumento de desgaste e de destruição da sigla". De fato,
a Ação Penal 470 jamais colocou no banco dos réus o PT, mas apenas seus
dirigentes máximos, pelo menos do número dois para baixo, durante o primeiro
mandato presidencial de Lula. E condenou-os um colegiado constituído, na maior
parte, de ministros nomeados por dois presidentes da República petistas. Esses
juízes consideraram procedente a peça acusatória apresentada por dois chefes do
Ministério Público Federal colocados no cargo por Lula: Antonio Fernando de
Souza, que iniciou as investigações, e Roberto Gurgel, que formalizou a
denúncia.
Se, como quer o PT, sua vitória em São Paulo significa uma clara manifestação
de desaprovação dos paulistanos às condenações do STF e um atestado de inocência
conferido aos acusados petistas, isso quer dizer também, contrario sensu, que as
derrotas do PT em Belo Horizonte, Recife, Porto Alegre, Salvador, Fortaleza,
Manaus, Belém, Campinas e outras centenas de municípios significam apoio às
decisões da Suprema Corte. Por esse critério, as coisas vão muito mal para o PT,
que afinal venceu as eleições com candidato próprio em apenas 635 cidades, que
equivalem a uma população de 58 milhões dos 190 milhões de brasileiros. Fica
combinado, então, que mais de 130 milhões de brasileiros condenam José Dirceu
& Cia.
Por outro lado, o presidente nacional do PT, o iracundo Rui Falcão, anunciou
que o partido divulgaria um manifesto contendo críticas ao que classifica de
"politização" do julgamento do mensalão pelo Supremo, que, pressionado pela
mídia "de direita", estaria ameaçando as liberdades individuais consagradas pela
lei penal e pela Constituição. Os petistas estavam esperando apenas a realização
do segundo turno do pleito municipal para saírem em defesa de seus dirigentes
condenados por corrupção, peculato, lavagem de dinheiro e outros delitos. E
Falcão deixou claro, ao arrepio do Estatuto do PT, que os apenados não serão
expulsos. Afinal, os petistas consideram Dirceu, Genoino, Delúbio e João Paulo
Cunha "prisioneiros políticos" julgados por um "tribunal de exceção" - todos
eles cidadãos que têm "serviços prestados ao País".
Na verdade, é o PT quem está politizando o debate sobre o mensalão. Insistem
os seguidores de Lula que os ministros da Suprema Corte estão julgando sob
pressão da mídia e de uma opinião pública por ela manipulada. É quase um insulto
à biografia dos ministros, a maioria dos quais passou pelo crivo do comando
petista no processo de escolha para compor o STF. Além disso, o argumento
tropeça em outra incongruência. Se a opinião pública está pressionando a favor
da condenação do mensalão, por que teria colocado nas urnas, "em alto e bom
tom", um voto de absolvição dos mensaleiros?
Persistindo nas incongruências, afirmam os petistas que o mensalão é "uma
farsa", ou seja, nunca existiu, mas asseguram que foi inventado, em Minas
Gerais, em 1998, pelo mesmíssimo Marcos Valério, a serviço da campanha de
reeleição do tucano Eduardo Azeredo. Esse escândalo já foi denunciado ao STF
pelo Ministério Público e está entregue à relatoria do ministro Joaquim Barbosa.
Só falta o PT - para manter-se coerente com sua incoerência - sair também em
defesa dos mensaleiros tucanos, acusados das mesmas práticas criminosas que
estão levando a cúpula petista à cadeia.
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