quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Mesmo enfraquecidos, republicanos têm poder para limitar Obama
Michael D. Shear - NYT
Faz 45 dias que os eleitores reafirmaram sua fé no presidente Barack Obama e endossaram sua agenda política para os próximos quatro anos.
Mas, se alguma coisa foi aprendida desde então, é que o poder do presidente em Washington continua severamente restrito por uma oposição republicana que amarga suas perdas, não se comove com a vitória de Obama e não está disposta a compromissos sobre política social, economia ou relações exteriores.
Os deputados republicanos em particular afirmam que também ganharam eleições e veem sua capacidade de manter o controle da Câmara como uma garantia do direito a conservar suas opiniões, mesmo quando se chocam fortemente com as do presidente.
A disputa na capital do país cristalizou os desafios que Obama enfrenta enquanto se prepara para iniciar o segundo mandato no mês que vem.
No presidente da Câmara, John A. Boehner, o presidente tem um parceiro para acordos que é incapaz de unir os republicanos atrás de seus próprios planos, quanto menos de algum acordo que ele possa fazer com Obama. Em uma entrevista coletiva na manhã de sexta-feira (21), Boehner basicamente admitiu que está ficando sem ideias para evitar grandes aumentos de impostos e cortes de gastos no início do próximo ano.
"Como chegaremos lá", disse Boehner aos repórteres, "só Deus sabe".
Do outro lado da cidade, alguns minutos depois, autoridades da Associação Nacional do Rifle deixaram claro o que os deputados republicanos vinham sussurrando toda a semana: o pedido do presidente para um controle de armas depois do tiroteio em Connecticut tem encontrado uma tremenda oposição.
Wayne LaPierre, o vice-presidente executivo do grupo de armas de fogo, deixou claro que a NRA não apoiará o pedido de controle de armas do presidente, recomendando em vez disso um programa de "escudo para escolas", com guardas de segurança armados nas escolas do país, assim como um banco de dados nacional para rastrear os doentes mentais.
"A única coisa que detém um bandido armado é um homem bom armado", disse LaPierre em uma entrevista coletiva que foi interrompida por protestos e não permitiu perguntas dos repórteres.
Ao mesmo tempo, a Casa Branca disse na sexta-feira que indicaria oficialmente o senador John Kerry, de Massachusetts, como a opção de Obama para liderar o Departamento de Estado --uma decisão que Obama foi obrigado a fazer depois que os republicanos efetivamente bloquearam sua primeira opção, Susan Rice, a embaixadora na ONU.
Rice, uma antiga confidente de Obama, nunca foi formalmente nomeada, mas não era segredo na Casa Branca que o presidente gostaria que ela sucedesse Hillary Clinton no início do ano que vem. Mas, mesmo nos calcanhares de sua vitória eleitoral, Obama foi incapaz de superar a oposição republicana --liderada pelo senador John McCain-- a sua nomeação.
Pesquisas sugerem que a popularidade de Obama atingiu seu ponto mais alto desde o anúncio da morte de Osama bin Laden. Na última pesquisa da CBS News, o índice de aprovação do presidente foi de 57%.
Mas, tomados em conjunto, os eventos das últimas cinco semanas sugerem que mesmo essa melhora nas pesquisas pouco fez para dar ao presidente o tipo de autoridade clara para aplicar as políticas que os eleitores pareciam desejar durante a eleição.
Mesmo alguns dos assessores mais próximos do presidente dizem que estão surpresos com a ferocidade da oposição republicana.
"É um tipo de coisa assustadora ver o caminho em que isso se desenrolou, pelo menos até hoje", disse David Axelrod, um dos mais antigos assessores de Obama. "A questão é: como você se livra dessas vozes estridentes?"
Axelrod disse que a eleição parecia não ter tido consequências sobre os adversários mais ferrenhos do presidente na Câmara republicana, muitos dos quais continuam decididos a bloquear todas as suas medidas.
"Temos membros do Congresso que simplesmente não querem se comprometer e não querem ceder à vontade do povo americano ou às exigências do momento", disse Axelrod.
Isso ainda poderá mudar. Obama ainda pode chegar a algum tipo de acordo com o Congresso para evitar uma crise fiscal que alguns preveem que poderá mergulhar o país de volta na recessão. A Casa Branca diz que continua esperançosa.
Depois, Obama fará seu segundo discurso de posse, dando-lhe a oportunidade para defender sua tese junto ao público americano sobre a direção em que quer levá-lo no segundo mandato.
Algumas semanas depois disso, ele fará o discurso sobre o Estado da União, que já prometeu usar como um apelo para as novas leis de controle de armas.
Essas oportunidades poderão dar ao presidente um novo ímpeto político no novo ano.
Ele vai precisar disso. Aconteça o que acontecer durante o restante deste mês, Obama enfrentará desafios econômicos a partir de janeiro, incluindo a probabilidade de um extenso debate com os republicanos sobre como reformular o código fiscal do país.
A equipe do presidente precisará defender Kerry no Senado, passando pelo que parece ser uma oposição mínima republicana. Mas seus indicados para outros cargos --incluindo talvez Chuck Hagel, o ex-senador de Nebraska, para secretário da Defesa-- poderão enfrentar perguntas mais duras.
A luta pelo controle de armas que ele prometeu travar também vai competir por tempo e energia com uma batalha sobre a reforma abrangente da imigração, que Obama também disse que quer começar no início do próximo ano.
Em uma entrevista coletiva na quarta-feira, o presidente manifestou esperança sobre encontrar maneiras de fazer compromissos com seus adversários, mas também lamentou a oposição que enfrenta dos republicanos.
"Eles continuam encontrando maneiras de dizer não, em vez de encontrar maneiras de dizer sim", disse Obama a respeito da luta sobre impostos e gastos.
Sobre a questão das armas, ele reconheceu o desafio de aumentar o controle de armas diante da oposição política desses mesmos republicanos. "Não vai ser fácil", disse.
Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves

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