sexta-feira, 27 de junho de 2014

Ameaça de epidemia do Chikungunya provoca alerta sanitário na América Central
Jan Martínez Ahrens - El País
Vincent Robert/IRD/AFP
Cientistas franceses anunciaram uma nova espécie de mosquito encontrada na ilha de Mayotte, no oceano Índico, perto da África, que pode ser um potencial transmissor do vírus Chikungunya Cientistas franceses anunciaram uma nova espécie de mosquito encontrada na ilha de Mayotte, no oceano Índico, perto da África, que pode ser um potencial transmissor do vírus Chikungunya
O iminente desembarque do vírus da dor, o temido Chikungunya, pôs a América Central em alerta sanitário. A doença, originária da África, se estendeu em poucos anos com uma velocidade vertiginosa pelos quatro cantos do planeta. Sua última zona de propagação epidêmica foi o Caribe, onde em dezembro de 2013 foram detectados dois afetados e hoje já são mais de 5.200 casos confirmados (21 mortos) e 183 mil suspeitos. Desse enclave, no qual continua se multiplicando, deu seu novo e ameaçador salto para terras centro-americanas.
Em El Salvador já se registraram 1.200 casos, a Venezuela reconheceu 12, Cuba outros seis e o Panamá, dois. Diante dessa incipiente expansão, o México fortaleceu sua rede de detecção, a Guatemala declarou alerta sanitário preventivo e Honduras começou a formar equipes de resposta. Tanto a Costa Rica como a Nicarágua já trabalham com a ideia de que o vírus aparecerá de um momento para outro.
A febre, transmitida por mosquitos, raramente é mortal, mas gera fortes dores nas articulações e nos músculos que, em alguns casos, podem durar meses ou anos. Detectada já em 1770, durante muito tempo foi confundida com a dengue, até que foi isolada pela primeira vez em 1952 na Tanzânia, de onde tomou o nome: Chikungunya, uma expressão bantu que significa dobrar-se e que não deixa dúvidas sobre seus amargos efeitos.
A doença, que é acompanhada de cansaço profundo, náuseas e erupções cutâneas, quase não permite levantar-se do leito. Em pessoas de idade avançada ou recém-nascidos, o risco de mortalidade dispara. Para o Chikungunya não há remédio. Até hoje não se desenvolveu um antiviral eficaz. O tratamento se limita a aliviar os sintomas.
Um dos maiores problemas para sua erradicação é que a transmissão depende habitualmente de duas variedades de mosquitos (Aedes aegypti, causador da febre amarela, e Aedes albopictus, o mosquito-tigre), cujas zonas de ação compreendem desde climas tropicais até temperados-frios e com horários de trabalho francamente intensos: atacam desde a primeira hora da manhã até o por do sol, seja ao ar livre ou em espaços fechados. Os efeitos se notam de quatro a oito dias depois da picada, o que dificulta a localização.
Os mapas epidemiológicos da Organização Mundial da Saúde mostram que o vírus, originalmente radicado na África, se propagou ao ritmo da globalização, com enorme impacto. Primeiro, expandiu-se para o leste da África, cruzando o Índico e arrasando o sul da Ásia.
"Desde 2005, Índia, Indonésia, Maldivas, Mianmar e Tailândia notificaram mais de 1,9 milhão de casos", dizem especialistas da OMS.
Com menos força, a febre, através do mosquito-tigre, também chegou à Europa. Na Itália foram tratados em 2007 quase 200 doentes. E na Catalunha, no último mês, se registraram oito casos importados.
Mas a nova grande área de expansão foi o Caribe, a plataforma perfeita para sua entrada na América continental. A cabeça de ponte, por enquanto, é El Salvador, com 1.200 casos e onde já começaram as fumigações sistemáticas, um dos métodos tradicionais para combater essa praga.
"Enfrentamos uma nova doença, mas estamos preparados para a luta", indicou a ministra da Saúde salvadorenha, Violeta Menjívar.
A rápida propagação nesse país se deveu, segundo os especialistas, à forte implantação do mosquito-tigre e ao fato de que, por se tratar de uma doença desconhecida na região, a população ainda não desenvolveu uma barreira imunológica.
Uma das maiores dificuldades para frear o avanço do vírus na América Central é a proximidade de seu maior celeiro: o Caribe. Só na República Dominicana, Haiti, Martinica e Guadalupe foram registrados este ano mais de 150 mil casos suspeitos e quase 4.000 confirmados, segundo a Organização Panamericana de Saúde.
Com este febril caldo de cultivo, a diáspora do vírus para os países vizinhos é extremamente fácil. E basta que um doente seja picado por uma das variedades de mosquito descritas para que o inseto se transforme em um acelerado vetor de transmissão. "Não há como impedir que o Chikungunya entre no país, é impossível cobrir um país inteiro com um mosquiteiro, há centenas de voos entre Costa Rica e os países do Caribe", indicou outro responsável da Saúde do país.
E a passagem para a América Central do Chikungunya significa sua instalação às portas dos EUA, onde já foram registrados 80 casos, embora nenhum continental. A possibilidade dessa expansão foi contemplada desde 2006 pelo Centro de Controle de Doenças Infecciosas, um dos principais órgãos na prevenção de epidemias. Para evitá-lo, mobilizou uma rede de laboratórios de referência e implantou programas de análises rápidas e de treinamento de pessoal de saúde, em colaboração com a Organização Panamericana de Saúde. Também emitiu recomendações aos viajantes, sobretudo ao Caribe, para evitar a infecção (com repelentes de mosquitos e permetrina nas roupas) e conseguir uma rápida detecção em caso de sintomas.
Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves

Nenhum comentário: