sexta-feira, 27 de junho de 2014

UE enfrenta impasse em construir estratégia para depender menos do gás natural da Rússia 
Líderes europeus concordam que a crise na Ucrânia tornou precário o fornecimento de gás natural por parte da Rússia. Contudo, estão divididos quanto ao que fazer. A Polônia quer uma nova união energética europeia, mas outros parecem não ter pressa 
Frank Dohmen e Christoph Pauly - Der Spiegel
Urkainian Emergency Press-Service Service/AFP
Chamas são vistas à distância no gasoduto de gás natural Irmandade, no leste da Ucrânia Chamas são vistas à distância no gasoduto de gás natural Irmandade, no leste da Ucrânia
A chama estava imensa na terça-feira (17), erguendo-se cerca de 200 metros no ar a partir do gasoduto de gás natural batizado de Irmandade, no leste da Ucrânia. A causa da explosão continua sendo um mistério. Mas ela mostrou com um imediatismo chocante o quão vulnerável o fornecimento de energia da Europa se tornou como resultado da agitação na Ucrânia.
Um dia antes da explosão, a gigante de energia russa Gazprom anunciou que só continuaria fornecendo gás para a Ucrânia se o país pagasse adiantado pelas entregas. Como cerca da metade do gás russo que vai para a Europa Ocidental passa pela Ucrânia, os líderes europeus têm um tópico crucial para discutir na sua cúpula em Bruxelas: será que as entregas para os Estados-membros da UE serão afetadas?
Ao mesmo tempo, os líderes europeus também discordam sobre como garantir o fornecimento de gás natural a longo prazo para a Europa. O primeiro-ministro polonês Donald Tusk está determinado a pedir mais solidariedade de seus parceiros europeus. Outros também apoiaram a proposta dele de criar uma união energética para reduzir a dependência da Europa em relação à Gazprom.
Mas, como acontece com frequência na UE, quando se trata de discutir os detalhes, os interesses nacionais divergem e as amizades se dissolvem, particularmente quando o dinheiro entra em cena.
Tusk vislumbra a criação de uma espécie de sindicato de compra para negociar com a Rússia. A Polônia está furiosa por ter de pagar consideravelmente mais pelo gás natural do que os alemães, que são grandes consumidores.
Mas, o ministro da Economia alemão, Sigmar Gabriel, mostrou-se cético. "Há bons motivos pelos quais essas decisões são tomadas pela economia privada", disse ele no início deste mês em um encontro dos ministros de Energia da UE. Até agora, fornecedores alemães como a E.on ou Wintershall têm se dado bem com os russos. Eles têm contratos de longo prazo de até 20 anos com a Rússia, o que lhes garante preços baixos.

Contratos ilegais?

De acordo com pessoas envolvidas com o setor, esses antigos contratos são um obstáculo no caminho da solidariedade europeia. Um gerente do alto escalão da E.on diz que muitos desses acordos proíbem os clientes de revender o gás natural no exterior. Isso significa que o plano da Comissão Europeia de pedir a países da Europa Ocidental para fornecer gás para países do Leste Europeu no caso de uma emergência não é viável.
O executivo da UE está convencido de que essas cláusulas são contra a lei da UE. O comissário europeu Joaquin Almunia lançou uma investigação sobre a Gazprom, em parte por causa desses acordos, e o comissário europeu de energia Günther Oettinger também se mostrou cético. Segundo ele, seria "ilegal se os contratos afirmarem que o gás só pode ser usado na Alemanha".
O financiamento da planejada união energética também tem sido fonte de conflito. De acordo com cálculos da Comissão, cerca de 200 bilhões de euros de investimentos seriam necessários até 2020 para melhorar os gasodutos e rede elétrica para que um único mercado energético europeu pudesse ser criado. A UE só disponibilizou 5,8 bilhões de euros até agora.
Os Estados-membros da UE não conseguiram chegar a um acordo sobre quais medidas precisam ser tomadas antes do próximo inverno. Na atual versão do comunicado final da cúpula, que já está sendo negociada, só se fala em fortalecer "mecanismos de emergência e solidariedade já existentes", como o armazenamento de gás natural. Os poloneses, por outro lado, estão pedindo detalhes concretos, como quem deve entregar gás, a que preço e em que volume.
O tom está ficando mais afiado. "É impossível que não consigamos concordar em algo tão substancial numa crise como esta", reclamou um diplomata polonês. 
Tradutor: Eloise De Vylder

Nenhum comentário: