sexta-feira, 27 de junho de 2014

Modelos árabes no poder são fracassados e devem ser abandonados
Thomas L. Friedman - NYT
O mês passado apresentou ao mundo o que a analista israelense Orit Perlov descreve como os dois modelos de governo árabes dominantes: EIIL e Sissi.
O EIIL, que evidentemente é o Estado Islâmico do Iraque e do Levante, a milícia sunita sanguinária que vem arrancando um novo Estado de áreas sunitas na Síria e no Iraque. E Sissi, ou seja, Abdel-Fattah el-Sissi, o novo homem forte/presidente do Egito, cujo regime foi inaugurado nesta semana sentenciando vergonhosamente três jornalistas da Al-Jazeera à prisão sob acusações claramente forjadas --uma grande nação agindo de forma tão pequena.
Perlov, pesquisadora de redes sociais do Oriente Médio, do Instituto de Estudos de Segurança Nacional da Universidade de Tel Aviv, argumenta que EIIL e Sissi são apenas dois lados da mesma moeda: um eleva "Deus" como o árbitro de toda a vida política e o outro, "o Estado nacional".
Ambos falharam e vão continuar a falhar --e necessitam da coerção para se manterem no poder-- porque não podem oferecer aos jovens árabes e muçulmanos o que eles mais precisam: educação, liberdade e trabalho, de forma que realizem todo o seu potencial e sua capacidade de participar como cidadãos iguais na vida política.
Nós vamos ter que esperar por uma nova geração que "coloque a sociedade no centro", argumenta Perlov, uma nova geração árabe/muçulmana que não pergunte "como podemos servir a Deus ou como podemos servir o Estado, mas como eles podem nos servir".
Perlov argumenta que esses modelos de governo --o hiper-islamismo (EIIL) movido por uma guerra contra os "takfiris", ou apóstatas, que é como extremistas muçulmanos sunitas referem-se a muçulmanos xiitas; ou o hiper-nacionalismo (Sissi) movido por uma guerra contra "terroristas islâmicos", que é como o Estado egípcio chama a Irmandade Muçulmana-- precisam ser esgotados para abrir espaço para uma terceira opção construída sobre o pluralismo na sociedade, na religião e no pensamento.
O mundo árabe precisa finalmente esvaziar os mitos gêmeos de um Estado militar (Sissi) ou de um Estado islâmico (EIIL) na busca pela prosperidade, estabilidade e dignidade. Somente quando as populações em geral "finalmente admitirem que os dois modelos são fracassados e impraticáveis", argumenta Perlov, pode haver "uma chance desta região entrar para o século 21".
A situação não é totalmente desanimadora. Há dois modelos emergentes, frágeis e imperfeitos, em que as nações do Oriente Médio muçulmano construíram uma governança decente com base na democratização da sociedade e com algum pluralismo político, cultural e religioso: Tunísia e Curdistão. Repito, ambos são obras em andamento, mas o que é importante é que emergiram das próprias sociedades. Há também as monarquias relativamente suaves, como a Jordânia e o Marrocos, que pelo menos estão fazendo experimentos com uma governança mais participativa, permitindo alguma oposição, e não governam com a brutalidade dos autocratas seculares.
"Tanto o modelo secular autoritário, recentemente representado por Sissi, quanto o modelo religioso radical, representado atualmente pelo Isis, falharam", acrescenta Marwan Muasher, ex-ministro das Relações Exteriores da Jordânia e autor de "The Second Arab Awakening and the Battle for Pluralism" (O Segundo Despertar Árabe e a Batalha pelo Pluralismo, em inglês), usando outra sigla, Isis, para se referir ao Estado Islâmico do Iraque e do Levante.
"Isso ocorreu porque eles não abordaram as reais necessidades das pessoas: melhorar a qualidade de vida, tanto em termos econômicos e de desenvolvimento quanto na sensação de participação no processo de tomada de decisão. Ambos os modelos têm sido excludentes, apresentando-se como detentores da verdade absoluta e da solução para todos os problemas da sociedade".
Mas o público árabe "não é burro", acrescenta Muasher. "Continuaremos a assistir discursos exclusivistas em grande parte do mundo árabe no futuro previsível, mas os resultados vão acabar superando a ideologia. E os resultados só poderão vir de políticas de inclusão, que deem a todas as forças uma participação no sistema, gerando estabilidade, freios e contrapesos, e por fim, prosperidade. EIIL e Sissi não podem vencer. Infelizmente, pode levar um tempo para esgotar todas as outras opções antes que se desenvolva uma massa crítica conhecedora desse fato básico. Esse é o desafio da nova geração no mundo árabe, onde 70% da população tem menos de 30 anos de idade. A geração mais velha, secular ou religiosa parece não ter aprendido com o fracasso da era pós-independência em alcançar o desenvolvimento sustentável e o perigo das políticas exclusivistas".
Na verdade, o Iraque fundado em 1921 foi-se com o vento. O novo Egito imaginado na praça Tahrir é natimorto. Muitos líderes e seguidores em ambas as sociedades parecem ter a intenção em dar outra chance às suas ideias fracassadas do passado antes de, esperamos, optarem pela única ideia que funciona: o pluralismo político, religioso e educacional. Isso pode demorar um pouco, ou não. Não sei.
Tendemos a entender todas as histórias como se fossem sobre nós mesmos. Mas esta não é sobre nós. Certamente fizemos muitas coisas ignorantes no Iraque e no Egito. Mas também ajudamos a abrir suas portas para um futuro diferente, que seus líderes fecharam totalmente por enquanto.
Daqui para frente, onde houver pessoas realmente comprometidas com o pluralismo, devemos apoiá-las. E onde houver ilhas de decência ameaçadas, devemos ajudar a protegê-las. Mas essa história é principalmente sobre eles, sobre sua necessidade de aprender a viver juntos, sem um punho de ferro no alto, e isso vai acontecer apenas quando --e se-- eles quiserem que isso aconteça.
Tradutor: Deborah Weinberg

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