sábado, 28 de junho de 2014

Jovens veem a história da França como uma sucessão de guerras, diz estudo
Emma Paoli - Le Monde
Archive of Modern Conflict London/Reuters
Marinheiros fazem exercício matinal à bordo de navio de guerra alemão em local desconhecido em foto de 1917 Marinheiros fazem exercício matinal à bordo de navio de guerra alemão em local desconhecido em foto de 1917
O que aconteceu na França entre a sagração de Clóvis e a eleição de François Hollande? Guerras! Enquanto os alunos se debruçam, na sexta-feira (27), sobre a prova de história e geografia para o certificado do ensino secundário [alunos de 14-15 anos], uma pesquisa conduzida junto a 5.823 jovens de 10 a 20 anos revela que os conflitos ocupam, segundo eles, um lugar preponderante na história nacional francesa. Para sua pesquisa chamada "A fabricação do coletivo: relatos de alunos sobre a história nacional", cujos primeiros resultados começam a ser divulgados, os pesquisadores do laboratório Education, Cultures, Politique (ECP) pediram a esses jovens franceses que contassem por escrito, em menos de 45 minutos, a história do país.
Nesses quase 6.000 textos, os acontecimentos militares "ocuparam um lugar muito importante", relata Églantine Wuillot, professora associada do Instituto Francês de Educação (IFE). O termo "guerra" aparece 8.392 vezes no total, alimentando 40% das redações do ensino primário e 75% dos textos do ensino secundário. Alguns jovens demonstraram um assustador poder de síntese: "Resumindo, os franceses sempre foram um povo guerreiro que serve a seus próprios interesses em tempos de expansão ou em tempos de ocupação", contentou-se em escrever um deles. Segundo outro estudante, os últimos vinte séculos "se dividem em três partes: o pré-guerra, o pós-guerra e a guerra."
Duas Guerras Mundiais em peso
Seria possível resumir as redações em somente quatro grandes acontecimentos que marcaram a história da França: as duas guerras mundiais, citadas por 37% deles, o cerco de Alésia (6%) e a Guerra dos Cem Anos (4%). Os outros conflitos figuram com menos de 3% cada um. Os grandes ausentes do imaginário nacional são primeiramente as mulheres. Com exceção da destemida Joana d'Arc, cujo nome é mencionado 207 vezes, há pouquíssimas mulheres. Aparecem Maria Antonieta (122 ocorrências) e Marie Curie, citada somente 14 vezes. É verdade que entre as duas é citada Marianne [representação da República Francesa], com 90 ocorrências, "mas é mais uma personagem do que uma pessoa", observa Laurence De Cock, professora associada no Instituto Francês de Educação.
O panteão masculino é mais abundante, com 120 personalidades no total. "Foi um verdadeiro festival de nomes", avalia De Cock, "os alunos sentem a necessidade de personificar seus relatos", ela diz. Luís 14 repousa confortavelmente no alto do pódio (1.320 ocorrências), seguido por Napoleão (1.238), Carlos Magno (991), Luís 16 (985) e Clóvis (837).
Sarkozy entre Hitler e Júlio César
Restringindo-se aos 1.973 textos dos alunos do 6º ano (11 anos de idade), a classificação seria ligeiramente diferente. Nicolas Sarkozy, aliás, com suas 490 menções, chegaria à 7ª posição. "A pesquisa foi feita na época das eleições presidenciais de 2012", justifica Benoît Falaize, pesquisador na Universidade de Cergy-Pontoise, "e, além disso, a excessiva cobertura midiática do governo anterior provavelmente contribuiu". Assim, o ex-presidente se espremeu entre Adolf Hitler e Júlio César.
"Como os alunos só tinham 45 minutos para fazer a redação, eles recorreram à memória imediata", acredita a diretora do laboratório ECP, Françoise Lantheaume. Segundo ela, "as narrativas às vezes são meio desconexas, mas os alunos inegavelmente sabem muita coisa". Ela lembra que a pesquisa não pretendia "avaliar o conhecimento dos jovens, mas sim saber se eles compartilhavam de uma mesma visão da história, de referências em comum."
Além disso, o Ministério da Educação Nacional já costuma avaliar os conhecimentos dos alunos em história e geografia. Em junho de 2013, ele havia anunciado uma queda no nível dos alunos entre 2006 e 2012. Nesse período, a porcentagem de alunos "fracos" nessas disciplinas passou de 15% para 21% e a dos "bons", de 10% para 6%. "Nota-se um enfraquecimento na assimilação de uma cultura escolar geográfica e histórica", concluiu o Ministério da Educação.

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