Contradição evidente
Zero Hora
Ao
mesmo tempo em que o ministro da Fazenda anuncia um novo pacote de
incentivos à indústria automobilística, administradores das cidades de
maior porte se empenham em desestimular o uso do automóvel e em
valorizar o transporte coletivo. O país não tem como fechar os olhos às
quedas sucessivas na produção da indústria automobilística, que
representa cerca de um quarto do Produto Interno Bruto (PIB) industrial
do país. Até mesmo cidades de médio porte, porém, não comportam mais o
tráfego de veículos particulares, nem dispõem de espaço para
estacionamento. Encontrar um meio-termo, que ao menos sirva para atenuar
essa contradição, é um desafio para os gestores públicos que ganha
ainda mais destaque nesta largada oficial de campanha.
Num país
historicamente voltado para o transporte rodoviário, tanto no caso de
cargas quanto de passageiros, a adoção de um modelo mais diversificado
exige acima de tudo uma profunda transformação cultural. A ênfase dada à
questão da mobilidade urbana nas manifestações de rua a partir de junho
do ano passado vem contribuindo para manter o tema em evidência. Mas há
necessidade de um debate de forma continuada, que ajude a conciliar
melhor os interesses de quem se vale do transporte individual e do
coletivo para se deslocar no cotidiano. A eficiência de um e outro é um
pressuposto para facilitar o trânsito, evitando os transtornos que se
incorporaram à rotina nos centros urbanos.
A elevada dependência que o
país tem da indústria automobilística na geração de riqueza e emprego
não pode restringir a busca de alternativas na área da mobilidade. O uso
de veículos particulares nas proporções de hoje exige contrapartidas de
investimentos em infraestrutura que o país não tem como bancar. Em
consequência, ampliam-se a cada dia as dificuldades tanto para quem
tenta circular sozinho no conforto de seus veículos particulares quanto
em precários ônibus, normalmente lotados, principalmente onde não há
corredores específicos.
O país paga um custo elevado demais para as
suas deficiências de transporte. Os prejuízos vão desde os relacionados
ao tempo em que se fica parado no trânsito até as renúncias fiscais na
tentativa de conter as sucessivas quedas nas vendas de veículos. É
preciso investir na diversificação de forma gradativa, mas com base em
políticas que acenem com alternativas concretas a médio e longo prazos.
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