Fim de festa
ANDRÉ GUSTAVO STUMPF - CB
No próximo sábado, duas
equipes disputarão o terceiro e o quarto lugares na Copa do Mundo. Não é
um título vistoso, mas conta pontos para o ranking da Fifa. Dia
seguinte, haverá a final no Maracanã, no Rio de Janeiro, a catedral
gótica do futebol brasileiro. É pena que falte apenas uma semana para o
campeonato terminar. Alguns turistas vão esticar as férias. A maioria
vai colocar o pé na estrada, no avião, no navio ou no automóvel e voltar
para a casa.
A festa vai acabar.
Depois virá o vazio dos dias sem jogo, sem discussões intermináveis dos
muitos técnicos de futebol que apareceram subitamente em todos os canais
de televisão. A época do nervosismo, da ansiedade, do sofrimento com
prorrogações e penalidades máximas vai terminar. Ficará a memória da
Copa do Brasil, de seus jogos espetaculares, viradas sensacionais e
jogadas magistrais, como o gol de Van Persie. E aí o brasileiro vai
bater de cara com a realidade: eleição presidencial, que não provoca
sensações iguais às do futebol e tem o dom de irritar o espectador.
A Copa termina e a
campanha já estará nas ruas. O pessoal ainda estará curtindo a ressaca
do futebol e a publicidade eleitoral já estará em campo. Ela é permitida
pela lei a partir de amanhã, 6 de julho. No próximo mês, entra no ar a
famosa propaganda eleitoral gratuita que modifica todos os horários dos
programas de televisão e acrescenta pouco ao candidato. Somente aqueles
que disputam a eleição majoritária podem se beneficiar. O resto fica
exposto ao enorme desfilar de votos e propostas sem o necessário
fundamento.
A discussão é se a
televisão - no caso, com o rádio - pode modificar a preferência do
eleitor. Na eleição de 1989 - que foi solteira, ou seja só o cargo de
presidente estava em jogo - o então candidato Fernando Collor mandou
muito bem. Aparecia na tevê à frente de paisagens maravilhosas, sempre
muito bem vestido e com um discurso duro e inflexível no sentido de
abrir a economia nacional e perseguir os marajás. Collor era candidato
de um partido pequeno, com pouco tempo na televisão. Ulysses Guimarães,
ao contrário, presidente do PMDB, dispunha de uma enormidade de tempo.
Não passou para o segundo turno.
Collor e Lula disputaram
a final e o alagoano venceu depois de duelo fascinante no debate diante
das câmeras de televisão. Lula precisou se candidatar outras duas vezes
- e perder - antes de encontrar um articulador político, chamado José
Dirceu, para fazer alianças e abrir o arco de apoios ao PT. Essa
política se expandiu até o limite em que se encontra hoje. Um partido de
pouca expressão como o PR coloca a presidente contra a parede, exige e
consegue trocar ministros. Tudo por causa de um minuto e dois segundos
no horário eleitoral gratuito.
Estão em campo hoje dois
times com estilos diferentes. Aécio Neves herdou do avô, Tancredo, o
gosto pela negociação. Ele complicou o cenário paulista ao convidar para
vice-presidente o senador Aloysio Nunes Ferreira, amigo de Serra e
ex-militante da ALN. Lutou com Marighela contra os militares. Viveu anos
na Europa. O PSDB ficou unido no maior colégio eleitoral do país. No
segundo maior, Minas Gerais, Aécio indicou seu amigo Pimenta da Veiga,
que estava distante da política. Os dois trabalham para abrir boa
vantagem de votos sobre Dilma Rousseff.
Andou também pelo Rio de
Janeiro e provocou uma tremenda confusão. Sérgio Cabral abandonou a
disputa ao Senado. Assumiu seu lugar o ex-prefeito César Maia. Pezão, o
candidato ao governo, terá apoio do PMDB, que nega dar suporte ao
candidato de Dilma Rousseff no estado, Lindbergh Farias. A candidatura
Dilma Rousseff é produto de laboratório. O ex-presidente Lula conseguiu,
com o simples apontar o dedo, eleger Dilma para a Presidência, Fernando
Haddad para prefeito em São Paulo e agora tenta Padilha para o governo
do estado.
A Copa do Mundo auxiliou
Dilma. Sua popularidade parou de cair. Mas os números da economia são
ruins. As montadoras de veículos começaram a demitir. A inflação
incomoda. O mercado de trabalho tornou-se restritivo. A ela resta o
caminho da negociação de cargos. A produção industrial brasileira
acumula perda de 4,5% desde outubro do ano passado. Se a política
econômica da presidente não a auxilia, o Programa Bolsa Família ajuda
nos grotões. É nesse apoio que ela se pendura. E viaja sem parar.
Inaugura o que encontra pela frente. Estilos diferentes, mas objetivos
iguais. É a luta pelo poder.
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