Mais energia para a inflação
O Estado de S.Paulo
Mais um sinal de alerta para a inflação acaba de soar no
mercado. Os consumidores, principalmente os de baixa renda, estão mais
pessimistas que o pessoal do mercado financeiro e das consultorias
quanto à evolução dos preços até o meio do próximo ano. Segundo pesquisa
da Fundação Getúlio Vargas (FGV), os consumidores projetam uma inflação
de 7,4% para os 12 meses até junho de 2015. Para o mesmo período, a
mediana das projeções do mercado ficou em 5,91% na pesquisa Focus do
Banco Central (BC) divulgada na última segunda-feira. Essa pesquisa é
realizada semanalmente com cerca de 100 economistas do mercado
financeiro e de consultorias independentes. Os cálculos do BC para os 12
meses até o meio do próximo ano apontam uma alta de 5,9% para o Índice
de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), usado como referência para a
política monetária. Como a expectativa é considerada um fator
inflacionário pelos especialistas, o ministro da Fazenda e os dirigentes
do BC deveriam ficar de prontidão: os donos do julgamento final sobre a
alta de preços estão prevendo dias muito ruins.
De
fato, nem os dirigentes do BC, responsáveis principais pela política
anti-inflacionária, se mostram muito otimistas quanto à evolução de
preços e tarifas nos próximos dois anos. Segundo suas estimativas, o
IPCA ainda subirá 5,7% em 2014 e 5,1% nos 12 meses até junho de 2016. O
ritmo continuará, portanto, muito acima dos 4,5% fixados como meta
oficial. Mas o esforço maior, por enquanto, é para impedir a superação,
no ano gregoriano, do limite de tolerância, 6,5%. Esse limite, no
entanto, será superado neste mês ou no próximo, segundo projeções de
vários especialistas.
O risco se eleva com os novos
aumentos da conta de luz. A Eletropaulo, responsável pelo abastecimento
da capital paulista e de 24 municípios da região metropolitana, foi
autorizada a cobrar 18,06% a mais dos consumidores residenciais e 19,93%
das indústrias. Como os números de São Paulo têm grande peso na
formação do IPCA, o estouro do limite de tolerância se torna quase
certo.
Outras 14 distribuidoras foram também autorizadas
pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) a aumentar suas
tarifas. O maior reajuste, 35,05%, foi atribuído à Copel, mas a empresa,
atendendo o governo do Estado, pediu a suspensão do aumento. Sobraram
três companhias com autorização para aumentos médios superiores ao da
Eletropaulo: AES Sul (29,54%), RGE (22,77%) e Vale Paranapanema
(19,66%).
Com esses ajustes, parte do impacto antes
previsto para 2015 deve ocorrer neste ano. O efeito teria sido
possivelmente menor - mais diluído no tempo - se os aumentos de tarifas
tivessem ocorrido a partir do ano passado. Isso teria facilitado o
repasse dos custos maiores da energia fornecida pelas centrais térmicas.
Mas a presidente Dilma Rousseff preferiu congelar os preços, em mais um
esforço para administrar os índices de inflação. Com esse mesmo
objetivo o governo federal negociou com municípios e Estados o
congelamento das tarifas de transporte público. O controle de preços de
combustíveis, com grande custo financeiro para a Petrobrás, é parte da
política oficial há mais tempo e foi mantido pelo atual governo.
Nenhum
desses truques produz efeitos por muito tempo. Além disso, todos
produzem danos importantes. Prejudicam o fluxo de caixa e a
rentabilidade das companhias afetadas, derrubam o valor de suas ações,
diminuem sua capacidade de investir e transmitem sinais distorcidos ao
mercado - por exemplo, estimulando na hora errada o consumo de certos
bens ou serviços. Além disso, a manobra resulta muitas vezes em custo
para o Tesouro, como no caso das tarifas de eletricidade.
Não
se combate a inflação com o controle de preços e a maquiagem dos
índices. Políticas desse tipo apenas adiam as soluções necessárias e
agravam os problemas. Governos sérios controlam a inflação com aumento
de juros e outras medidas monetárias e também com austeridade fiscal e
incentivos à produção e à expansão da oferta. Os erros cometidos pelo
governo brasileiro nem sequer são originais. Nem todos aprendem com as
lições da história.
Nenhum comentário:
Postar um comentário