Pavio aceso no Oriente
Correio Braziliense
A iminência de uma
ofensiva militar israelense contra o território palestino da Faixa de
Gaza, em represália pelo assassinato de três adolescentes judeus
sequestrados duas semanas atrás na Cisjordânia, representa mais do que
uma nuvem escura e carregada pairando sobre o agonizante processo de paz
entre os dois povos. A nova escalada no conflito que muitos veem como o
nó górdio da instabilidade crônica no Oriente Médio coincide com um
panorama sombrio que se estende pela região do Mediterrâneo ao Golfo
Pérsico, com Síria e Iraque em guerra civil e grupos extremistas -
afiliados à rede Al-Qaeda ou aparentados a ela na ideologia jihadista -
controlando vastas porções de território.
É a lógica entranhada e
persistente da vingança, expressa no princípio do "olho por olho", que
alimenta mais uma espiral de violência entre israelenses e palestinos. O
sequestro e o assassinato de um adolescente árabe, em aparente revide
por parte de extremistas judeus, forneceram o ingrediente que faltava
para a frustração palestina irromper novamente.
Passadas já duas décadas
do estabelecimento da Autoridade Palestina (AP), como entidade autônoma
em Gaza e na Cisjordânia, a população dos territórios segue em um limbo
do ponto de vista de cidadania. A AP não goza de reconhecimento
internacional como Estado soberano, mas Israel já não exerce plenamente o
papel de força de ocupação, embora tenha poderio militar para aplicar
represálias quando se considera sob agressão. No mais das vezes, a
retaliação tem vindo na forma da punição coletiva aos palestinos, o que
apenas ajuda a fermentar o ressentimento, nutrido também pela incessante
e progressiva colonização judaica na Cisjordânia.
Salvar o processo de paz
iniciado com os Acordos de Oslo, firmados sob os auspícios dos Estados
Unidos, em 1993 e 1995, parece já um desafio além das capacidades da
comunidade internacional. Seguidos e repetidos esforços diplomáticos,
encabeçados por ao menos três presidentes norte-americanos, foram vãos
na tentativa de levar os palestinos à terra prometida do Estado soberano
que almejam desde a primeira guerra árabe-israelense, em 1948. Quanto
ao Estado judeu, fundado naquele ano, continua se vendo cercado de uma
vizinhança que percebe como hostil - e segue desenvolvendo uma
estratégia que consiste em preservar ou mesmo ampliar a supremacia
militar.
Se resta esperança para
uma solução pacífica, ela reside agora na engenhosidade política dos
dois povos. O processo de Oslo foi iniciado por estadistas que
personificavam uma geração temperada por três guerras: Yitzhak Rabin e
Shimon Peres, pelo lado de Israel, e o patriarca Yasser Arafat, pela
parte palestina. Tinham, entre seus liderados, a autoridade requerida
para fazer concessões, dolorosas porém incontornáveis, em nome de
viabilizar a única saída possível: a convivência entre dois Estados.
A dinâmica atual solapa o
terreno sob os pés dos que advogam esse caminho, de ambos os lados.
Israelenses e palestinos têm diante de si um enigma a decifrar, o de
construir uma liderança política comprometida com a via pacífica e sagaz
o suficiente para levá-la até o sucesso. Sem esse elemento, restará à
comunidade internacional apenas o papel de apagar incêndios, de tempos
em tempos, e assistir à demolição final de um edifício que nem chegou a
ser completado.
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