terça-feira, 28 de outubro de 2014

China age para dominar os investimentos na Ásia
Harold Thibault - Le Monde
Pequim espera reduzir a influência nipo-americana na região
Após um ano de intensos esforços diplomáticos, a China oficializou, na sexta-feira (24), junto com vinte outros países, a criação do Banco Asiático de Investimentos em Infraestrutura. Ele será dotado de US$ 50 bilhões (R$ 127 bilhões), fornecidos em sua maior parte pelos chineses.
Esse montante logo poderá subir para US$ 100 bilhões, a se comparar com os atuais US$ 165 bilhões para o Banco Asiático de Desenvolvimento (BAD), do qual ele é concorrente direto.
Entre os signatários fundadores, estão todos os países do Sudeste Asiático com exceção de sua maior economia, a Indonésia, cujo novo presidente não teve tempo de se debruçar sobre o assunto.
Pequim conseguiu convencer a Índia a aderir à iniciativa. A eles se juntam a Mongólia, o Cazaquistão, o Uzbequistão, o Paquistão, o Sri Lanka, o Nepal, Bangladesh e alguns países do Oriente Médio, entre eles o Qatar.
Quando a ideia foi lançada pelo presidente Xi Jingping, em outubro de 2013, a República Popular esperava reunir mais países. Baseando-se ele mesmo em um relatório realizado pelo BAD segundo o qual seria necessário investir US$ 8 bilhões na Ásia até 2020 para estender o crescimento, o novo banco se concentrará, como seu nome indica, na infraestrutura, inspirando-se no modelo de desenvolvimento chinês, e não no combate à pobreza.
Pequim acredita que o BAD, sediado nas Filipinas e cujo presidente é japonês, seja a ferramenta de influência de seus dois principais concorrentes estratégicos, os americanos e os japoneses.
Os Estados Unidos tentaram torpedear esse projeto, alegando que o novo banco não oferecia garantias o suficiente em matéria de transparência, mas também apoio aos direitos humanos e outras práticas virtuosas em matéria ambiental.
A Coreia do Sul e a Austrália estão divididas. Elas ainda não aderiram ao Banco Asiático de Investimentos em Infraestrutura, mas poderão fazê-lo em breve. O secretário de Estado americano, John Kerry, desencorajou pessoalmente o primeiro-ministro australiano, Tony Abbott, de assinar.

Uma escolha que se tornou "inevitável"

Esses entraves reforçam a ideia de que a República Popular da China não tem outra opção senão criar suas próprias instituições. Para Wang Yong, diretor do Centro de Economia Política Internacional da Universidade de Pequim, os Estados Unidos "reagiram desproporcionalmente".
Pequim ressaltou a Canberra que uma economia exportadora de matéria-prima como a Austrália verá suas próprias perspectivas se reduzirem se não houver investimentos na Ásia.
Implicitamente, a China também colocou na balança um acordo de livre-comércio sino-australiano, atualmente em negociação, segundo Hugh White, professor de estudos estratégicos na Universidade Nacional Australiana.
"É o tipo de escolha que os países da Ásia-Pacífico tentaram contornar, mas que agora se tornaram inevitáveis", constata White.
Os países europeus também foram procurados. Pequim insistiu nisso para reafirmar o caráter multilateral do banco, ainda que seu presidente vá ser o chinês Jin Liqun, que passou por seu ministério das Finanças e seu fundo soberano.
Um de seus primeiros objetivos consistirá em apoiar a "nova Rota da Seda", defendida por Xi Jinping. Ciente da crise que os europeus vêm atravessando, a China lhes explicou que espera que eles contribuam com sua credibilidade, em vez de fundos improváveis.
Paris está pensando. A dúvida é como a iniciativa chinesa se articulará com o Banco Asiático de Desenvolvimento ou o Banco Mundial.
No entanto, enquanto se exige cada vez mais da China que ela assuma mais responsabilidades no cenário internacional, há também a preocupação de se ficar de braços cruzados e não ter influência sobre essa instituição no futuro.

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