quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Nos EUA, latinos organizam comícios e criticam líderes como Hillary Clinton
Vicente Jiménez - El País
Mandel Ngan/AFP
28.ago.2014 - Ativistas protestam pelos direitos dos imigrantes em frente à Casa Branca. Os manifestantes pediram ao presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, para parar as deportações 28.ago.2014 - Ativistas protestam pelos direitos dos imigrantes em frente à Casa Branca. Os manifestantes pediram ao presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, para parar as deportações
O encontro da "United We Dream" (Sonhamos Unidos), a organização mais importante de jovens latinos sem documentos dos EUA, terminou no 4-H Youth Center do elegante bairro de Chevy Chase em Maryland, a meia hora da Casa Branca. No chão, pelas paredes e sobre as mesas, entre copos de café e restos de comida, ficaram grandes folhas de papel rabiscadas com os resultados de um fim de semana de debates. Em vários deles pode-se ler em inglês: "Objetivo: Obama. Objetivo número 2: alguém que possa influir em Obama. Calendário: novembro e dezembro de 2014. Réus: Senado republicano".
O nome do presidente dos EUA não foi o único que se ouviu nas reuniões dos 50 jovens vindos de diversos Estados americanos para desenhar sua estratégia às vésperas de que o Congresso passe às mãos dos republicanos nas eleições de 4 de novembro, como anunciam as pesquisas. Hillary Clinton, a ex-secretária de Estado e número 1 nas apostas democratas para a Casa Branca, e o senador republicano de origem cubana Marco Rubio, entre outros, também foram de boca em boca, de papel em papel.
Embora o voto latino não seja relevante na próxima terça-feira (4) e os candidatos tenham posto de lado qualquer tema que interesse a uma comunidade de 50 milhões de pessoas, os ativistas mais jovens, como o grupo United We Dream, decidiram convidar-se para a campanha na medida de suas possibilidades. "Se os políticos nos esqueceram, nós não os esquecemos", declara Cristina Jiménez, uma equatoriana de 30 anos e líder do UWD.
A estratégia em curto prazo dos chamados "dreamers" (sonhadores) tem três pilares: mobilizar na medida do possível a comunidade latina em um encontro eleitoral tradicionalmente órfão de seus votos (25,2 milhões de hispânicos podem votar este ano; em 2010 só 6% se registraram); pressionar os candidatos na rua para obrigá-los a tomar posição sobre a reforma migratória e agitar as redes sociais.
"Em 2012 fizemos muita campanha em Maryland, Flórida e Texas. Conseguimos um aumento de votos de 36% em determinados distritos. Descobrimos que quando os sonhadores compartilham nossas histórias, porta a porta, as pessoas querem votar. Este ano só pudemos fazê-lo no Texas. Como o voto latino não é relevante, não conseguimos dinheiro para mais", explica Jiménez.
O porta a porta é um trabalho duro e pouco visível, mas abordar Hillary Clinton em um comício de qualquer cidade americana tem um impacto seguro nos noticiários. "Queremos que fique muito claro que o voto latino não é comprado por nenhum partido", acrescenta a diretora-executiva da UWD.
A pressão sobre Clinton na rua não é uma estratégia nova. Os sonhadores vêm fazendo isso há tempo com os republicanos. Se agora o fazem com a possível sucessora de Obama é porque consideram que esta pode influir no presidente para que cumpra sua promessa de assinar uma ação executiva que ponha fim às deportações. Com um recorde histórico de mais de 2 milhões de expulsões desde que chegou à Casa Branca, Obama é para muitos latinos o "deporter in chief".
Na Carolina do Norte e em Iowa, foram registradas as últimas cenas de pressão contra Clinton. Em ambas a líder democrata evitou se pronunciar com clareza. "A imigração é um tema importante", respondeu a um jovem que lhe perguntou aos gritos em Charlotte o que pensava sobre a possibilidade de sua mãe ser deportada a qualquer momento. "O que precisamos é que se elejam mais democratas", respondeu em Iowa a outro "dreamer" que queria conhecer sua posição sobre as promessas não cumpridas de Obama.
"Toda eleição é importante. Obama teria cumprido sua promessa de parar as deportações se não fosse por estas eleições", lembra Lorella Praeli, 26, membro da diretoria da UWD. "O que acontece é que este não é um bom ano para nós nem para os democratas. O mapa dessas eleições não nos favorece. Os Estados em disputa para o Congresso têm pouca população latina. A partir de 2015 será diferente, porque nas presidenciais de 2016 teremos muita força. Confio em que Obama leve isso em conta e assine uma ação executiva. Seria estúpido que não o fizesse. Estou muito decepcionada com ele. Não tem credibilidade", acrescenta.
"Obama tem uma oportunidade excelente para retificar a grande decepção que significou retardar a ordem executiva sobre deportações,", opina Kate Brick, especialista em imigração da Americas Society – Council of the Americas. "Apesar de o voto latino não ser importante agora, os políticos devem levar em conta que a comunidade hispânica não esquecerá em 2016 o que disserem agora", acrescenta.
O sonhadores estão pondo nesta semana na mesa seu novo objetivo, depois de êxitos como o programa DACA (Deferred Action for Childhood Arrivals), que permite estudar sem medo a deportação por alguns anos a mais de um milhão de jovens sem documentos (cerca de 800 mil jovens solicitaram a chamada ação diferida). Trata-se de garantir não só seu futuro nos EUA, como também o de suas famílias, sem documentos como eles.
"Obama pode fazer mais coisas. Por isso estamos lutando para parar as deportações de nossos pais. Não podemos passar o dia inteiro com medo de perder a família, pendentes do telefone, de uma ligação na qual lhe digam que foram detidos. É injusto", denuncia Felipe Sousa, brasileiro de 28 anos e também diretor da "United We Dream". 
Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves

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