Delator afirma que Cabral recebeu R$ 50,5 milhões em propina durante obras da Linha 4 do metrô
Benedicto Júnior revela que ex-governador tentou incluir Delta, Andrade Gutierrez e OAS no consórcio da obra
Carolina Morand - O Globo
Em depoimento ao Ministério Público Federal (MPF), o
executivo da Odebrecht Benedicto Júnior revelou que o ex-governador
Sérgio Cabral recebeu R$ 50,5 milhões em propina durante a execução do
contrato da Linha 4 do metrô. O delator também citou o ex-secretário
estadual de Transportes do Rio Julio Lopes, que teria recebido R$ 4 milhões. Antes, BJ, como é conhecido, já havia afirmado que a empreiteira gastou R$ 120 milhões com próprio Cabral e com o atual governador Luiz Fernando Pezão, entre caixa 2 para campanhas de ambos e propina para Cabral.
O delator contou que a Odebrecht pediu ajuda a Cabral para
entrar no consórcio da Linha 4. O grupo era liderado pela construtora
Queiroz Galvão, e a Odebrecht tinha interesse em adquirir a participação
de uma das empresas minoritárias, a Constran. No entanto, pelas regras
do contrato, a Queiroz Galvão teria prioridade na compra, por ser a
sócia majoritária. BJ disse, no depoimento, que pediu que Sérgio Cabral
intercedesse em favor da Odebrecht.
— Fiz um pedido ao governador Sérgio Cabral se ele poderia
ter uma conversa com alguém da Queiroz Galvão para que ela não
exercesse, e que eu entrasse no consórcio. Eu não perguntei, não sei se
ele fez o pedido, mas a Queiroz permitiu que eu adquirisse a
participação da Constran e, a partir desse momento, a Odebrecht passou a
ser sócia da concessionária — disse o delator.
O executivo revelou ainda que, no meio da execução da obra,
as construtoras que participavam do consórcio — Odebrecht, Queiroz
Galvão e Carioca Engenharia — foram chamadas pelo governador Sérgio
Cabral, que pediu que fossem incluídas no grupo mais três empreiteiras:
Andrade Gutierrez, OAS e Delta.
Sérgio Cabral aperta o botão para a implosão em obra da Linha 4 do metrô - Márcia Foletto / Agência O Globo - 09/12/2013
Benedicto
Júnior afirmou que OAS e Andrade Gutierrez seriam bem-vindas, uma vez
que a primeira era dona da concessionária Metrô Rio e a segunda é uma
das empresas brasileiras com maior experiência em obras de metrô. No
entanto, o consórcio resistiu à inclusão da Delta.
— Obviamente, restava um problema. Aceitar a entrada da
Delta naquele momento era passar para a Delta uma capacitação de ser
executora de metrô dali para a frente. (...) Criou-se um mal estar —
revelou BJ.
Depois de algumas conversas, segundo Benedicto Júnior, a
entrada das três novas empreiteiras no consórcio acabou não se
concretizando.
Com relação a Júlio Lopes, o executivo informou que Marcos
Vidigal, diretor de contrato responsável pela execução da obra, foi
procurado por um executivo da Queiroz Galvão, com um pedido de pagamento
de propina ao então secretário estadual de Transportes. Segundo
Benedicto Junior, o total pago irregularmente a Julio Lopes pela Odebrecht chegou a R$ 4 milhões, entre 2012 e 2014. Ele nega as acusações.
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