sábado, 15 de abril de 2017

Inseguros líderes latinos evitam confronto com regime bolivariano
"A Venezuela enfrentará instabilidade significativa ao longo do ano, devido à escassez generalizada de alimentos e remédios. A crescente crise humanitária poderia, eventualmente, exigir uma resposta regional." A "resposta regional" mencionada pelo almirante Kurt Tidd, chefe do Comando Sul dos EUA, não é uma referência às gestões desenvolvidas nos âmbitos da OEA e do Mercosul.
Dias atrás, entidades venezuelanas que protestam contra Maduro divulgaram carta na qual recordam o objetivo das pressões diplomáticas: "facilitar o retorno de nosso país à democracia" para que "sejamos os próprios venezuelanos a decidir nosso destino". Sugiro ao ministro Aloysio Nunes, do Itamaraty, que leia, com urgência, tanto o informe de Tidd quanto a réplica das entidades venezuelanas.
A falência da "revolução bolivariana" pode ser atestada de inúmeros ângulos. Há quatro anos, Nicolás Maduro prometeu "pulverizar" o "perverso dólar paralelo". O ministro da Economia repete agora a promessa, em linguagem bélica similar.
Entre as declarações, a taxa de câmbio saltou de 23 para 4.000 bolívares. A polícia deflagrou campanha no Twitter solicitando denúncias sobre "geradores de violência" identificados por fotos, que seriam cidadãos comuns ou parlamentares participantes das manifestações antigovernistas.
A repressão já utiliza bombas de gás lançadas de helicópteros, balas de borracha e munição real.
Há um ano, o Mercosul e a OEA protelam a invocação de suas cláusulas democráticas sob o argumento de que o isolamento do regime aceleraria sua marcha autoritária.
Quando, porém, finalmente, a OEA reagiu ao virtual fechamento da Assembleia Nacional pelo tribunal "bolivariano", emergiram sinais de divisão no chavismo. A ameaça de suspensão da Venezuela encorajou a procuradora-geral, uma chavista histórica, a pronunciar-se em defesa da Constituição e, ao que tudo indica, causou rachaduras na cúpula "bolivariana" das Forças Armadas.
Horas depois, atendendo à contraordem de Maduro, os juízes deram meia volta.
A pressão diplomática funciona –eis a mensagem emanada da crise. Contudo, se há um Maduro, existem também os verdes, isto é, os inseguros líderes latino-americanos que buscam, a qualquer custo, evitar o confronto direto com o regime "bolivariano".
Na sequência do recuo de Maduro, a diplomacia entrou em compasso de espera, oferecendo a oportunidade para novos arreganhos autoritários do chavismo.
O tribunal voltou à prática de invalidar as decisões da Assembleia Nacional e cassou os direitos políticos do líder opositor Henrique Capriles.
A loucura tem método. O regime semeia a violência nas ruas a fim de colher sua própria reunificação. Maduro procura pretextos para avançar rumo à supressão completa das liberdades.
"O governo atual se assemelha a um animal em fuga desesperada: não sabe para onde se dirige nem em qual velocidade atingirá o precipício que almeja ignorar", disse Jorge Giordani, poderoso ministro da Planificação, entre 2009 e 2014, um herói chavista caído em desgraça cujas digitais estão impressas na paisagem devastada da Venezuela.
"Diálogo", pede o verde ministro Aloysio Nunes, empregando uma palavra manipulada incessantemente por Maduro entre ofensivas autoritárias, para congelar a diplomacia regional.
Qual é o sentido do "diálogo" sem a libertação dos presos políticos, o reconhecimento das prerrogativas da Assembleia Nacional e a reativação do calendário eleitoral?
Só o isolamento da ditadura de Maduro, pela aplicação das cláusulas democráticas da OEA e do Mercosul, pode completar a divisão do chavismo, propiciando um diálogo efetivo. A alternativa é o caos –e a "resposta regional" profetizada pelo almirante americano.

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