A Lava-Jato e as perspectivas da economia
A 12 meses das eleições e enfraquecido, governo já não tem mais condições de assegurar o avanço da agenda de reformas
Rogério Furquim Werneck - O Globo
Quis o
destino que, numa mesma semana de setembro, viessem a público o
devastador depoimento de Palocci, sobre Lula, e a nova e desgastante
denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o presidente
Temer e dois de seus ministros mais próximos. A coincidência permitiu
entrever quão complexos têm sido os efeitos da Lava-Jato e operações
similares sobre a formação de expectativas acerca das perspectivas da
economia.
A esmagadora maioria dos analistas políticos parece não
ter dúvida de que, mais uma vez, o Planalto conseguirá bloquear, na
Câmara, a denúncia da PGR contra o presidente. Mas, mesmo sustada, a
segunda denúncia terá custado muito caro ao Planalto. Temer vem tendo de
lidar com uma bancada governista cada vez mais voraz, empenhada em
extrair o que pode de um governo patentemente fragilizado, seja por meio
de novos esquemas de pilhagem do Erário, seja pela ampliação do seu
controle sobre cargos-chave da administração federal.
Basta ter em
mente, por exemplo, o novo e indefensável programa de refinanciamento
de dívidas fiscais, cuja aprovação avança à revelia das autoridades
fazendárias, ou os pleitos da bancada ruralista quanto a dívidas do
Funrural. Ou, ainda, a agressividade com que o centrão vem pressionando o
Planalto para que o atual ministro da Secretaria de Governo,
responsável pela articulação do Executivo com o Congresso, seja
substituído por um dos seus.
Por mais seguro que pareça estar
sobre sua capacidade de bloquear a segunda denúncia na Câmara, o
Planalto não parece disposto a correr riscos. Inclusive para se precaver
contra novas delações. Só na terça-feira feira passada, o presidente
Temer recebeu em palácio nada menos que meia centena de deputados
federais.
A 12 meses das eleições e enfraquecido como está, o
governo já não tem mais condições de assegurar o avanço da agenda de
reformas fiscais no Congresso. A reforma da Previdência parece fadada a
ser deixada para o próximo mandato presidencial. E o que de melhor se
pode esperar, a esta altura, é que as contas públicas não se deteriorem
ainda mais, na esteira da fragilização do Planalto.
Visto por este
ângulo, haveria razões de sobra para que os mercados financeiros se
tornassem mais pessimistas acerca das perspectivas da economia. Mas o
que se viu nas últimas semanas foi o oposto. Os mercados ficaram mais
otimistas.
É bem verdade que, fora do problemático quadro fiscal,
as notícias no front estritamente econômico têm sido muito boas. Basta
ter em conta, além da persistência de um ambiente externo favorável, o
extraordinário sucesso do Banco Central no combate à inflação, a rápida
redução das taxas de juros e a percepção de que a recuperação da
economia poderá ser bem mais vigorosa do que se esperava.
Mas tudo
indica que, por si sós, essas boas notícias não teriam sido suficientes
para sustentar a onda de otimismo das últimas semanas, se a incerteza
sobre o desfecho das eleições de 2018 ainda estivesse tão alta como
estava há poucos meses.
O que parece ter feito enorme diferença
foi a súbita e substancial redução desta incerteza, em decorrência de
outro efeito importante do avanço das operações de combate à corrupção. O
pessimismo quanto às possibilidades da política fiscal, no que resta do
governo Temer, foi amplamente compensado pelo relativo otimismo que
adveio da reavaliação das perspectivas da candidatura de Lula à
Presidência em 2018, após o devastador testemunho do ex-ministro Antonio
Palocci.
A incerteza sobre o desfecho da eleição presidencial
continua alta. Ainda há muita água para correr debaixo da ponte. Mas a
probabilidade de que, afinal, seja eleito um presidente comprometido com
a continuidade do esforço de ajuste fiscal tornou-se bem maior do que
parecia ser em meados deste ano. E maior ainda se tornará se a
recuperação da economia for de fato tão vigorosa como promete.
É a isso que os mercados agora se agarram, ao arrepio do que ainda sugerem as pesquisas de intenção de voto.
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