Crise se agrava, e Oi fica mais perto de uma intervenção
Conflitos entre diretoria e conselho dificultam solução para tele
Bruno Rosa - O Globo
A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) pode intervir na Oi
já no mês de outubro com a escalada de conflitos entre diretoria,
Conselho de Administração e credores da tele carioca. De acordo com uma
fonte, o processo já está pronto do ponto de vista técnico. A solução
pela intervenção já é apontada como a solução mais viável também por
grande parte dos envolvidos diretamente na busca de uma solução para a
companhia. Na tarde desta quarta-feira, o órgão regulador marcou uma
reunião para esta quinta-feira para tratar da situação econômica da Oi.
— Investidores do mercado financeiro e bancos já pediram urgência
para que a Anatel inicie o processo de intervenção na tele. Ele está,
tecnicamente, pronto. A questão agora é política — disse uma fonte que
não quis se identificar.
Na última semana, as brigas dentro da Oi só aumentaram. O diretor financeiro da companhia, Ricardo Malavazi, pediu demissão após desentendimentos. O presidente da Oi, Marco Shroeder, se recusou a assinar a nova versão do plano de recuperação judicial
apresentada pelo Conselho de Administração, liderado pelo empresário
Nelson Tanure. Na última terça-feira, Tanure se reuniu com o presidente
Michel Temer para tratar da crise da companhia.
— O novo plano de recuperação judicial, que prevê uma capitalização,
tinha cláusulas que diferenciavam os credores internacionais e previa a
saída de recursos para pagamento de dívidas. E isso não foi aceito pela
diretoria da Oi. O Marco não quis assinar. Assim, o plano não avançou —
disse uma das fontes.
No conselho, oito votam com tanure
As ações do
Conselho de Administração da Oi vêm chamando a atenção da Anatel desde o
início do ano. Uma fonte destacou que as ofertas realizadas até agora
pela companhia foram deixadas em compasso de espera pelo conselho, sem a
devida apreciação formal.
O
Conselho de Administração da Oi é formado por onze membros. Desse
total, destacou uma fonte, oito estão alinhados com o Societé Mondiale,
de Tanure: cinco da Pharol (a ex-controladora da Portugal Telecom), dois
indicados por Tanure e um dos conselheiros independentes (Thomas
Cornelius). Segundo as fontes ouvidas pelo GLOBO, a situação tem se
tornado insustentável.
Até agora foram quatro propostas recebidas pela diretoria da Oi. O
egípcio Naguib Sawiris propôs injetar US$ 1,25 bilhão. Em seguida,
vieram os fundos abutres Cerberus, com oferta de R$ 8 bilhões, e o
Elliott, com R$ 9,2 bilhões. Recentemente, os credores, liderados por
Moelis e G5, fizeram um lance de R$ 3 bilhões. Agora, a China Telecom,
em parceria com o fundo TPG, está em processo de due diligence
(auditoria para levantar dados sobre o negócio) na Oi, com mais de cem
pessoas envolvidas na operação.
— O grande problema é que a Oi já recebeu quatro propostas não
vinculantes e nada foi apreciado pelo conselho. Vai tudo para a gaveta.
Isso só piora o cenário, pois a tele é uma empresa que gera interesse.
Por isso, há gente acreditando que uma intervenção poderia melhorar o
cenário, abrindo espaço para que a recuperação da Oi seja, de fato,
viável — disse outra fonte.
Caso a Anatel opte por intervir na empresa, ela designaria um novo
diretor-presidente que poderia enviar à Justiça um plano de recuperação
judicial à revelia do Conselho de Administração, explicou uma fonte a
par das discussões. A Advocacia-Geral da União já deu parecer que
permite à Anatel intervir em todas as empresas da Oi, o que inclui não
apenas a concessão de telefonia fixa como os serviços de telefonia
celular e banda larga, que funcionam no regime de autorização.
— O conselho está barrando o avanço das negociações. A situação está
insustentável. Muita gente na própria Oi já defende isso — destacou
outra fonte.
Tanure diz que busca diálogo
Na Anatel, já
existem discussões sobre a possível substituição de um dos conselheiros,
cujo mandato vence em novembro. No setor, há receio do que uma troca
poderia representar para a tele num momento de definição para sair da
crise.
O empresário Nelson Tanure disse, em nota, que “o Conselho de
Administração e a diretoria da Oi têm buscado o diálogo com seus
diversos credores, o que tem permitido o avanço das negociações visando à
aprovação do plano de recuperação judicial da companhia”. Em nota, ele
destacou que o conselho está apreciando a proposta feita pelos credores,
liderados por G5 e Moelis. Tanure lembrou ainda que as propostas “terão
o apoio se forem para o bem da companhia”. A Oi destacou que “vem
empenhando todos os esforços que garantam a sustentabilidade e
perenidade da companhia, assegurando um fluxo de caixa adequado”.
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