Ideólogo de Bolsonaro, Olavo de Carvalho critica nova direita
Isabel Fleck - FSP
Dos Estados Unidos, o homem que afirma ter feito "todo o possível para
que existisse uma direita no Brasil" diz não saber definir o que hoje é a
corrente identificada como a "nova direita" no país.
"Eu sei lá o que é a nova direita. Eu quero que ela se dane. É um bando de picaretas", diz à Folha
o ideólogo e polemista Olavo de Carvalho, 70, na casa de um dos filhos
em Petersburg, na Virgínia. Está alojado no lugar enquanto espera a
reforma na sua nova casa, também na região de Richmond, ficar pronta.
"Eu abri um rombo na hegemonia esquerdista, só que o pessoal que veio
atrás não tinha preparo nenhum. Só palpiteiro, carreirista,
oportunista", afirma, antes de se corrigir. "Não todos, evidentemente.
Tem gente boa no meio."
Carvalho, com 390 mil seguidores no Facebook e um curso de filosofia
online que, segundo ele, é acompanhado por 5.000 pessoas, é considerado o
"guru" de boa parte do conservadorismo brasileiro, que tem ganhado cada
vez mais força no país. "Não estou ligado a nenhum desses grupos. Eu
fiz o meu serviço, agora eles que se virem."
Citado
pelo deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ) como uma de suas referências,
Carvalho aceitou o pedido feito por um dos filhos do presidenciável para
aconselhar o pai antes das eleições. "Pois é, ele me pediu, mas o
Bolsonaro não veio ouvir o conselho, o que que eu posso fazer?"
Os dois participarão,
nesta semana, de uma discussão promovida pelo centro de pesquisas do
ideólogo, o Inter-American Institute, em Nova York. Eles, contudo, não
se encontrarão. Carvalho falará por videoconferência, a partir da
Virgínia, por causa da missa de um mês da morte de sua mãe.
Apesar de já ter feito pelo menos dois debates por videoconferência com o
deputado e de ter dois filhos dele como seguidores, Carvalho diz não
ter "nenhuma relação" com o pré-candidato.
Ele afirma, no entanto, que seu voto já é de Bolsonaro, o único que tem
uma "carga nacionalista". "Primeiro, a candidatura dele é nacional.
Segundo, é um dos dois ou três políticos que não se meteram em nenhum
esquema de corrupção. Terceiro, ele tem algum amor ao Brasil",
justifica.
Carvalho admite, porém, "não saber bem quais são as ideias" do deputado.
"Não sei quais são os projetos políticos dele. Ouvi ele falar de
coisas, problemas isolados, mas ainda não peguei bem qual é a concepção
política dele."
Além de Bolsonaro, o ideólogo aposta que, em 2018, os nomes com mais
chances ao Planalto são o do ex-ministro Ciro Gomes (PDT-CE) e o do
prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB-SP).
"Acho o Ciro um sujeito altamente competente, tenho uma simpatia por ele
e pelo João Doria. Não voto neles porque os dois estão ligados a forças
internacionais."
Segundo ele, Doria copia o "discurso multicultural da nova ordem global"
e Ciro já teve demonstração de apoio do Partido Comunista da China.
E o ex-presidente Lula? "O Lula, coitado. Acho que ele não se elege nem
em Catolé do Rocha [PB]", diz, rindo e acrescentando que não acredita em
pesquisas de intenção de voto.
No último Datafolha, publicado no início do mês, o petista, que foi condenado por corrupção e lavagem de dinheiro, aparece com pelo menos 35% dos votos em todos os cenários. Bolsonaro está em segundo, empatado com Marina Silva (Rede).
Diante do alvoroço gerado pela notícia de que ele poderia dar conselhos a
Jair Bolsonaro, Carvalho diz estar disposto a fazer isso com qualquer
candidato.
A todos, assegura, falaria a mesma coisa: "É preciso encontrar o caminho
pelo qual o Brasil possa deslizar por entre as malhas da dominação
globalista e preservar um pouco da sua soberania, da sua identidade, da
sua cultura".
Questionado se estaria disposto a ser conselheiro de Bolsonaro se ele
for eleito, afirma, entre um cigarro e outro, que poderia aconselhar
qualquer presidente. "Não como um cargo oficial, como seu conselheiro
pessoal. Cobro R$ 100 por mês."
MBL E DIREITA DIVIDIDA
Carvalho não poupa apelidos para políticos e lideranças de movimentos de direita no Brasil. O coordenador do Movimento Brasil Livre (MBL),
Kim Kataguiri, virou "Kim Cata-Coquinho" e o governador Geraldo Alckmin
é o "Geraldo Alguénzinho" -"É tudo o que ele quer ser quando crescer,
mas ele não vai crescer; é uma pessoa oca", diz.
O ideólogo diz ter "dado uma força por caridade" para "os gênios do MBL"
quando eles realizaram a marcha até Brasília, em 2015. O MBL apoia
Doria, rival de Bolsonaro pelo voto conservador.
"Depois o movimento popular se dispersou e o MBL está lá, levando o
dinheiro dos partidos políticos. Inventou um jeito de fazer tudo de
novo, como estava antes", diz.
Sobre suas críticas à nova direita, Olavo de Carvalho afirma ser "uma
besteira" a ideia de que os conservadores precisam se unir. "As divisões
internas são uma força que faz crescer."
Ele chega a afirmar que integrantes do MBL "às vezes tomam posições que
são teoricamente certas", citando a oposição do grupo à exposição
"Queermuseu", fechada em Porto Alegre (RS), e à performance "La Bête",
do artista Wagner Schwartz, realizada no Museu de Arte Moderna (MAM) de
São Paulo.
"Se alguém vê sinal de pedofilia numa exposição e fica indignado, não tem nada de errado nisso. Só que ali não tem pedofilia
nenhuma. Tem uma lenta e sutil operação de dessensibilização que
resultará na criação de uma atmosfera social favorável à assimilação da
pedofilia daqui a dez ou 15 anos", afirma.
Diante de parte da sua coleção de mais de 20 armas, quase todas usadas
para caça, Carvalho faz piada sobre sua imagem polêmica. "O pessoal acha
que eu estou aqui armado até os dentes para matar comunista. É muita
fantasia."
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