MPF vai investigar recibos de aluguel apresentados por Lula
O Globo
Dono do apartamento alugado ao ex-presidente diz que não recebeu aluguel de fevereiro de 2011 até novembro de 2015O Ministério Público Federal vai investigar os recibos de aluguel apresentados pela defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como provas de pagamento de aluguel da cobertura vizinha a do petista. A Força-Tarefa da Operação Lava-Jato
protocolou, na noite desta quinta-feira, ao juiz Sergio Moro o chamado
"incidente de falsidade" para apurar a autenticidade dos documentos.
Na semana passada, O GLOBO revelou que o empresário Glaucos da
Costamarques diz ter assinado, de uma vez só, todos os recibos de
aluguel referentes ao ano de 2015. Dono do apartamento alugado ao
ex-presidente, Costamarques sustenta que não recebeu qualquer aluguel de
fevereiro de 2011 até novembro de 2015, quando seu primo José Carlos
Bumlai foi preso. Um dia depois da prisão, internado num hospital em São
Paulo, Costamarques teria recebido a visita do advogado Roberto
Teixeira, compadre de Lula, dizendo que os aluguéis passariam a ser
pagos. Pouco depois, foi procurado pelo contador, João Leite, que a
pedido de Teixeira, levou a remessa de recibos para serem assinados.
Para a força-tarefa da Lava-Jato, o apartamento foi comprado com propina
da Odebrecht.
Os recibos, referentes ao período entre agosto de 2011 e novembro de
2015, foram apresentados pelos advogados de Lula no último dia 26.
O material chamou a atenção dos investigadores por apresentar
incorreções: dois deles trazem datas que não existem — 31 de junho de
2014 e 31 de novembro de 2015. Outros seis recibos trazem erros de
digitação. O nome da cidade onde fica o apartamento foi escrito como
“São Bernanrdo”.
Lula
comprou o apartamento 122 do Edifício Green Hill, em São Bernardo do
Campo, em 2000. Durante seus dois mandatos, o governo federal alugou o
imóvel vizinho, de número 121 por questões de segurança e o contrato
expirou em janeiro de 2011. No fim de 2010, o apartamento foi colocado à
venda e o comprador foi Glaucos Costamarques, primo do pecuarista José
Carlos Bumlai, amigo de Lula.
O ex-presidente nega as acusações e alega ser vítima de law fare.
O advogado de Lula, Cristiano Zanin Martins, disse em nota que "a
perícia nos recibos irá demonstrar que eles são idôneos e que foram
assinados pelo proprietário do imóvel, dando quitação dos aluguéis à D.
Marisa, que contratou a locação". Segundo a defesa, "O questionamento do
MPF é uma tática ilusionista de quem não conseguiu provar que valores
provenientes de contratos da Petrobras beneficiaram o ex-Presidente
Lula".
Leia a íntegra da nota da defesa de Lula:
"Os ilusionistas do MPF
A realização de perícia nos recibos irá demonstrar que eles são
idôneos e que foram assinados pelo proprietário do imóvel, dando
quitação dos aluguéis à D. Marisa, que contratou a locação.O
questionamento do MPF é uma tática ilusionista de quem não conseguiu
provar que valores provenientes de contratos da Petrobras beneficiaram o
ex-Presidente Lula.
O proprietário do imóvel jamais negou que tenha emitido os recibos,
tampouco levou ao processo qualquer declaração de que tenha assinado os
documentos em uma única data, como se verifica na petição por ele
protocolada em 28/09. Ele demonstrou ter adquirido o apartamento com
recursos próprios, por meio de cheques administrativos, e não com
valores de contratos da Petrobras.
A Defesa também questionou a autenticidade de documentos apresentados
na ação pelo MPF por meio de incidente protocolado em 1º/09/2017, mas o
juiz Sérgio Moro não autorizou a realização da perícia até o momento.
De acordo com decisão proferida em 27/09, o processamento do incidente
deveria aguardar a realização de outra perícia, relativa às supostas
cópias dos sistemas paralelos da Odebrecht.
Espera-se que o juiz dê ao questionamento da defesa o mesmo
tratamento em relação aos questionamentos da acusação, não apenas em
relação à idoneidade de documentos, mas sobretudo no que tange à
necessidade de demonstração do afirmado uso de recursos da Petrobras
para a aquisição dos imóveis (“follow the money”), que é a base da
denúncia.
Cristiano Zanin Martins"
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