segunda-feira, 9 de outubro de 2017

Nuzman tentou que Rio-2016 pagasse R$ 5,5 milhões a seu advogado; comitê autorizou e recuou
Entidade está endividada, e ato de dirigente levou MPF a pedir prisão preventiva 
Miguel Caballero - O Globo
Dias após sua casa ter sido alvo de uma ação de busca e apreensão pela Polícia Federal a mando da Justiça, o presidente do Comitê Olímpico do Brasil (COB), Carlos Arthur Nuzman, tentou que o comitê Rio-2016, que ele também preside, arcasse com os custos de sua defesa - o contrato por "prestação de serviços jurídicos" com o escritório do advogado Nélio Machado tinha o custo de R$ 5,5 milhões. O Conselho Diretor do Rio-2016, que tem dívida de mais de R$ 132 milhões com fornecedores e ex-funcionários dos Jogos Olímpicos, chegou a aprovar o pagamento, mas em seguida desistiu do negócio. No último dia 5 de outubro, Nuzman foi preso temporariamente por determinação do juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal, responsável pelos casos da Lava-Jato no Rio.
O episódio embasou o pedido do Ministério Público Federal (MPF) para a conversão da prisão de Nuzman de temporária em preventiva, sem prazo determinado, o que foi aceito por pelo juiz Bretas nesta segunda-feira. Para os procuradores, ficou provado que o dirigente tentou usar sua influência no Comitê Rio-2016 em benefício próprio. O MPF também afirma que Nuzman estava tentando manter oculto seu patrimônio ou legalizar recursos escondidos.
O avançar das investigações da Lava-Jato sobre seu presidente levou o comitê Rio-2016 a adotar uma postura mais cautelosa, e o pagamento, mesmo depois de previamente aprovado pelas instâncias da entidade, acabou não acontecendo.
Primeiramente, o setor de Compliance do Rio-2016 emitiu um parecer favorável ao pagamento ao advogado de Nuzman. O caso então foi para o Conselho Diretor do Rio-2016, formado por seis pessoas, incluindo o próprio Nuzman, e que tem a prerrogativa de ordenar as contratações. No dia 27 de setembro, o Conselho aprovou, por maioria, a contratação do advogado, com a ressalva de que seria necessário encomendar, como precaução, um parecer jurídico externo ao comitê avalizando a contratação.
Advogados consultados teriam recomendado não pagar pelo advogado de Nuzman, e a contratação do escritório de Nélio Machado acabou não ocorrendo. A tentativa do dirigente de usar o Rio-2016 - entidade que recebeu dinheiro público para organizar os Jogos e encontra-se endividade -, porém, já foi considerada suficiente pelos procuradores para requerer a prisão preventiva do dirigente.
O advogado Nélio Machado confirma que não recebeu do Comitê Rio-2016, mas conta a história com detalhes diferentes. Segundo Machado, ao tomar conhecimento de que a contratação de seu escritório sofreu a objeção de dois votos no Conselho Direito do Rio-2016, partiu dele a decisão de não cobrar pela defesa de Nuzman.
- Eu já era advogado do Rio-2016, trabalhei em um caso sobre as contas do Comitê, e defenderia o Nuzman como qualquer outro funcionário. Quando soube que houve dois votos contra no Conselho, eu mandei cancelar a nota fiscal. Faço questão de defender o Nuzman por solidariedade, como causa humanitária, porque esta prisão é um absurdo. Tenho mais de 40 anos de profissão e sou obrigado a ter um pedido de honorários revelado por pura descautela do MP e do juiz - diz o advogado. - Não existe o crime de corrupção passiva no Brasil; o crime de organização criminosa está na lei desde 2013, e os fatos teriam sido anteriores a isso; e não há lavagem, as pessoas têm direito de fazer a retificação do imposto de renda, é a lei.
Além de Nuzman, formam o Conselho Diretor do Rio-2016 o ex-jogador de vôlei e membro do Comitê Olímpico Internacional (COI) Bernard Razman; Edson Menezes, ex-presidente da Bolsa de Valores do Rio e também diretor financeiro do COB; o banqueiro Manoel Cintra, do Banco Indusval; o empresário Josa Nascimento Brito; e Luiza Trajano, dona da rede Magazine Luiza.

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