Irã simula bloqueio de estreito crucial para o petróleo
Teerã mantém tom desafiador ao Ocidente e diz ter testado mísseis de longo alcance
O Globo
TEERÃ - O Irã anunciou nesta segunda-feira ter testado com sucesso mísseis de cruzeiro que diz serem de longo alcance, mas que, nos padrões ocidentais, estão distantes de se encaixarem em tal classificação. Os projéteis são, no entanto, suficientes para monitorar o crucial Estreito de Ormuz, cujo bloqueio foi simulado dentro dos exercícios militares no Golfo Pérsico e que pode elevar a renovada tensão com o Ocidente.
Nos últimos dias, EUA e Irã trocaram acusações sobre o estreito, considerado pelo próprio governo americano como a mais importante rota mundial do petróleo. Teerã diz que vai fechar o canal caso, por conta de seu programa nuclear, seja alvo de novas sanções do Ocidente. Washington, por sua vez, já deixou claro que não vai aceitar uma interrupção na rota.
- O Estreito de Ormuz está totalmente sob o nosso controle. Não permitiremos que nenhum inimigo ameace nossos interesses - declarou o comandante da Marinha iraniana, Habibolá Sayyari. - Não foi dada a ordem para fechá-lo, mas estamos preparados para vários cenários.
O Irã tem mísseis com capacidade de atingir Israel, como o Sajjil-2, de 2.400Km de alcance. Mas, levando em conta os dados já divulgados pelo governo iraniano, os testados nesta segunda-feira - Qader e Nour - podem alcançar apenas 200Km de distância.
Para a Agência de Defesa antimísseis dos EUA, foguetes de longo alcance têm que ter capacidade para atingir um alvo a pelo menos 5.500Km. O Irã fica a cerca de 220Km em seu ponto mais perto do Bahrein, onde está baseada a Quinta Frota dos Estados Unidos, e a cerca de 1000Km de Israel.
- Nós testamos com sucesso hoje mísseis de longo alcance terra-mar e terra-ar, chamados de Qader (Capaz) e Nour (Luz) - afirmou o vice-comandante da Marinha, Mahmoud Mousavi, na televisão estatal.
Analistas dizem que a crescente retórica estridente do Irã, que provocou uma alta no preço do petróleo, visa a enviar ao Ocidente a mensagem de que deveria pensar duas vezes sobre o custo econômico de pressionar ainda mais o país.
O Irã nega as acusações ocidentais de que esteja tentando construir bombas atômicas, e diz que precisa da tecnologia nuclear para gerar eletricidade. EUA e Israel não descartam a possibilidade de usar ação militar contra o Irã se a diplomacia falhar para resolver o impasse nuclear da República Islâmica com o Ocidente.
Reação israelense
Israel minimizou o impacto do anúncio do Irã, dizendo que as forças de Teerã não eram páreo para as do Ocidente no Golfo.
O vice-primeiro-ministro e também ministro de assuntos estratégicos Moshe Yaalon disse à Rádio Israel que os exercícios refletiam a preocupação do Irã com as sanções para conter suas ambições nucleares, e seus esforços para sugerir que suas forças navais eram páreo para as ocidentais, lideradas pelos EUA, no Golfo Pérsico.
Sobre esse ponto, Yaalon minimizou o poderio iraniano: - Realmente, essa nem poderia ser chamada de uma briga justa entre dois lados.
Ele repetiu o pedido de Israel de sanções econômicas mais duras contra o Irã, acompanhadas por uma "opção militar crível como último recurso".
A União Europeia está estudando seguir os Estados Unidos na proibição de importação do petróleo bruto iraniano. O presidente americano, Barack Obama, aprovou novas sanções contra o Irã no sábado, aumentando a pressão sobre instituições financeiras que lidam com o banco central do Irã.
Se aplicadas de forma rigorosas, as sanções tornariam praticamente impossível para a maior parte das refinarias comprarem petróleo bruto do Irã, o quarto maior produtor mundial.
Com sanções, moeda despenca
A moeda iraniana, o rial, caiu mais de 10% em menos de uma semana, desde que os Estados Unidos apertaram as sanções financeiras ao país. Um dólar equivale, nesta segunda-feira, a 16.800 riais, quando no ano passado a equivalência estava em 10.500.
A queda dos últimos dias está relacionada às sanções anunciadas contra o Banco Central iraniano. Além disso, o presidente Barack Obama assinou uma medida que deve dificultar a negociação do petróleo do país.
Temendo problemas de liquidez e evasão da moeda, o Irã tem limitado os saques em dinheiro e só permite que viajantes levem ao exterior até US$ 2 mil por ano.
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