A mão visível
Impasse no preço da gasolina mostra os efeitos adversos do excesso de intervenção estatal; reduzir gasto público seria caminho mais indicado
FSP
O ativismo estatal na economia, em voga após a crise global de 2008, mostra-se ao mesmo tempo inevitável e insuficiente. Inevitável porque a alternativa -livre jogo das forças de mercado- teria levado ao abismo da depressão.
A insuficiência se demonstra pela demora da retomada, pelo esgotamento do cardápio de medidas à mão das autoridades e pelas sequelas do tratamento -seus efeitos imprevistos e indesejados.
No Brasil, o governo Dilma Rousseff vê-se encalacrado com as reações adversas de medidas intervencionistas bem intencionadas. Em razão disso, a Petrobras, por exemplo, atravessa uma preocupante crise de confiança.
A estatal precisa investir para assegurar o suprimento de petróleo cantado pelos propagandistas da autossuficiência -uma "façanha" anunciada em 2006, mas perdida logo a seguir- e das maravilhas do chamado pré-sal.
O Planalto, entretanto, estrangula o caixa da companhia, postergando seguidamente o repasse para o consumidor da elevação internacional dos preços do petróleo. O reajuste da gasolina virá, talvez em 2013, diz agora o governo.
O Executivo quer evitar que a gasolina mais cara repercuta na inflação, pois o controle ortodoxo de preços via taxa de juros foi flexibilizado, para baixar o custo do crédito. Juros mais baixos também facilitam o objetivo do governo de evitar a valorização do real em relação ao dólar -desestimulam a entrada de dinheiro estrangeiro no Brasil destinado a aplicações financeiras.
Adianta pouco ter o real desvalorizado se a contrapartida for inflação alta, ou em elevação. Parte do que o câmbio entrega com uma mão -o ambiente mais favorável a exportadores e industriais-, a inflação tira com a outra, ao encarecer o custo de produzir aqui.
A Petrobras, em suma, investe menos que o desejável porque o governo impede o reajuste da gasolina. Esse aumento não é concedido para evitar alta geral de preços.
A inflação tem de ser controlada por vias menos usuais para viabilizar o objetivo de adotar juros menores e câmbio competitivo. Sem acelerar investimentos -a Petrobras é a maior investidora brasileira-, o país não elevará a marcha do crescimento econômico.
Tanto ativismo interventor redunda, afinal, em frustração.
O governo federal ajudaria bem mais se priorizasse a tarefa de reduzir as despesas públicas como proporção do PIB. Essa medida viria facilitar seja o arranque dos investimentos, seja uma redução geral de tributos, seja o controle da inflação. Eis uma intervenção do governo, em seus próprios gastos, de suma importância para o Brasil.
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