Empresa aérea tira do ar os 6 Boeings da companhia que comprara em 2011; passageiros serão realocados
Em crise, Gol corta custos e reduz oferta de voos; no curto prazo, impacto é ruim para o consumidor, diz analista
MARIANA BARBOSA - FSPEm crise, Gol corta custos e reduz oferta de voos; no curto prazo, impacto é ruim para o consumidor, diz analista
A Gol anunciou ontem o fim da Webjet e a demissão de 850 dos 1.500 funcionários da companhia, adquirida em julho do ano passado.
Desde a 0h de ontem, os seis Boeings-737/300 pintados com a cor verde da Webjet e que ainda estavam em operação pararam de voar. O fim da Webjet era esperado e até previsto pelo Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), quando o órgão de defesa da concorrência autorizou a operação, em outubro.
Com prejuízo acumulado de R$ 1,06 bilhão até setembro, a empresa já havia eliminado, no início do ano, outras 2.000 vagas na própria Gol.
Entre os demitidos de ontem, estão 143 pilotos e 400 comissários.
A tripulação de um voo que voltava do Sul para o Rio na noite de quinta-feira soube que a empresa iria acabar em pleno ar. Nervosos, os tripulantes iniciaram os procedimentos de pouso.
A Gol informou que passageiros com bilhete da Webjet estão sendo remanejados para voos da Gol.
Os trechos da Webjet serão realizados com os aviões da Gol (128 jatos 737/700 e 800), que são maiores, mais novos e consomem menos querosene. O combustível é uma das principais causas do prejuízo da companhia e já representa 46% dos custos.
"A atual taxa de ocupação da Gol nos permite absorver 100% dos passageiros da Webjet nos mesmos destinos e horários", diz Paulo Sérgio Kakinoff, presidente da Gol. Em outubro, a Gol voou com 30% dos assentos vazios.
Não houve tumultos nos aeroportos. Em Guarulhos, por falta de informação, alguns passageiros que não haviam sido avisados foram para o Terminal 4, onde a Webjet operava.
Cerca de 45 de um total de 136 voos que eram realizados diariamente pela Webjet foram eliminados. A Gol diz que não houve redução de frequências ou horários e que os voos eliminados foram aqueles em que as empresas operavam em horários similares.
INTEGRAÇÃO
A integração das malhas e o fim das vendas no site da Webjet começaram no início do mês, pouco depois de o Cade aprovar a operação.
Com a aquisição da Webjet, por R$ 70 milhões, a Gol eliminou um concorrente e aumentou sua participação de mercado em 5%.
Para Guilherme Amaral, especialista em direito aeronáutico do escritório Aidar SBZ Advogados, o fim da Webjet é ruim para o passageiro, mas "previsível".
"Se a Gol não estivesse em uma situação tão ruim, e o mercado, tão desfavorável, talvez ela pudesse manter a marca com um serviço mais simples", diz.
"Nesta hora em que é preciso reduzir oferta para tentar retomar a lucratividade, não faz sentido manter uma frota mais antiga e rotas em que ela competia com ela mesma."
CONSUMIDOR
Para Lucas Arruda, sócio da consultoria em aviação Lunica, embora a medida possa resultar em tarifas maiores no curto prazo, no médio e longo prazo será benéfica para o consumidor, pois o mercado contará com empresas mais fortes e mais saudáveis.
"A Gol está em uma situação ruim, e, para se manter competitiva e enfrentar a TAM e a Azul, precisou comprar participação", diz ele.
Segundo o consultor, a pressão por aumento de tarifas se dá não só pela redução de um concorrente mas também pela redução da oferta.
Ontem, a Gol anunciou que vai reduzir a malha em mais 5% a 8% dentro de 40 dias. Em 2012, o corte deve ficar em 4,5%. A TAM também anunciou redução de oferta para 2013, em 7%.
O advogado Ricardo Inglez de Souza, especialista em defesa da concorrência, diz que a concentração econômica já estava dada. "Ela não aconteceu agora, com o fim da marca, mas quando a Gol comprou a Webjet."
O professor de transporte aéreo da USP Jorge Leal Medeiros culpa o governo por não ter imposto condições para aprovar o negócio. "É uma lástima que o governo tenha permitido que a única "low cost" do país desapareça sem pedir garantia de empregos."
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