segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Desastres e recuperação na Itália
Celestine Bohlen - IHT
O terremoto devastador de 2009 na cidade de L'Aquila no centro da Itália esteve estranhamente de volta ao noticiário na semana passada quando seis cientistas e um burocrata foram condenados a seis anos de prisão por não alertar sobre o que até mesmo as empresas de seguros chamam de um “ato de Deus”.
"Aqui, nunca esperávamos um terremoto", disse Biagio Oppi, morador de Cento cuja casa da família sofreu danos entre US$ 39 mil e US$ 52 mil. “As inundações, talvez, mas terremotos – não, nunca."
Há muitas diferenças entre as duas catástrofes naturais, começando com a escala e a localização.

Mais de 300 pessoas morreram em L'Aquila, agora praticamente uma cidade fantasma na região montanhosa de Abruzzo, com uma longa história de terremotos, enquanto apenas 27 pessoas morreram nos terremotos que atingiram, o norte da Itália, primeiro em 20 de maio e depois em 29 de maio. Eles atingiram um dos centros industriais mais ricos da Itália, uma zona que se estende desde Bolonha até Modena e Ferrara, que fabrica alguns dos produtos mais famosos do país, incluindo o queijo parmesão e os carros Lamborghini e Ferrari, e é responsável por 1,8% do produto interno bruto.
O contraste principal reside na resposta ao desastre, que se define tanto pelo tempo quanto pelo lugar. O terremoto em L'Aquila aconteceu há três anos. Ele foi naquela época, e agora a Itália está diante de uma aguda crise financeira que apertou os orçamentos do governo, nacional e local, e os de seus cidadãos.
"Entendemos agora que a situação na Itália está mais difícil", disse Oppi, 36 anos, diretor de comunicações da Gambro, uma empresa biomédica da Suécia, que emprega mil pessoas na área.
Já não existem mais as promessas sem fim que antes caracterizavam o alívio aos desastres na Itália, e que por sua vez levaram a escândalos espetaculares, como o que se seguiu ao terremoto de 1980 em Irpinia, perto de Nápoles, quando o equivalente a US$ 35 bilhões foram gastos em projetos que nunca foram acabados – parte disso em prédios que nem haviam sido danificados e em mansões pertencentes a funcionários locais.
Este mês, a Comissão Europeia abriu uma investigação sobre a história recente de ajuda em desastres na Itália, citando especificamente as reduções de impostos entre 50% e 90% concedidas a empresas "sem estabelecer uma ligação direta com um desastre natural específico ou uma correlação com a quantidade de dano efetivo sofrido.”
Esses dias acabaram, de acordo com Vasco Errani, presidente da região de Emilia-Romana e coordenador do programa de reconstrução e alívio para as 757 mil pessoas e 65 mil empresas afetadas pelos terremotos gêmeos em maio passado.
"Por isso, quero ser bem claro", disse Errani em comentários públicos em agosto. "Será difícil, mas precisamos demonstrar que ninguém vai ganhar dinheiro com o terremoto, nenhum único cidadão, empresário ou prefeitura.”
Moradores afetados pelo terremoto, cujo pagamento de impostos foi suspenso desde junho, serão obrigados a começar a pagá-los novamente em junho próximo, sem juros e com atraso, de acordo com Stefano Bellentani, porta-voz do Departamento de Economia da região de Emilia-Romana.
Em outro sinal dos tempos, o valor dos impostos será maior do que nos anos anteriores, levando em conta os aumentos de impostos sobre a propriedade que estão entrando em vigor em toda a Itália, após uma reavaliação em todo o país, em alguns casos de mais 50%.
Outra medida, designada para ter um maior controle, exige que os pagamentos para a ajuda à reconstrução passem pelos bancos locais, em vez de pelas agências estatais. Os requerentes são obrigados a apresentar estimativas depois que os inspetores estabeleceram os níveis dos danos.
Isto significou uma desaceleração na entrega da ajuda, e é por isso que os moradores estão reclamando aqui, olhando com inveja para os pagamentos mais rápidos e reduções fiscais mais generosos disponíveis em L'Aquila.
"As pessoas ainda estão esperando, e elas sabem que, em L'Aquila, as pessoas receberam 10 vezes mais", disse Oppi.
Gambro, que sofreu cerca de 50 milhões de euros em prejuízos, já voltou a trabalhar. Sua fábrica parcialmente destruída em Medolla, a apenas a 500 metros, ou 1.600 pés, do epicentro do segundo terremoto, foi transferida para três locais temporários, e o estado deve pagar 80% dos custos de reconstrução depois que o seguro for pago. 

No centro de Cento, a cerca de 30 quilômetros de Bolonha, as ruas ainda estão bloqueadas, andaimes de madeira foram colocados para segurar fachadas, e guindastes estão prontos para o trabalho nas torres da igreja.
Na Breakfast at Tiffany's, uma cafeteria na praça principal, o proprietário, Roberto Christopheri, lamenta a lentidão da burocracia italiana.
"Nós não tivemos tantos danos, mas o andaime reduziu nossos negócios em 70%", disse ele. “Então simplesmente temos de arregaçar as mangas. É tudo o que podemos fazer.”
Na fábrica de Gambro, os funcionários contribuíram com 300 euros para um fundo para ajudar 35 colegas de trabalho cujas casas foram destruídas pelo terremoto.
"Agora chegou a hora de as pessoas reconstruírem o mais rápido que puderem", disse Bellentani.

Tradutor: Eloise De Vylder    

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