A reconstrução da política econômica
Rogério Werneck - OESP
O melancólico apagar das
luzes do atual mandato presidencial vem surpreendendo até mesmo quem
jamais escondeu seu pessimismo sobre as possibilidades do governo Dilma
Rousseff. O desempenho da economia deteriora-se a cada dia. Na esteira
de um colapso na confiança de consumidores e investidores, o nível de
atividade praticamente estagnou no primeiro trimestre. E está em queda
no trimestre em curso. Já se estima que o crescimento do PIB em 2014 não
chegue a 1,5%. O que deixaria a taxa anual média de crescimento da
economia no governo Dilma Rousseff abaixo de 1,9%.
Apesar desse
crescimento pífio, o quadro inflacionário segue preocupante. A inflação
em 12 meses está prestes a ultrapassar o teto de tolerância da meta.
Inflação de 7,5%, em 2015, em decorrência da inevitável descompressão de
preços administrados que ocorrerá depois das eleições, é o que agora
prevê um dos principais responsáveis pela desastrosa pajelança
ministrada ao País sob o rótulo de "nova matriz macroeconômica"
(entrevista de Nelson Barbosa, O Estado de S. Paulo, 29/5).
É bom
não ter ilusões sobre a herança amarga com que terá de arcar o novo
governo. Há pela frente uma complexa agenda de reconstrução da política
econômica. E, dessa perspectiva, o cenário de reeleição da presidente só
pode ser visto com enorme desalento. O governo mostra-se completamente
despreparado para fazer o que precisa ser feito. Insiste em negar a
necessidade de mudanças na política econômica. E, agarrando-se a um
discurso primitivo e populista, que marca retrocesso de pelo menos 20
anos no debate econômico do País, vem denunciando qualquer proposta de
mudança como defesa de arrocho salarial e desemprego.
A análise
do cenário alternativo, de vitória da oposição na eleição presidencial,
permite vislumbrar com mais clareza a agenda de reconstrução da política
econômica que terá de ser enfrentada em 2015. É bom notar que, em meio
às muitas dificuldades, haveria amplo espaço para uma colheita fácil de
resultados iniciais importantes, com o anúncio de medidas que possam dar
lugar ao choque de credibilidade que há muito tempo se faz necessário
na condução da política econômica.
A simples nomeação de uma
equipe econômica respeitável, que soubesse manter um discurso coerente e
fosse capaz de restabelecer a sintonia entre as atuações da Fazenda e
do Banco Central (BC), já faria grande diferença. Na área fiscal, a
restauração da credibilidade do registro das contas públicas seria um
grande avanço. Bastaria um anúncio singelo de encerramento definitivo do
festival de truques contábeis que vêm pautando a política fiscal.
Naturalmente, isso exigiria a desmontagem do gigantesco orçamento
paralelo que, há muitos anos, o governo vem alegremente mantendo no
BNDES.
A condução da política econômica em novas bases, aliada à
percepção de efetivo compromisso do novo governo com a manutenção de
regras estáveis, agências reguladoras bem tripuladas e postura desarmada
em relação ao papel do capital privado na expansão da infraestrutura,
poderia engendrar vigorosa recuperação dos investimentos e do nível de
atividade.
Depois de todo um mandato presidencial em que as
autoridades monetárias se permitiram manter a inflação muito acima da
meta, reancorar as expectativas inflacionárias deverá exigir bem mais do
que a simples nomeação de uma diretoria competente para o BC. Em meio à
necessidade de reajustar preços administrados represados, é bem
provável que o novo Banco Central leve algum tempo para fazer a inflação
convergir para a meta, mesmo que se mostre convincentemente
comprometido com esse objetivo.
Tudo isso seria só o começo: a
reconstrução institucional preliminar que, em seguida, permitiria
reabrir uma agenda mais ambiciosa de medidas que possam destravar o
crescimento econômico do País. Uma agenda que desapareceu de cena há
anos.
É essa possibilidade de ampliar as perspectivas de expansão da economia que estará em jogo na eleição de outubro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário