domingo, 1 de junho de 2014

Historiador distribui placas pelos EUA para homenagear lugares e pessoas "marcantes"
Colin Moynihan - NYT
Não faltam locais históricos formalmente reconhecidos na cidade, mas ao longo das últimas semanas ela ganhou alguns marcos não-oficiais: placas douradas pagas e entregues por um homem de 44 anos que viajou pelo país para celebrar pessoas e lugares negligenciados que têm algum significado nacional, especialmente aqueles ligados às realidades da vida contemporânea.
O homem, Andrew Carroll, escritor e historiador que dá aulas na Universidade Chapman, na Califórnia, viajou para o Cemitério Cypress Hills no Brooklyn, na manhã de quinta-feira (22), para marcar o local onde foi enterrado o dr. Thomas Holmes, um médico que é considerado o pai do embalsamamento americano. Holmes ganhou um certo renome há mais de 150 anos quando aperfeiçoou uma técnica que foi usada para preservar os corpos de milhares de soldados que morreram durante a Guerra Civil.
No carro, em direção ao mausoléu onde os restos de Holmes estão enterrados, Carroll explicou que tinha pesquisado recentemente sobre uma dúzia de lugares por todo o país que tinham um significado nacional, mas não tinham um reconhecimento oficial. Além disso, acrescentou, ele buscou por feitos ou acontecimentos que tivessem alguma ressonância nos tempos modernos.
"Gosto de histórias que têm impacto sobre a vida de todos", disse ele. "O embalsamamento é obviamente uma muito importante."
Holmes ganhou atenção pela primeira vez em 1861, quando embalsamou o corpo de Elmer E. Ellsworth, um coronel do exército da União que foi morto por um simpatizante do sul. A história é contada em "This Republica of Suffering: Death and the American Civil War" [literalmente, "Esta República de Sofrimento: A morte e a Guerra Civil Norte-Americana"], de Drew Gilpin Faust, atual presidente da Universidade de Harvard. Durante a guerra, de acordo com o livro, Holmes embalsamou os corpos de mais de 4.000 soldados.
Carroll disse que os métodos usados por Holmes permitiram que os corpos de soldados do norte mortos durante a batalha fossem transportados para seus Estados natais para lá serem enterrados. Uma matéria do "New York Times" de 3 de novembro de 1861 informou que Holmes havia embalsamado o corpo do coronel E.D. Baker, um militar importante que havia sido assassinado na Virgina e cujo corpo deveria ser removido para a Califórnia.
"O processo de embalsamar era dificultado em muito por causa da condição danificada do corpo, cuja inspeção verificou oito ferimentos aparentes", dizia a matéria, acrescentando que, depois do embalsamamento, o corpo de Baker "estava deitado no caixão, não como um corpo pálido e fantasmagórico, mas parecia tão vivo como se o tivéssemos visto no auge da saúde".
Carroll disse que ficou sabendo de Holmes quando pesquisou outro homem a quem ele reconheceu com uma placa: Henry Laurens, a primeira pessoa nos Estados Unidos a requisitar a cremação.
Ele também está designando um local em Miles City, Montana, ligado a Maurice R. Hilleman, um microbiólogo que foi pioneiro em três dúzias de vacinas, incluindo as de sarampo, meningite, caxumba e pneumonia. Há também uma homenagem planejada para o dormitório North Hall da Universidade de Wisconsin, Madison, onde o naturalista John Muir relatou ter tido a epifania que o inspirou a se aventurar pela natureza. Esta experiência eventualmente levou Muir a fundar o Sierra Club e mais tarde à criação do moderno movimento ambientalista.
Também há planos em andamento para colocar uma placa nas Long Barracks da Missão Álamo em San Antonio para reconhecer Adina Emilia De Zavala, que se fechou com barricadas no Alamo em 1908 para impedir que partes do local fossem destruídas e para galvanizar outras campanhas de preservação.
No início deste mês, Carroll entregou uma placa ao New York Hilton em Manhattan, local onde aconteceu uma entrevista coletiva logo após a primeira ligação de telefone celular, feita ali perto, em 1973, por Marty Cooper. Cooper havia se inspirado no pequeno rádio de pulso usado pelo personagem de quadrinhos Dick Tracy, mas acabou criando um aparelho retangular de 4,5 quilos, conhecido por alguns como o telefone-tijolo.
Falando de seu celular na Califórnia, Cooper disse que lembrava-se bem daquele dia, em grande parte porque havia sido quase atropelado enquanto atravessava a rua usando sua invenção.
"Eu quase fui atingido por um táxi", disse. "Isso teria sido um acontecimento histórico, a primeira pessoa morta enquanto falava em um telefone celular."
Nem todas as pessoas abordadas por Carroll foram tão abertas para receber uma de suas placas. Ele disse que tem visitado a loja no Harlem onde o reverendo Martin Luther King Jr. foi esfaqueado em 1958, mas vem sendo rejeitado pelos donos atuais do local.
Mas, Anthony Desmond, vice-presidente para vendas e administração de Cypress Hills, onde figuras como Jackie Robinson e Piet Mondrian estão enterrados, disse que ficou imediatamente cativado pelo plano de Carroll para homenagear Holmes.
"Nós certamente apoiamos o fato de encontrar pessoas significativas na história que estão enterradas aqui", disse ele.
Pouco tempo depois, Desmond e Carroll estavam em frente ao lugar de descanso de Holmes, um mausoléu de tijolos construído ao lado de um morro íngreme. Os dois fixaram uma placa com uma breve biografia em um banco fora do mausoléu, depois deram um passo atrás e a observaram.
Então, Carroll pesquisou as fileiras de túmulos que se estendiam pelo cemitério.
"Antes você poderia passar direto por este mausoléu", disse ele. "E jamais saberia que Holmes foi o cara que influenciou a forma como tantas pessoa que estão enterradas aqui foram lembradas e homenageadas."

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