quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

A dupla incompetência de Haddad: nem zela nem planeja
Reinaldo Azevedo - VEJA
Se os paulistanos querem morar num lugar bancada, devem escolher a São Paulo que existe no discurso do prefeito Fernando Haddad (PT), o Supercoxinha que segue sendo o preferido das redações. Basta que ele faça uma faixa em “x” no Centro para ser tratado como um Schopenhauer. Chega a ser patético. No domingo, aniversário da cidade, ele escreveu um artigo para a Folha. O homem do aposentado “Arco do Futuro” agora se dedica ao “Caminho para o futuro”. É preciso ler para crer. O que não é risível é francamente incompreensível.
O que quer dizer, por exemplo, este trecho: “Na educação, recuperamos a centralidade da escola com o fim da “aprovação automática” e com a instalação de universidades nos CEUs”? Resposta: nada! Há inverdades que insultam os fatos, como esta: “Mesmo com todo o esforço de outros governantes, recebi a administração municipal em 2013 com o prognóstico de quebra financeira, expansão caótica e obsolescência por falta de investimentos.” O prefeito fala de “um projeto habitacional que entregará 55 mil moradias até 2016, algo sem precedente na luta por moradia”. Sem dúvida! Estamos em 2014. Em dois anos, ele entregou apenas 2.700.
Bem, nesta terça, o vereador Andrea Matarazzo (PSDB) contestou na mesma Folha o seu artigo. Segue a íntegra do texto.
Crônica de uma cidade imaginária
Cada vez que leio uma entrevista ou um artigo do prefeito Fernando Haddad fico mais impressionado com seu desconhecimento da vida e dos problemas de São Paulo. No último domingo (25), nesta seção, Haddad escreveu um artigo sobre uma cidade que só ele conhece. Bem distante da São Paulo real, na qual os moradores são diariamente castigados pela incúria da administração.
Haddad afirma que é uma “falsa dialética contrapor a prefeitura-zeladora, que coleta impostos, tapa buracos e recolhe lixo, à prefeitura-planejadora, que inova e olha a cidade do futuro”. Não existe falsa dialética, mas uma dupla incompetência: a prefeitura não cumpre sua função de zelar nem de planejar o futuro.
Mesmo contando com a boa vontade dos críticos, é inegável que Haddad piorou a cidade. Ele a recebeu após as gestões José Serra (2004-06) e Gilberto Kassab (2006-12) com R$ 885 milhões de superávit, além de um amplo acervo de obras concluídas nas áreas de saúde, educação e infraestrutura. Até agora, Haddad nada de positivo criou.
O prefeito insiste em dizer que precisa disputar palmo a palmo a versão dos fatos, mas os fatos insistem em desmentir as versões. A prefeitura diz que mais de 80% dos dependentes que vivem na cracolândia foram recuperados. Porém, mais de mil pessoas vagam desassistidas como zumbis pela região.
Ele diz que a culpa pela queda recorde de árvores neste verão foi de um vendaval semelhante ao Katrina, mas se esquece de falar da total ausência de manutenção e de podas dos galhos em sua gestão.
O discurso dá menos trabalho do que a prática, mas os fatos são implacáveis. Ao ser empossado, Haddad se comprometeu com 123 metas. Dessas, apenas 16 foram cumpridas. A meta para os primeiros dois anos na saúde era construir 38 UBSs, mas fez apenas quatro.
Na habitação, a promessa era concluir 19 mil casas até a metade do mandato –foram entregues 2.700. Haddad havia prometido construir 243 creches. Contudo, apenas 26 foram concluídas.
O prefeito não “desliza investimentos”, ele os engaveta por inépcia ou por inviabilidade.
As finanças foram comprometidas. O superávit herdado já virou déficit. Nos últimos dois anos, Haddad gastou mais do que arrecadou. A tão celebrada renegociação da dívida com a União, que o prefeito pinta como mérito exclusivo dele, é um processo que vem desde a administração Kassab.
O prefeito, que não conhece São Paulo, insiste em compará-la a Nova York, o que demonstra desconhecimento de ambas. Ao citar Janette Sadik-Khan, ex-chefe do departamento de trânsito de Nova York, ele omitiu um fato essencial: ela apenas alcançou bons resultados na implantação de ciclovias depois de discutir com toda a sociedade.
Em entrevista a esta Folha, ela explicou que organizou 2.000 encontros por ano, durante seis anos, para definir rotas –enquanto por aqui tudo é feito no afogadilho.
O prefeito quer dar a impressão de “moderninho descolado” quando fala de grafites, wi-fi e micropraças, mas continua esquecendo o sofrimento dos que vivem na periferia, onde os programas de habitação, limpeza de córregos e do sistema de drenagem não saem do discurso.
No artigo de domingo, o prefeito já preparou a desculpa pela falta de resultados –os ” tempos sofridos”. Se quisesse ser mesmo solidário, deveria gastar a verba de publicidade da prefeitura em campanhas esclarecedoras de como poupar energia elétrica e água, em vez de mostrar uma cidade que não existe.
O verdadeiro furacão que passa por São Paulo é a atual gestão municipal, que está devastando a cidade, a despeito das palavras moderninhas de Haddad e de sua gestão “protossocialista” — como disse a secretária de Planejamento de Haddad, Leda Paulani, que, de cidade, só conhece a universitária.

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