sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Disputa interna divide militantes alemães anti-islã 
Em uma semana, Pegida fica sem líder pela segunda vez
Luis Doncel - El País
John MacDougal/AFP Photo
Simpatizantes do movimento Pegida protestam na praça do Teatro, em Dresden Simpatizantes do movimento Pegida protestam na praça do Teatro, em Dresden
Eles apareceram da noite para o dia e ocuparam o centro de atenção da política alemã. O movimento islamófobo Pegida conseguiu reunir em sua convocação mais numerosa 25 mil pessoas na cidade de Dresden e atraiu a atenção --e as críticas-- de toda a classe política do país, começando por seu presidente, Joachim Gauck, e sua chefe de governo, Angela Merkel. Mas, na última semana, não para de acumular más notícias.
Os autodenominados Patriotas Europeus contra a Islamização do Ocidente tiveram primeiro que cancelar sua marcha por causa de uma ameaça terrorista após os atentados de Paris; poucos dias depois, demitiu-se seu líder e fundador, Lutz Bachmann. A convocação seguinte não cobriu as expectativas de participação. Agora, apenas uma semana após a queda de Bachmann, demitem sua sucessora, Kathrin Oertel, e outros quatro membros da cúpula.
"Kathrin se demitiu do cargo depois de ser alvo de assédio maciço e ameaças, e de sofrer preconceitos em seu trabalho. Sacrificou-se por nós", indicou ontem o Pegida no Facebook. Também anunciam o cancelamento da manifestação prevista para a próxima segunda-feira, 2 de fevereiro, embora confirmem a convocação da semana seguinte.
Oertel, que há poucos dias teve seu momento de glória ao aparecer em um debate na televisão pública que foi assistido por mais de 5 milhões de alemães, deixa o Pegida depois que seu fundador foi obrigado a se demitir devido à publicação de uma fotografia na qual imitava Adolf Hitler e de alguns comentários nos quais descrevia os solicitantes de asilo como "gado".
O Pegida atribui a demissão de seu líder a ameaças, mas outras fontes apontam que, na realidade, o movimento obedece a lutas internas. Rene Jahn, um dos membros do Pegida que se demitiu, explicou ao jornal "Bild" que a mudança se deve ao fato de que o antigo líder quer continuar dirigindo a organização, apesar de ter-se desvinculado oficialmente dela. A briga interna também se explica pela relação de Bachmann e seus seguidores com a filial do Pegida em Leipzig, ainda mais radical que a de seus colegas de Dresden. A revista "Stern", a primeira que informou sobre a saída de Oertel, também aponta Bachmann como a verdadeira causa da crise.
Apesar das disputas internas, está em aberto o que acontecerá com um movimento que mostrou ao estrangeiro uma face desagradável da Alemanha, sobretudo porque as pesquisas mostram que uma parte importante da população compartilha os preconceitos contra o islã. O número dois do governo e líder dos social-democratas, Sigmar Gabriel, protagonizou na semana passada uma polêmica ao viajar a Grécia para se encontrar com alguns simpatizantes do Pegida. "Temos que ficar mais em contato com as pessoas", disse Gabriel, que foi ao debate "a título particular".  
Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves

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